Blog da Liz de Sá Cavalcante

O que a realidade quer da vida?

A percepção percebe só, sem o ser. A percepção não é única no mundo, tem que se dividir com a realidade, que não é o ser, são sentimentos alheios a mim, que fazem da vida minha realidade. Ter o sol que nasce na minha falta de viver. Saber onde estou não é viver. Saber onde estou não é viver esse estar. Como estar estando em mim? Deixe-me só, sem a vida. É melhor morrer na luz do que nascer na escuridão.

As pessoas podem pensar em algo que não seja amor?

A paisagem acompanha a vida sem o suspirar eterno de viver, que sufoca o amor, fazendo sorrir. Sorrir para que o tempo permaneça sem me sorrir. O tempo que se foi não é a vida, é a procura do nada que me impede de viver. Tantas coisas encontrei no nada, menos o nada. O tempo existir como vida, é a mágoa do meu ser. A vida tem tempo apenas para o tempo. Lembranças de que a vida partiu sem o meu amor, mas a vida que tenho hoje é amor. Amar depende da vida que vivo. Há vidas sem amor, que continuam a sofrer por não amarem. É difícil amar, até mesmo quando se ama. A vida já não é amor, durando como se fosse amor. O tempo é o amor que não deveria existir, nem como ilusão. Somente a ilusão conhece o desconhecido. Ficar só é ficar no amor de Deus, onde nada ruim pode acontecer. A morte é sem tempo nenhum. Até o tempo morrer, é sem a morte. A vida não muda, o amor muda. Saber não é viver. Saber viver é morrer. A morte é infundada, indeterminada, para que eu possa senti-la sem morrer. A permanência da morte é o ser. O ser somente se torna o ser como o ser.

Sem rodeios

Quando amo, eu amo. Quando não amo, não amo. A vida não consegue ser vida de alguém. Não existe vida, viver é ausência de mim, mas viver não é ausente, então não aprendi a viver. Não ignoro o que sinto, não ignoro o que não sinto. Como pode haver dois amores num único amor? O tempo não passa, vive. A permanência não permanece no tempo. A permanência é superficial, é um mar que se afoga em si mesmo. Permanência não é amor, é dúvida. Faz tempo que vivo, mas nada sinto pela vida. Meu sentir é permanência, sem a vida. Permanência no que compreendo, mas não permanência no que não posso compreender. Permanência é compreender a vida como se ela fosse vida, mas é apenas permanência.

Eternidade

A eternidade se suaviza de forma leve, única, imperceptível, de uma forma tão rara, que não sinto a vida pela eternidade. Amor, não me deixe amar, por haver eternidade no amor. A eternidade é um olhar a mais, num ser sem alma, onde o olhar determina a falta de alma, por onde renasce a eternidade. Eu vejo eternidade no meu amor. A vida vem de uma necessidade sem amor, por isso criei o amor na vida, em poesias infinitas. A eternidade não existe sem a vida, eu não existo sem amor.

Deixar o não ver para a escuridão

Tiraste-me de mim. Tiraste a metade de mim. Estou inteira, assim como a escuridão se entrega ao mar, sem o vulto da morte. Metade da solidão foi embora, na metade de mim. Se a sombra da aparência me fez me ver, é como se me visse sem me ver. A escuridão abençoa a eternidade do mar, que me faz feliz. Para mim, a falta do mar é a minha morte. Minhas cinzas são teu olhar cada vez mais perto, mais íntimo, suave, como a solidão que consigo ter. Segura minhas cinzas no teu peito, para eu dormir com vida, para que o olhar seja o tempo perdido entre mim e minha morte. Mas, o tempo não pode estar perdido como alma. Deixo que minhas cinzas ocupem o lugar que esteve vazio em mim. Nem a escuridão penetra no vazio de ter alma. Não respire minha morte, sinta firmeza no respirar das minhas cinzas, descubro o ar em ti. Aproxima teu respirar no nada, terás minhas cinzas dentro de ti. Deixo o não ver para as cinzas, seja minha escuridão, onde não me faltam cinzas para morrer, mas falta você para mim. A dor do abandono existe: são a falta de cinzas espalhadas pelo mundo. Se o mundo fosse cinzas, seríamos o vento a carregar as cinzas, num mistério sem fim de vida, de amor, de algo mais, que desaparece apenas para que eu te veja, na certeza de que não existe pra mim. Tudo o que existe soprou minhas cinzas pra longe, onde te esqueci, para ser cinzas. Quem sabe, assim, exista pra você? Deixar as cinzas pelo não ver é como te ver pela última vez, apenas como cinzas da esperança sem amanhã. Amanhã, as cinzas removerão a terra, constroem a vida no novo mundo, nem que seja feito de cinzas, é melhor do que apenas as cinzas que deveriam ser o sofrer, assim existe amor.

A vida é triste por existir

A sensação do meu corpo é a mesma sensação de se ter morrido. Quem conhece os segredos da imaginação morre pela imaginação, sem perceber que a vida é feita pra viver. Sou o tempo da vida. Não há nada na imaginação que me faça voltar à realidade alheia. O olhar vê a vida em si. A poesia trincada nas palavras faz da poesia vida. A vida não pertence ao ser, pertence à alma, e é por a vida ser da alma que não reconheço minhas perdas. Sinto ausência feliz, sem dor. A ausência é a permanência do tempo. A alma nunca pode ser a morte de mim mesma, é apenas um respirar mais lento, inofensivo ao ar que respiro. A alma não é a função do ser, é a vida, que nada tem a ver com o ser. O ser busca a alma, distante, perdida, por isso não consegui mais ter alma. Mas o coração da alma vive dentro de mim, como sendo o meu coração. Não busco o amor, busco compreensão da vida, das pessoas, pelo que sofri, que é apenas a minha alma, falando comigo. Não sei o que te dizer, alma, falando comigo. Nem sei explicar como é difícil te explicar. Vou começar te explicando com meu amor por ti. Pode dizer o que quiser, fazer de mim o que quiser, que sempre será minha alma. Sempre irei te amar, mesmo sem amar. Por que a alma me julga tão frágil para ouvi-la? Quantas vezes quis morrer, não morri por causa da alma. Seu silêncio é presença eterna em mim, suas palavras são a minha vida. A fragilidade da vida é minha força, ausência de viver. Quero amar minha alma? Não sei, sei que olho para o céu, vejo minha alma em todo o céu, em toda a alma, em todo o ser, todo o amor. A vida é triste por existir, feliz em ser esquecida em sua existência, que não é minha existência. A minha existência é apenas olhar o sol, me ver no sol. Quem conhece e o conhecido não se conhecem. Mas, ao olhar o sol, todos se conhecem, se pertencem por estarem juntos e olharem o sol. A luz do sol não é essência do sol. É fácil olhar o sol, o difícil é captar sua essência no próprio sol. Se busco uma essência qualquer, mas não é sentir o sol. A essência do sol é única, rara, inconfundível. Trocaria minha essência pela essência do sol. O sol não vive na sua luz, e sim na sua essência. Se o sol vivesse da sua luz, não teria essência. É da sua essência que nasceu sua luz.

Faísca da realidade

Esperança não tem amor, vida, alegria. Esperança é perder tudo sem perder. A vida se fez sol, por isso o sol se esconde da vida, pela minha esperança que não é só como o sol. O sol somente nasce da agonia do agora, sem o depois. Se a vida fosse apenas silêncio, não haveria pensamento no ser. Até o vento balançando uma árvore me faz pensar. A morte junto a mim, ou sem mim, deixa de ser morte. O desaparecer da alma é como a vida que não se abandona, apenas esquece que é feliz. O desaparecer da alma é eternidade da vida. O agir não nasce como o amor, no ser. Desaparecer é ser infinitamente. Nada se soma ao infinito, o infinito diminui a alma. A alma de viver não é a mesma alma de ser. A alma desfaz o mundo pela vida. Viver não tem o ser, o viver é infinito, perdido em mim.

Vida, alegria de não existir

A existência não é vida, é morte. A vida não vive o que existe em mim. Quando o existir do não existir se fizer real, ainda serei eu? O mundo precisa existir no vazio. Amar sem relacionar com a vida, sem a vida. A fala do outro não é o que sinto, sinto-me sem falar, a ausência de vida, como eco do silêncio. Falar é deixar o que sinto, sem auxílio de vida. A morte é para toda a vida. Não importa se a vida é luz ou escuridão da morte, o que importa é que ela não existe, sua luz, sua escuridão não faz viver. A vida sem alegria de existir esquece a vida como luz e escuridão, para existir. Deixo o momento ser vida, para que ele necessite de luz, escuridão, até que a vida seja a luz e a escuridão dos meus dias.

Desmoronar

A coragem de viver ou morrer é apenas o fio da morte a se romper sem meu respirar, sem que eu me apague totalmente. O amor não pode morrer mais do que a morte! Quero descobrir a vida sem a vida. Vida é saudade de pensar como me sinto. A dor é um vício. Nada é tão só como a morte. Se você vivesse a minha vida, seria como o sol, nascendo pra mim. Viva comigo a minha vida, o meu sentir, pra que eu não sinta falta de mim. Caminho sem caminhar, para a vida me seguir. O caminho não é o mesmo, deixado pelo amor. Não há alma mais bela do que a morte, que empresta sua beleza para a vida. A vida não é bela como a morte. Quando o afastamento da vida é real, posso morrer. Vou morrer como se cantasse minha alma. Desmoronar, presença da vida que vai além da dor. A vontade é como o sol nascendo. Quando o sol não nasce, a vida me sorri. Encanta-se o sol por iluminar a vida, como se a vida fosse o sol.

Discordância da vida

A alma é o desânimo do meu ser. Há momentos que são mais de salvação do que de vida. A alma está no que bebo, no que respiro, por um instante perdido, sem perdas. A única perda é sem a salvação de viver, mas cheia de esperança. No lugar do amor, um abismo sem fim. Preciso escutar o outro ser pela esperança do amor. Escuto o coração, o amor, não o ser. O nada da ilusão é o mesmo nada da realidade, onde tudo se desfaz, no nada das lágrimas. Para me libertar de criar, tenho que não chorar o nada da alma. O chorar é a inexistência da inexistência, onde o sorrir é apenas o ar, a brisa, o adeus do que não é possível. A alma não chora, declama palavras, como se fossem poesia. É difícil dar um fim à inexistência. Deixo a existência não ser eu. Morri porque esperava algo da morte, até perceber que ela é apenas sombra do meu passado. Não se pode morrer duas vezes, meu corpo não está preso na sombra, ele é essa sombra que encanta a imagem carente de sombra. A vida é a sombra da alma. Algo da morte está em mim, está em toda imagem. Tudo, em toda imagem, é morte. Socorrer a morte é me salvar de mim. Morrer faz parte da imagem, como o mar que transborda seco. A alegria de voltar ao mar, renovação da vida, que também é morte. É morrer no desapego eterno de morrer. Morri, quando não quis mais morrer. Talvez, seja a maneira que a vida conseguiu me amar.