Blog da Liz de Sá Cavalcante

O juízo sem a vida

A transparência não mantém a vida. A transparência somente é visível na alma, pelo ser. Posso até morrer, se a vida acontecer. Algo precisa ser vida, para me buscar da morte, para eu renascer como o sol. A brisa, que aquece meu amor morto, que renasceu em mim, longe do sol, da distância do infinito, onde o princípio de tudo é o fim. Meu amor quer que eu retorne a ele, sem vida? A realidade humana cessa, numa natureza sem fim. O amor sem a natureza não é amor. A liberdade faz eu perder a alma, o meu ser! Não há sinal de morte na minha morte, morri como por encanto.

O prolongar do nada

A vida afasta o nada. O prolongar do nada não é capaz de viver por mim. A vida afasta o nada, sem o prolongar. Liberta minha alma da alma, ela é apenas um vulto de mim, que presenteia ao sol com minha aparência, que nada é sem a luz do sol, até o sol não mais iluminar e ser real como o céu, que amanhece o sol!

Desaparecer

O amor desaparece apenas para o amor, no amor que sinto, que faz o amor desaparecer eternamente em mim, apenas porque amo. Desaparecer, para aparecer apenas para mim. Desaparecer é o sol da consciência, se entregando à luz do meu ser.

Coisas das coisas da vida

As coisas não surgem por aparecerem, e sim por existirem, pelos movimentos da alma. Eu possuo um corpo, que se movimenta pelos movimentos da alma, que já é um corpo, antes mesmo de existir. O destino é dos que não fazem parte da vida, onde não há adeus, isolamento, há apenas a esperança de que o nada se realize em mim, se faça em mim, mas que não se torne eu.

Carente de alma

Onde estavas, alma, que não me percebes? Carente de alma é carência de alma. Um dia, irás perceber meu amor, alma, tudo que amo é para te perceber ainda mais. A vida de hoje é mais vida do que a vida anterior. Minha vida depende do que amo. Não penso na vida, eu a amo. Entrego-me à morte, para a libertar, para viver em mim o que existe apenas na vida, distante de mim. Sei que não sinto a distância da vida como amor! A alma refugia-se no nada. Não dou conta da minha solidão, mas dou conta da solidão do ar, que resiste à vida, à morte.

O não ser do nascer do ser

Resolver ser para resolver o mundo num amor inexistente é não confiar na vida, é fazer nascer os restos de mim. Apenas a vida dorme, sem se ausentar da inocência de viver. Ir além do nada, para não transcender no nada, em mim! Isolar-me impede de flutuar no nada do meu pensamento. O sonho dança sem música, sem silêncio. Ele é apenas o ar que respiro. A alegria é a dúvida que se quer ter, sem nunca resolver. A alma nunca se vê, pois acabaria seu encanto de ser nada. A existência é o não ser, que nasce do ser.

A sorte de ser alguém

A sorte de ser alguém, quando a vida cessa, é a falta de mim que me faz viver, ser eu. Se eu me deixar na sorte de ser alguém, nunca vou existir de verdade. A sorte de ser alguém é o destino da vida, do amor. O amor pode ser eu! Morte, tua morte é pior do que a minha morte. A minha morte não é de ninguém, mas a morte é de todos nós.

Ilusões

A ilusão do pensamento é a sua dor, que eu não compreendo. Quando não mais via nada, a vida viu por mim. Apenas nisso, me senti viver. Mas, olhei para a vida, pela ilusão de mim. Ilusões são ausências que se preenchem por mim, pelo que ainda consigo viver, sem morrer. A ilusão me protege de morrer. Quero a ilusão, mesmo me perdendo em mortes, que não são minhas. A ilusão defendeu minha morte de mim!

O tempo é a renúncia da vida sem o ser

A lembrança esvoaça meu ser, sem sol, brisa, vida ou perdão. O que perco na alma, meu coração silencia, vibra. Não sou só por perder a alma, como se tocasse o sol, os sonhos, com as mãos do meu ventre, que renuncia a mim, por me querer. Como pode, alma, me querer sem me ter? Nada faço com as mãos, além de poesia. A poesia são as mãos da alma. Mãos que acariciam o nada, como se fosse um ser. A verdade se calou no nada, pois o ama, queria ser o nada, mas o nada é a ausência da verdade no ser. O sonho despe a alma, no nada, distante do ser.

Consequências da vida

O encanto desapareceu num amor infinito. O encanto não tem os abraços do amor. O sol, sem amanhã, não tem as consequências da vida. Não vivo sem o amanhecer, amanhecer interior e exterior a mim. O adeus do infinito do amor é a permanência do ser.