Dando-me alma, é angústia sem prazer. Nada seria nada se não houvesse morte. É impossível ir além de mim. A morte vai além da morte. O céu é descoberto por uma estrela. A estrela torna-se céu. O céu desfaz-se em estrelas. O sonho é sem estrelas. Nada aprendo com o real. A falta de mim é a única coisa real. Engasgo-me com a vida engolindo a morte. Sonhar, perda de mim. Não há perdas no real. No real sou apenas o que sou. A bondade no ser é sua morte, a bondade da natureza é o vento que espalha saudades para eu uni-las. Vivo disso como se fosse minha única poesia. Amor é falta de presença. O silêncio absorve-se no ser. Não existe eu no meu amor. A poesia é a vida da vida. O céu não vive, escolhe-se. A morte é a autenticidade do amor. Ao morrer, amo ainda mais. Esse amor nunca acaba, mesmo na incerteza de amar, de ser. A poesia para mim é para o mundo. Esse mundo que criei exclui-me. Eu o excluo, fazendo-o nascer de mim. Queria ser o meu nascer. O mar embriaga a saudade – não é amor. Meu coração de estrelas é a constelação do mundo, do meu ser, do meu Universo vazio. É pior morrer leve. Nada traz de volta a quietude do amor. Tomada de mim pelo nada, percebo não ser. Nunca fui. O ser é a vida a sonhar com meu ser. Somente se encontra meu ser depois de morto, de todos os abraços, de todos os amores que não vivi.