Blog da Liz de Sá Cavalcante

Na margem da consciência

O que falta na consciência é esta margem sem superfície. Recomeçar é não fazer nada pela consciência, que existe mesmo assim. Não há o nada do nada, nem há eu em mim. Mas existe eu no nada. Alegria e sofrer são a presença do nada na alma. A alegria e a tristeza tiveram tudo no nada, não aproveitaram a oportunidade. Sou feliz mesmo sem o nada do sofrer, sem o nada da alegria. A inquietação da alma é sem amor, como um suspiro de cansaço solto no ar que perdi. Esse ar que perdi era o meu tempo de ser feliz. Nunca mais suspirei, deixei o ar livre, como se algo restasse em mim, talvez seja o ar. Não existe ar na solidão, ninguém pode respirar só. Respirar é o outro em mim. Não me sinto viva por respirar, mas me sinto viva por amar. Amo tanto que fico inconsciente de amor. A febre de amar isola a minha alma da vida. A saudade é o refúgio e a fuga das almas. A alma exterior destrói a alma interior que absorve o tempo no tempo. O tempo se foi como consciência da perda de ti.

Nunca mais

Nunca mais vou amar na plenitude de ser só. Por melhor que seja, esse amor é esquecimento de mim. Amar para esquecer é a tristeza, é a ausência sem dor. Lembre-me da plenitude de viver com esse nunca mais, espanta tua solidão com minha morte.

Fascinação

Apenas o amor pode fazer nascer a eternidade. A eternidade é um pedaço do céu deixado na vida. O nada começa no ser e termina na falta de ser. Sem o ser o nada não pode continuar a existir. É inexplicável a alegria da alma sem o sol. Olhar para não ver a alma. Se tudo fosse eternidade, nada existiria, mas o vazio da eternidade é plenitude. Aprendi, assim, a admirar o vazio em tudo que existe em mim.

Esquecer o corpo

Esquecer meu corpo é morrer no que já foi perdido em mim. As lembranças vagas ou incompletas eu tenho dentro de mim, como se fosse meu corpo. Mas a lembrança da morte é completa e não a tenho como se fosse meu corpo. Ter um corpo é sair de mim para a vida.

Caminho poesia

Neste caminhar de poesia, posso ir onde for, que volto a mim. Amar é caminhar infinitamente, pintar-me de vida, enquanto o sol durar. Nada se ama em poesias, mas eu me amo em poesias, onde Deus consegue me amar até no meu sofrer. Sofrer é poesia! Deixe-me chorar até amar. Vi o tempo no meu sofrer. Preciso ter consciência do nada que não existe em mim, para que o nada de mim cesse, deixando-me liberta do nada. O nada da poesia é essência da poesia. A poesia é essência do nada. Saudade de ter saudade do nada. Para evoluir a saudade, preciso morrer sem faltas, provando a mim mesma o quanto amei e o quanto ainda queria amar. Conhecer o conhecer para suportar o desconhecer da vida que me conhece. Como renunciar o que conheço para o que me conhece? Deixe-me tão desconhecida quanto o amor. Assim, serei apenas luz, cor. Luz é como música, por isso pode me esquecer, vida. Não quero ser uma simples lembrança, quero-te de verdade, vida, inteira para mim.

Consagrar a morte

Consagrar a morte na imortalidade da dor: Deus, que também é alegria até na hora de morrer. Morte, espero-te no amor que sinto, onde a única ansiedade é poder te perder. Ao menos te tenho na minha solidão e não sou mais só. Morte, morrer pra mim é te perder. Morte de sentimento de alma, não me deixe só, como deixou o mar só em suas ondas. Voltaria ao eterno se você não existisse. Mas preciso te sentir, morte, como sendo a eternidade da vida em mim!

Entontecer de amor

Ser é um descuido do nada. O nada é amor. Que outra alma sustentaria a minha se nem eu, nem o meu amor conseguimos mantê-la? Sai de mim, alma, antes que se torne o sempre em mim. Nada me resta, me resta apenas este sempre, que não é certeza de nada, nem de uma presença. Nem mesmo a vida é presença, é morte, é esquecimento, é adeus. Meu lugar sou eu a amar.

O olhar me dá coragem para amar

No olhar, as almas se encontram, se adivinham. A visibilidade tem alma, sem estar dentro de mim. O que existe é apenas o começo do olhar, que isola a realidade das coisas. O ser do próprio ser é incomum à vida. A infinitude é uma maneira de ser. Deixo a ilusão para o real. A morte é o meu controle de não sair de mim.

Essência

A essência é tão pura que não precisa da verdade. A única verdade é o amor, não precisa de existência, de essência. Perde-se a essência, ganha-se o amor. Produzir o infinito como se houvesse vida para o infinito. A distância é o infinito. É uma distância que existe apenas na morte. Morri. Meu amor é eterno, sem ausências, que eram apenas ficar junto. O amor une a eternidade a mim. Essências ausentes são a esperança de me conter nessa ausência ausente. Ausências me fazem viver sem ausências. A essência não repara o que amo, mas como amo, que determina o quando da eternidade. A alma pela alma é o nada, sem eternidade. Dei minha eternidade para o nada, nunca ficarei sem alma.

Seria melhor

Se nunca tivesse visto um ser em mim mesma, seria melhor morrer. O amor é ausência de tempo de vida. Meu ser nunca será um momento de Deus. Estou internamente só, como uma vida em busca de Deus. Um pouco de vida é mais do que a vida inteira. Tudo nasce do nada, o céu, cansado de existir, se despede como uma poesia. A poesia que está ausente em mim se faz minha alma. Ausência, leve-me de mim comigo acordada. É difícil começar pela alma. A alma é um começo sem recomeço. Mas a alma não se perde amando, odiando, ausentando-se. A morte é a negação do começo no recomeço. Nada vive por minha alma. Minha alma também sou eu, por isso vive no meu sofrer, persiste como sendo referência para os meus sonhos, onde abraço o viver sem medo. O ser se faz sofrer para não abraçar o viver. Amor é eterno no abraço. Não consigo morrer mais do que o amor. Respirar amor com vontade de chorar.