Blog da Liz de Sá Cavalcante

Consigo respirar sem me desesperar?

O respirar alimenta a alma, deixando a alma mutilada. A surdez se faz ouvir mais do que a voz na presença da vida. Ouvir é me magoar. O apelo da alma é que eu continue viva, como uma vertigem. Vertigem pode ser amor, que mantém a alma, que respira, vive, ama, por mim. Respirar me faz não saber como me sinto. Tira de mim a alma que não possuo, como uma forma de me abençoar, para o céu ser minha única realidade e eu partir sem mim.

Quando não houver voz, olhar para a luz

Quando não houver voz, olhar para a luz, fazer da voz um pensamento interior, que substitua a fala. Alma triste, para ter vida tranquila. Como abraçar o nada apenas em ser triste, sentir-me viva em ti. A alma ressoa meu ser sem respirá-lo, repete o meu respirar com o seu amor. Dor, quero ver teu olhar dentro de mim, como um aparecer mais vazio do que qualquer aparência. A aparência de ser nasce depois de ser. Tiro a alma da morte na luz que se apaga. O tempo é superficial para a alma. A alma é superficial para o tempo. E a superficialidade é a alma e o tempo juntos, unidos, para morrerem por mim.

Vivo pela alma que não tive por sofrer

Nenhuma palavra ou poesia me faz feliz como a alma no silêncio. Nem existir me faz ter alma. A plenitude é me abandonar na alma, onde qualquer lembrança é uma alegria, mesmo ela sendo um desastre para o amor. As lembranças verdadeiras têm alma. A vida é distante da alma. A palavra, perto da alma. É contra Deus amar com alma? Como vou saber se amo com alma, a sangrar de amor? A alma não tem valor algum. Ao menos, o meu esquecer é meu. A alma fica na sombra do meu esquecer, nunca darei à alma o meu amor, que é o meu esquecer. Apenas esse esquecer pode esquecer amando.

Desapego

Este desapego da alma é minha alma, assim não me aborreço com apegos inúteis, mais desnecessários do que amanhecer. Os meus lamentos riem de mim. O sonho é o apego do ser. Neste sonho, o ser se desapega de ser, apega-se à morte. Desapegar-me é a plenitude. A alma é pura quando morre, quando não posso me desapegar dela. A subjetividade é uma forma de esquecer. Não sei o que eu sinto. Apenas o esquecimento é mais eterno que a vida. Não vou esquecer pela eternidade, vou esquecer por mim, assim não serei mais só, serei eu.

Nada muda

Nada mudaria o silêncio da monotonia. A monotonia pousa no silêncio, como um amor que não foi perdido, está onde sempre esteve: no acolhimento silencioso de ser, existindo em ser, dentro da poesia, fora de mim. A poesia é o silêncio infinito, de onde nada surge, mesmo sem vazio. O vazio é a certeza do amor, mesmo no seu fim. Será amor uma ilusão? A ilusão, verdade da alma, que satisfez a morte. A ilusão é a vida do nada. Perder o nada numa ilusão é nada perder. Deixe-me sentir o vazio como perda. A perda não é de ninguém, é dela mesma, contra os ganhos da perda. Tudo tenho nas perdas, menos as perdas. As perdas não são minhas, são das ilusões, onde perder é uma perda de ilusão. O sol é a ilusão de quem vive, a noite é a ilusão de quem morre. A vida suspende a alma na morte. A morte é não esquecer. Estudo meu sentir, leio minha alma, como se a perdesse. É apenas a presença do amor na alma que dá a sensação de perder a alma.

Possuir

O desespero não possui morte. Desesperar é não morrer. O possuir é indiferente ao amor, mas não se possui a vida. Nada possuo das minhas vivências, possuo as sensações de algo perdido. Tão perdido, que existe em mim. Basta um coração para amar, para o sofrer se sentir sem coração, dentro da sua alma. Escrever me tira de mim, sem acabar comigo. Aprendi a escrever o mundo com o meu interior. Não há interior sem o mundo. Sem o sofrer, o vazio é eternidade. Quem sabe o que devo aprender? Há o que aprender? Restos de sol amenizam a morte. O sol piora a morte. Luz não acalma o sol. Para desaprender a amar, não é preciso amar, o desgosto ter alma, de um amor imenso, vou me acostumar. O desespero é ter aonde ir.

A negatividade sem relação com a vida

A vida começa e termina sem um único sim. Mesmo assim, a negatividade não tem relação com a vida. A vida não é aceitar o sim e o não, é ter o sim e o não dentro de mim. Tudo que não é sol é alma. O começo do meu corpo torna meu corpo infinito pelo meu fim. Desconheço a vida no seu fim. Elaborar o fim como um começo do mundo. O mundo das almas é o mesmo mundo do ser. É tanto mundo para uma única vida. A vida foi escolhida, como se pudesse ser o mundo. Que mundo posso dar à vida? O mundo do meu amor. Dar-me sem amor é afligir-me. O mundo pode ser a vida. Retornar é nunca partir. Partir é ser até partindo. Levei meu partir comigo, sem ter partido. Apenas o silêncio e a ausência não partiram, por isso não existem mais. Que, um dia, o silêncio possa ser o meu partir. Devolvo as lembranças para as lembranças. O ser de cada um sabe quando morrer e quando ser. A continuação da morte é o ser. O fim é uma forma de amar para sempre, sem deslize, apenas o vazio do fim, entristecendo-me, tornando a vida feliz, como se me faltasse o nada. Falta-me viver. Nem a vida cessa a morte, como se existir necessitasse de um fim. Existir somos todos por amor à vida, somos apenas um, onde nada é esquecido por morrer.

A incompletude da alma

Sonho com a incompletude da alma, como se assim me sentisse melhor. O ser está completo sem alma. Ser ou não ser é o mesmo ser, incapaz de não ser. Tem algo no meu corpo, que não é ser, não é vida, não é morte, é algo no meu corpo que apenas o corpo sente. O infinito é o fim de quem ama.

O aprisionamento de morrer

Aprisionar-me em morrer é pior do que morrer. É como possuir o sol. Sinto-me no olhar de quem morreu, para não me sentir no olhar da morte. Tudo isso para ter meu olhar, que se derrama fragilmente na morte, como um novo olhar. O único morrer é a falta de mim. Apenas pelo medo de mim, do meu sofrer, vejo o sol amigo da vida, do meu sofrer, que é minha vida. Eu deixei o sofrer vazio por mim, de mim. Um só coração não morre, torna-se o encantamento de sofrer. Cuido melhor da vida morta. Morrer aconchega a alma, como se não existisse nós. Apenas a inconsciência não me vê como nada. A inconsciência de mim é a vida, é o amor. A presença da alma no ser é intolerável, é como morrer. Morrer se ama por completo. Mas nada me dirá o que sou. O nunca mais é o sempre. A ilusão do sempre é o fim da realidade. Eu amo o fim como amo a mim.

A negatividade sem o não

O momento é maior do que a vida. A negatividade sem o não é pior que um não, não é jamais um sim. O significado da vida é a morte. A alma não pode me machucar de tão só que eu sou. A vida e o céu são a mesma coisa, o mesmo fim. O não é a vida, o sim é a morte. O abraço fica para sempre na alma sem alma, onde o meu sorrir é a morte indesejada, sem a descontinuidade de viver. O tempo esquece meu amor, assim como esquece ser só. A claridade não deixa caminhos, mas deixa uma saudade boa de mim, sem caminhos para seguir. O não e o sim, origem da vida, despedaçam o céu num encantamento interior, apenas a morte entende e vive como se ainda houvesse o céu.