O corpo pode viver para sempre em seu amor, mas o ser não acompanha o corpo nesse amor. Se desmancha em poesias, que nunca terão corpo, alma, nunca serão um ser para amar. Meu amor está no teu rosto, vida. O amor é onde vivem as vidas impossíveis, que não morrem jamais. Eu desfiz tua sombra para que possa me amar. A ausência da ausência é o amor de entrega, de fidelidade ao que sinto. A liberdade tem uma angústia apenas sua. Se a ausência tocar a angústia, que vida terei? Inencontrável viver como viviam. A vida era encontros, não encontro mais a vida em mim. A vida é sua presença, é apenas o que deixou alheio a mim. Chorar é o alheio a mim, onde nada me sufoca no chorar, me prende, me faz viver, mesmo que as lágrimas somente existam em viver, não em morrer. Quem percebe o que eu vivi, o que eu devia ser? Se eu ficar no sentido de ser, nunca poderei ser de verdade. Sou apenas uma verdade imaginada. Não existe verdade, existe amor. Deixo a verdade ocultar a vida em si. A ausência é a verdade da realidade. Cair no abismo é manter o corpo na realidade. Não há corpo sem abismo, para amparar a morte do corpo. A ausência entorpece e não consigo sair da presença. Sofrer muito não é sofrer, é ser. Será que vou acordar da existência do possível para a presença? O que falta para a imagem da morte ser apenas uma imagem é ela ter o meu vazio em si mesma. Não existe mundo, vida, na imagem, a imagem está na vida que não posso ter: a do meu olhar.
A ausência da ausência |