Blog da Liz de Sá Cavalcante

Se vai sem corpo

O corpo se vai com minha solidão, fica a vida. A alma se vai com o corpo, sem o corpo. O corpo abusa de partir. O adeus é um olhar que dura, que ama. Lágrimas são adeus que permanecem. O sonho chora por mim, quero estar só, só sem mim, sem sofrer, sem ausência. Apenas eu e a solidão não existimos para ninguém. Existo no não existir. Ficar junto é não existir no não existir. Existir é o céu. Sem o existir o amor é infinito. O infinito não é amor. Amar de verdade é deixar a alma partir. Partir como uma dança como o céu a sorrir. O céu sem sorrir é a poesia da alma.

O não ser

O impacto de não ser é a vida. Vida, foste minha perdição. Tentando ser no viver, refiz o nada. O não ser é a falta do nada na vida. O nada é vital à alma. Eliminar o nada no não ser não cessa o nada. Eu sou o nada da tua vida. A beleza da alma é o nada. O não ser tenta ser o nada.

O pior da morte

O pior da morte é a verdade de morrer. Conviver é morrer. Se estou tonta de morrer, ainda sinto algo. Sentir é viver. Apenas eu posso me fazer viver. É como se o amor não existisse. A falta do amor é Deus na vida. Cumprir o nada em mim, não me custa nada. O nada não sofre, nem fica sem alma. O medo do nada é amor. Pensar com alma afasta o medo do nada. O cedo da alma é morrer.

Sem sofrer

Falta, sinto sua falta, mas não sinto falta da permanência. Sinto falta do fim sem sofrer. O sofrer na alma é a eternidade. Ser feliz não é ser eterna. Nada é sem ter sido. O nada não sente minha ausência. A ausência de te ter, vida, é como eu olhar para mim. O máximo que a morte pode ir, e até o ser. Cuidar do céu, das estrelas, apenas por existir. Assim, aprendo a cuidar de mim, nos meus sonhos, onde você não se foi. Ir partindo como se eu fosse pedaços teus, que duram na ausência da vida: como perda, dura como um nada.

O que sinto é amor ou solidão?

Não há nada mais que o nada no desaparecer do silêncio do céu, para dar lugar ao fim. Até a morte nascer sem fim, o fim da morte é o ser. Não gosto do desaparecer sem mim. Derrama a morte em mim, para que ficar com a sua essência. O nada é a essência divina, onde nasce Deus.

Desapego da alma

É tanta permanência que não consigo viver. O mundo é a impermanência do ser, numa vida sem humanos. A falta de pessoas na vida, a torna humana. O silêncio travando o coração, na pista do meu corpo. Rastros de mim, sem mim, são a vida no meu corpo. Não há soluço para a alma. A alma sussurra com um soluço. A paz é um soluço engasgado de céu. O céu, depois do céu, é Deus. O tempo de partir é o nada. O meu ser seria capaz de viver várias vidas, se não fosse o meu infinito particular. Devolvo-me a mim, na esperança de morrer para sempre. O sempre cessa a esperança. O nada é a esperança divina. O desapego do ser é o ser interior, nasce, cresce, para morrer no ser exterior. O nada é o fim da solidão do desapego num apego de almas para t…

Vir a ser

Morrer faz parte do transcender, onde o vir a ser é a falta. O vir a ser é a solidão do mundo na vida. O conflito do ser é o nada. O amor é Deus no vir a ser de Deus, é o seu desaparecer, surge inteiro, sem seus pedaços. Pedaços meus são o meu exterior sem mundo. Nada existe aos pedaços. Recuar a vida no nada para continuar a viver é sabedoria. A margem de morrer, ainda sinto algo. Sentir é viver. Apenas eu posso me fazer viver. É como se o amor não existisse. A falta do amor é Deus na vida. Cumprir o nada em mim não me custa nada. O nada não sofre nem fica sem alma. O medo do nada é amor. Pensar com alma afasta o medo do nada. O cedo da alma é morrer.

Inacessibilidade

A inacessibilidade ao nada é morrer. Contribuo o nada com o morrer. Morri sem conflitos, perdas, na autoestima de um adeus, dentro e fora de mim. Sou capaz de viver: não quero. Quero me misturar no sol, derreter em chuvas de morte: para viver. O céu desmorona na minha alma, por isso, o sol é só, mesmo sem minha solidão.

A falta de sonhar

A falta de sonhar é o ser nele mesmo. O ser não necessita de si mesmo para ser eu. O nada de mim é que nada me falta. O sentir é um ser vivo dentro do meu ser.

Prolongar-me no nada

A fala quer me silenciar, prolongar o nada, pois é cômodo para eu morrer. Morrer é poder falar o que há dentro da alma, sendo alegria ou tristeza. Falar só, para não dizer adeus a mim é lutar com a morte na morte. Morrer é ser para o outro. O mundo é o destino da morte, é a palidez dos instantes sem o ser. Nada se opõe entre um instante e outro: isso é morrer. Morrer é o sempre que tem fim. Fim que cessa a saudade, cessa o nada e o ser dentro dele. Vê é o interior da morte na ilusão de ser. Se a ilusão do nada é o ser, não há morte nem o suspirar eterno. Eu parti ao suspirar distante do meu suspirar. Nada suspira em voz alta. O céu é o meu suspirar por mim.