Blog da Liz de Sá Cavalcante

Tudo deveria terminar em canção

Encerraste meu olhar na tua imagem para cessar minha vida na tua imagem confusa, inerte, só. A morte não é só como a tua imagem. Não sou o fim da tua imagem. Eu nasci da tua imagem, que ela permaneça em mim, mesmo sem nada dizer. Tudo deveria terminar em canção, como uma imagem perdida, sem amor, de onde vejo o silêncio da imagem como um fim em uma canção que criei: a canção da esperança, que enalteceu o fim num amor esplêndido: o de reconhecer que minha vida cessou, tornei-me a música que criei. Eu tornei o meu fim o começo de mim, onde não tenho mais medo de cantar a esperança do fim, sem nada esperar da vida, do fim. Não quero que essa canção se perca no atordoamento humano, que ela deslize em minha voz e eu consiga expressar a beleza da vida no meu amor, que é mais eterno que qualquer canção, é amor. Como seria bom se todo fim tivesse a eternidade do amor, eu iria morrer feliz, como se a canção fosse o silêncio da minha alma, onde as palavras me conquistaram num silêncio de amor. Deixei tua imagem pelas minhas palavras, aprendi a ser eu, sem ser só.

O tempo não esclarece o que vivi só

Pela lembrança, fico em mim. Só, lembrança que não se entrega. A lembrança é uma maneira de ainda viver. Viver para saber se posso te amar. A esperança é uma lágrima descendo por dentro de mim. Mostrar à ilusão que ela não é dona da minha morte. A alma são os dois segundos que faltaram em minha vida. Jamais faltou vida para viver os segundos da alma. Perdi-te, a alma nasceu em mim.

Nada acontece na vida

Quando nada houver, ainda terei a morte. Ao menos, posso chorar a morte, sem a vida que tive. Libertar a alma me faz ser apenas estrela no céu. Chorar minha morte é o espelho do céu. Estou me sentindo na alma a se partir dentro de mim. Não sou digna de sofrer como a alma. Escrevo com o respirar da pele, a se afogar no meu respirar.

Entro dentro da minha alma

Entro dentro da minha alma, para não ser apenas alma: essa é a impenetrabilidade de ser, que me faz ser. Entro dentro da minha alma, isolo o mundo do mundo, é como ter consciência do nada. O amanhecer é a consciência do nada, num sol ensurdecedor. Entro dentro da minha alma, como se eu necessitasse da alma, é apenas uma maneira de me esquecer pela alma. A morte dura no ser, jamais na alma. Pela morte, meu ser se afasta da alma, como se tivesse alma. Apenas a vida tem a morte de um adeus. Entro dentro da minha alma, onde teu adeus é apenas um adeus à minha alma. É fácil viver só, para a minha morte. No corpo ou na alma, a morte é sempre morte. Entro dentro da minha alma, com minha falta de viver. Um dia, esquecerei a morte dentro da minha alma, é a única maneira de sair da alma, de ser só.

Todo meu

O respirar atinge a alma, é um amor que é todo meu. O respirar é todo meu; mesmo deixando de respirar, minha consciência respira por mim. A morte é a presença do ser na presença do ser. Ninguém vê a profundidade do olhar, que se perde na presença de ser.

Se o nada falasse

O nada fala por mim? Se o nada falasse, seria a descoberta do infinito em palavras. Quem é nunca diz ser. Ao falar, o nada demonstra ser alguém, alguém para o que diz. Se o nada fala, eu não preciso falar, como se eu fosse a fala do nada, pelo nada. Renunciando-me pelo que falta em ti, que nem pode ser a fala do nada, que preencheria o meu vazio. O amor não preenche a vida, não quer se afastar de sua morte espiritual, que iria clarear o amor. A escuridão do amor é a essência positiva universal, dando vida ao amor, cessa sua essência. A essência da falta de amor é quando consigo abraçar a mim. Sinto meu abraço, num amor que não é amor, é carência pela ausência de alma. Resignar é não sentir falta de si, mesmo sendo alma. Se o nada falasse, o silêncio seria mais perfeito que a vida. O nada se cala, sem ausência, sem sofrer, sem dor. Pois ele ainda me tem cada vez que me atormento, precisando do nada para escrever, como se o nada fosse meu.

A perfeição do nada

Não posso realizar o que apenas a vida pode realizar, por mim ou pelo nada. A vida nunca aparece, é uma náusea fantasma, que ninguém acredita que eu sinto, mas sinto a vida, como quem ama. Mas nada me fará viver, por mais que eu ame a vida. A perfeição do nada me fez viver a vida com admiração e veneração pela vida. Não há certeza de eu ter sensibilidade, mas ela me faz viver na incerteza, onde sei que não preciso de certeza. A única certeza é todos, tudo que fiz amar. A perfeição do nada é a essência de ser em existir. Mas nem o nada tem o nada do meu corpo, da minha alma. A alma avisa até onde posso ir em ser no nada sem a alma. O nada na alma me faz sentir falta do meu corpo na alma. Nada tem a perfeição do nada, nem mesmo a morte sem alma. Recuperar o corpo, mesmo sem alma, é ter a perfeição do nada como poesia na alma. Essa é a única poesia que eu nunca vou conseguir fazer nascer de mim. Tudo são apenas tentativas, onde sonho escrever, mas, na realidade, estou vazia, como se não existisse a perfeição do nada. Estou só, e a perfeição do nada despreza minha dor. Se o nada me amasse, seria feliz. O tempo é imperfeito, não tem a perfeição do nada. Esse cansaço de alma em mim não é morrer. A tristeza não é uma falta, é ter a mim mesma. O amanhecer não é triste, mas anoitece. O passado do amanhecer é o sol pelo sol. Desafiar o amanhecer é desafiar a morte.

O desamparo das palavras

As palavras não podem ter o vazio do ser, por isso estão desamparadas. Quem cuida da consciência sofre consciente, sofrer inconsciente é morrer. Uma morte que não é consciência, nem inconsciência, é apenas o vazio dentro de mim, onde não estou só. Nada há dentro de mim que me faça viver ou morrer. Sinto as palavras, até sem solidão. Nada é mais só que ter uma companhia ausente como o vazio. Pela ausência do vazio, é que sinto o vazio. O céu, vazio de tanta esperança, é amor. As palavras fazem desaparecer o único instante da vida. Só, o desamparo das palavras são apenas palavras, por isso não podem ser concluídas sem amor. A falta de amor é olhar para o que não existe e ainda tentar transformar em palavras. Como perceber o dentro e o fora de mim? Seria como ficar sem palavras, na presença das palavras. As palavras é ir além do ser, é captar a inexistência pelo amor que sinto. O amor, eu sinto sem perceber, como se ele fosse minha única percepção, acima, superior ao mundo. A palavra não necessita de mim, não me importo, necessito dela, sem ela saber da minha existência, que se mistura nas palavras. As palavras prolongam a minha vida. Eu sem mim ainda seria tanto amor, que não consigo traduzir em palavras. As palavras gastas pelo meu amor não me reconhecem, não me amam mais como antes. A palavra é um ser, que precisa viver como eu. No dia em que a palavra viver, não me importará mais viver, apenas o silêncio perguntará por mim.

A liberdade de ser frágil

A morte veio, como sendo o retorno do tempo. O vento carrega o tempo embora, para o indefinido tempo humano. O tempo não sabe o que é divino e o que é humano. A liberdade da vida é o ser. O amor é um pedaço meu arrancado por nascer. A falta é um ser, que não se libertou de nascer. Meu corpo se divide e diminui com a alma. Venci a alma com a morte, a alma não me faz viver.

As lágrimas do sofrer

Quando o sofrer chora, a tristeza se cala com amor ao sofrer. Cala a tristeza, o ser, nunca a alma. A essência do ser faz o sofrer sofrer. Morri por querer dar um fim ao sofrer. Morri para o sofrer não vencer. Morri me sentindo vitoriosa, feliz. Morri por amor. Essa alegria estrangulada aflige a alma, ao cuidar dela, com as lágrimas do sofrer. Quero que o meu espírito seja meu único momento de vida, com ou sem as lágrimas do sofrer. O instante existe, exige que eu seja o momento de vida para o meu espírito, numa alegria que não é clandestina, é amor!