A morte é não ter começado a viver. Botei a morte no colo, ela nasceu de mim, foi tão natural quanto respirar. Respirar é apenas a escuridão que não se define. Eu sinto por mim ou pela morte? Viva ou morta, nunca sei o que é sentir, por isso sou minha própria poesia. Perdi o sentido da vida, pelo sentido da vida. A morte floresce dentro de mim, define todos os sentidos no indefinível do meu ser. A brisa da morte não carrega o sol do amanhecer da noite. Dormes, e eu floresço, sem pensar em ti. Pensar em ti não me pertence. O momento suspende a morte num único pensamento: viver. Aprendi apenas a morrer. Talvez, eu viva mais que a delicadeza da morte, prefiro a brutalidade da vida. Vou viver, quando não houver mais vida. Sonhar é a imagem da morte, tão mais verdadeira que viver. O que quero ao morrer? Apenas que o desejo continue a florir, como se fosse eu. Quando o florescer de mim não sustentar minha morte, é porque os meus obstáculos foram vencidos, e a tristeza teve a paz de me ver morrer, feliz por sofrer. Tudo morre sem dor. Sonhar é o partir da alma, que não me faz florescer sem a minha morte. A dor, vencida pelo medo, desvenda a vida. Paz é o medo, o receio da vida. Vai dar tempo de morrer? Nada levo da vida, além da sensação de morrer, mas nada levo da vida, nem mesmo a morte. Encontrei a morte sem a minha morte, assim morri plenamente no nada, como nada sendo nada, que faz todos viverem, para eu morrer na tua paz, que não é a paz de todos, são os destroços da vida, que se acumulam, para que eu seja algo, que não seja o nada, não seja eu. A vida supre a falta de morrer, contanto que eu não exista, somente assim descobri o privilégio de eu nada significar para viver. Viver não precisa de significado, viver precisa do ser, até para morrer, onde o silêncio não enterra a dor de quem vive, mas sabe que nenhuma palavra, nenhum ser, nenhum amor, me impedirá de viver e morrer pelos meus sentimentos, que vigiam a morte, desfazem destinos, para haver esperança de vida. A expectativa de vida não é ser amada, é ficar só em mim, como um último instante perdido de vida, que deixou para depois. Nós deixamos o instante desaparecer, na ruptura de nossas almas, onde a separação une o que foi esquecido por nós. Nada podemos fazer por nós, nada podemos fazer sem nós. Resta apenas a distância, devorada no vazio de nossas almas. Somente queremos morrer, com o nosso olhar nos vendo, como se houvesse nós.