Blog da Liz de Sá Cavalcante

Falsa morte

Vivo uma falsa morte, que pode se tornar uma morte verdadeira. Sinto o sabor do meu corpo na minha morte. Cada corpo é um universo. A ser conhecido pela vida. O sonho entorpece a morte e a morte da alma desperta, como uma luz invisível que se vê em sonhos. Sonhos acabam, o ver é eterno. O sonho sonha ver. O que é tão especial em ver? Não desapareço por ver, mas sim por não ver. O não ver é frágil. Ver me fortalece. Tocar a alma a vendo é tudo que posso fazer por mim, pela minha morte.

Transcendência do outro

Nada transcende em mim, sou a transcendência do outro sem mim. Em mim. Tudo vive em mim, sem transcender. Transcender é a plenitude do adeus. Sem o adeus, não há vida. A vida me esquece dentro de mim. Quero ouvir o sol, as estrelas, na voz do céu. Eu não sabia que o céu é simples, precisa de nós. O mundo nunca será céu. Temo o que a poesia vai fazer de mim. Ela me sorri, conhece meu destino. A eternidade é um céu particular. A alma é um céu perdido em mim. A escuridão é a alma. É descritível o ver na escuridão pela onda do mar. Cada onda uma nova emoção. Não perceba minha emoção no não ver. As estrelas são gotas da vida. Poderia ao menos ver o céu? Ou o céu é incapaz de sustentar o olhar? O tempo é o nada. Céu, está me vendo? A vida não é verdadeira. O vazio é sentir falta da verdade da vida. Transcender, onde é tarde demais para viver. Suporto o transcender como um castigo. Não faz falta a alma, se tenho que transcender. Estrelas criam alma, pensamentos, amor. Amo tudo que sinto, que existe: sendo bom ou ruim. Não tenho segredos para o que sinto. Sinto devoção à dor. A poesia é uma dor inexistente: apenas eu a sinto. A eternidade é um risco que preciso ter. O silêncio transcende na eternidade, como se fosse eu. Nada a esperar da eternidade. Ela nada me oferece. Meu corpo vive de eternidade. Não vou morrer de eternidade. Enfim, só.

Sou nova na vida

Estou começando a viver da minha ausência. Nada satisfaz a presença no adeus. Encantei-me com a morte ao morrer. Fico encantada pela morte: única coisa que não há abandono. Ela é a permanência do meu ser. A permanência não necessita de nada em mim. Solidão é a poesia da alma: exclui meu ser. Nada fiz da alma. O fim não é ausência do ser, é ausência do fim. A ausência do fim é um olhar de morte.

Acalento

Esqueça o que pensa que sou, fica com o acalento da minha alma. Sai do meu corpo, na inconsciência da alma para ter alma. A consciência que tenho de mim é o meu refúgio nas horas tristes: essa tristeza não precisa existir, ela é mais vida do que a vida. O ser se move nas entranhas da alma, sem o nada eterno da essência. O nada eterno é um movimento involuntário, de morte, de falta de dor. A dor é a vontade maior na falta de vontade: assim, nasce a presença. Reduzia existência à saudade do vazio. O vazio é verdade eterna do amor. O aparecer manifesta a náusea da imagem: somente assim aparece: em náuseas que me fazem respirar profundo em mim. O respira envolve minha morte de vida. A morte sente o meu respirar no seu amor.

Rudimentar (conhecimento básico)

A vida é rudimentar. A vida atravessa a alma. O princípio da linguagem é o eco da alma: tento transformá-lo em fala. Não há por quê. Na alma a alma é a resposta da vida. Perco a alma feliz, com um abraço de amor. Palavras são o não sentido na alma. A eternidade é o que resta da vida, sem o conhecimento eterno da eternidade. A vida sem a eternidade é como a vida sem sol.

Estou bem

Estou bem, como a luz que se torna o infinito de mim. Tudo desaparece no infinito de mim, mas não desaparece em mim. Por isso, sou mais do que o infinito. Apenas o infinito não é solitário, a voz do nada é o infinito do finito. Tudo são mudanças de alma. Não há esperança em mim: é como se meu amor fosse um sopro de vida. A vida desaparece para amanhecer. Eu conheço o conhecer sem conhecer. Conheço o tempo por ser triste. Um tempo triste para uma vida feliz. O tempo não foi a realização da vida. Eu esqueci a vida com a vida. O sonho, realização da vida, do céu, das estrelas. O sonho é o firmamento do céu. Se tirar uma única estrela do sonho, ele percebe. O sonho toma conta do céu. Nada do céu falta aos sonhos.

A fragilidade da palavra na minha presença

A consciência do outro é o amor que possuo. A presença do outro é a minha alma, com ou sem palavras. Nasço sempre sem nascer, como presença da palavra. A consciência, solidão absoluta: é alma. Ter alma não é deixar a vida, é descritível o ser na alma.

Insônia da alma

A consciência não se adapta à vida. A alma é diferente de si mesma. Para nada sentir, é preciso sonhar, transcender sem transcender. Chorar devolve a alma para a alma. Sorrir com alma é me perder. É demais sofrer no que não é sofrer. Tudo transparece em cinzas. Me senti no nada.

Para não sentir

Para não sentir o silêncio, sofro em silêncio. Escuto o voar dos pássaros na distância de mim, como se eu fosse a fluidez da morte, a sorrir como o amanhecer. Amanhecer é para ser o começo de viver. Eu não perco o amanhecer com a morte. O olhar é o erro de ser. Não conheço meu olhar. Eu sou eu pelo meu corpo ou por boiar na ausência, no infinito? O corpo não é bom para ele mesmo. É bom para mim, me faz não ser eu, me sentindo eu. A alma é o mal-estar da vida. O desejo de ter um corpo é minha morte, minha liberdade. Para não sentir a liberdade, me imagino livre. Alma é medo do nada.

Fome de alma

A alma me alimenta. Me pregaram na morte com pregos do amor, para me fazer sentir viva. Os pregos do meu corpo, se soltam na minha morte. Meu corpo não é minha morte: minha morte é o que sinto. A morte atrapalha o amor. Sem amor a morte é leve. O amor sempre será um corpo: essencialmente na minha morte. O pensamento nasce da ausência de ser para ser a ausência do meu corpo. O isso da alma é o nada. O olhar nasce do ventre da vida. O tempo é o vento da memória. Nada é o que passou, nem mesmo o tempo é o que passou. O agora é o ser que me modifica sem o futuro. A alma é o passado, enterrado como sendo eu. Não sou mais meu passado. O que tinha que ser vida não necessita mais ser vida. Apenas o espírito finito não cessa a alma. O espírito finito é o infinito do ser. Minha existência é o fim do infinito e o começo do amor. O eu em mim é saudade do nada, do eu sem mim, meu eu é o mesmo. O nada substitui meu amor. Saudade é não esquecer de mim. Saudade, me dê a mão para caminharmos no infinito, para dar luz à realidade.