Blog da Liz de Sá Cavalcante

Nasce o nascer

Nasce o nascer do nascer com a suavidade da ausência do corpo. O sol é um corpo imortal. Só há um corpo, mas o amanhecer morre no nascer do nascer, que é o espírito, que respira como eu, tem o meu sono como sua alma, por isso não posso dormir, posso apenas me ausentar de mim. A ausência refaz o corpo no espírito. Há espíritos sem almas a vagar perdidos em silêncios profundos, como a noite, como o céu, a fazer pensamentos, onde enfim consigo dormir.

A morte da morte

A morte morre sem estar dentro do ser, pra morrer dentro do ser tem que ser o ser quando a morte morre, nada se ilumina. Há um querer que não é morte, é adeus!

A intimidade da alma sem amor

O que não é eterno na eternidade se faz amor. Acolher o amor é abandoná-lo só. Não posso abandonar o amor no pensamento. A intimidade da alma sem amor é a profundidade do amor. A imagem é falta de consciência de um olhar de uma vida. Se sei o que é conhecer, de que adianta a vida mesmo depois de viver? Estou agora sendo a vida da poesia, onde sou feliz, como se a vida começasse agora e eu pudesse ser um recomeço sem começo. A poesia não é o começo de nada, é ser submissa à falta de mim. O começo de mim era para ser tua alma. Na ilusão de existir alguém, durmo nas palavras, acordo sem palavras, como se a noite fosse o meu amor.

O mistério do corpo é a alma

A alma estagna num pedaço de mim, pode ser meu corpo ou apenas morrer. Há pedaços do corpo sem morte, é a alma. Quero a alma sem recomeços. Não quero nada no céu, cresci sem céu, na janela do saber. Saber pode ser o sonho.

Rompimento de estrelas

As estrelas romperam com minha alma e com minha solidão. Sossega, alma, que sou apenas um rompimento de estrelas. Não te pertenço. Vou desaparecer como uma estrela que se adaptou ao mundo, não a mim. Perco as estrelas, mas não perco minha esperança.

O nada sendo tudo

A relação é o nada, mas o nada é tudo sem se relacionar. Meu amor é minha ausência, ausência que é feliz sem ser um sonho. De que adianta sonhar com a ausência se ela não vem me sentir? O amor não é espírito é o nada sendo tudo. Nada importa ao tudo que nada tem. Eu queria ser o espírito de todos os espíritos. Nada se fez só no espírito. A vontade de ter uma alma é mais do que a alma. O fim da tristeza é o espírito não ter asas. O que não é verdade é o espírito precisar de asas para ser livre. Ninguém pode amar a eternidade, ela é a falta de amor. Nada será como antes, onde o céu era o céu da minha tristeza. O céu fez que eu não reconheça mais tristeza.

Alegria pesa

A alma é o lado obscuro do ser, onde a alegria não pesa. Morri para ver as coisas por dentro de mim. O nada não modifica o amor, modifica a vida. A vida é vazia no meu amor, sem a presença do nada, como uma distância, que de longe foi percorrida, como se soubesse qual o nada da minha vida. A distância destrói a inacessibilidade do nada. O caos é algo que foi cicatrizado, deixando marcas. A ausência pesa sem a lembrança de não te ter.

O amanhecer de estrelas

Deixo meu corpo amanhecer de estrelas, distante do sol, perto do céu. O amanhecer de estrelas é a falta que sinto de mim. Nada me surpreende nas estrelas. A previsibilidade das estrelas é sem céu. Amanheci por mim. Não há espera no adeus. O adeus não é livre das estrelas. Tem adeus para todos, mas não tem estrelas para todos. Repartindo as estrelas em mim, me sinto o céu. Eu sou cada estrela do céu sem lembrar de mim. As estrelas não precisam ser uma lembrança: elas existem de verdade, como se eu pudesse segurar minhas lágrimas como seguro uma estrela. Enfim, só. Enfim, estrela.

Do eterno no nada

Correndo do eterno ao nada, meu coração salta de eternidade em eternidade, onde a morte são os braços da vida, amparando o mar no mar. A imensidão do infinito é a morte. Meu ser procura o meu amor no nada, mas o amor do eterno do nada acaba com a sombra do meu amor. Me sinto sem amor. O amor reage ao tempo da alma, que é ser só, onde se esmaga minha força. Corri como se o infinito fosse correr da morte, em sintonia. Respirar e infinito me fizeram parar, pois ainda não morri. Mas do eterno ao nada tudo desaparece. Para que correr? Para não me assustar, onde o eterno não vai até o nada, me deixando a saudade de mim na minha chegada.

Amor pela esperança

Desprovida do nada, perdendo metade de mim, pelo amor da esperança, que é mais do que eu devia ser. Se soubesse das minhas esperanças, não teria esperança. O amanhecer é uma esperança inútil. Útil é a esperança de uma flor de não morrer.