Blog da Liz de Sá Cavalcante

O céu é sempre

O céu é sempre, se as almas abandonarem o céu. As almas precisam viver. A alma é o passado do ser, retorna como céu. Não fico triste, o passado nunca passará, é a saudade, a tristeza do céu, que necessitam do meu passado. Tenho mais do que o céu, tenho alma.

O sol não é sol de si mesmo

Dá para esconder a plenitude no meu amor. No céu, o sol são fragmentos de luz onde a luz não existe. A inexistência é luz infinita, que tem fim com a existência. Deixei a existência no fim. Será isso o fim do fim? Que alma teria se a existência fosse possível? Teria alma de mar? Como o mar se tornou alma? Pela ausência do depois. A vida se perdeu na sua imagem como se pudesse ser a imagem de outro alguém. O ser para o nada é como o sol para a vida. Sem razões para sonhar, assim como o sol é o meu ficar. Sem o sol, o ficar é apenas eterno. O sol se fez sem existir como sol. Sua existência, vaga lembrança da incompreensão do mundo, por onde é possível viver. O mesmo sol que foi lembrança de tudo um dia, ficou no esquecimento da noite, sem nunca ser esquecido: esquece o mundo, a plenitude, o tempo, mas não se esquece de amanhecer. Posso amanhecer, seja onde for, desde que seja de sol.

O esvaziar da solidão

A alma é pouco para viver. A morte entrou na realidade como sendo minha alma. A alma não penetra na solidão, por isso, estou a buscar saudades inexistentes, como se fossem almas.

A inocência do amor

Não há o que fazer no infinito, por isso, fico na inocência do amor. Meu ser feito de lágrimas não chora, por isso, quer morrer o ser, jamais será sua esperança de ser. Cai no precipício da esperança, nunca mais me recupero. De que serve a esperança, se ela não é vazia? A vida é a esperança do nada que não é vazio. A palavra tem a vida que eu quis para mim: de admiração, escolha. Mas eu também resolvi ser feliz com os meus sonhos. Sem as palavras nunca sonharia. O sonho é importante apenas porque a realidade não existe. O real é subjetivo. O sonho sonha por mim. A alma é um sonho eterno. Não sei sonhar na eternidade.

Dando-me a mim

Visto a alma adequada a cada vida que vivo, já vivi muitas vidas, apenas uma morte. Vidas que se sentem como eu, até eu descobrir que todas essas vidas são apenas uma: perder-te. Perder, lembrança eterna de depois, que desfaz perdas com a vida. Desaparecer é permanecer na perda de mim. Nem o tempo pode desaparecer com minha alma, ela morreu sem desaparecer. A alma é tão verdadeira que ninguém sente sua falta. Se não pode amar a minha alma, verdade absoluta do meu sofrer, não me ame. Amor é sério, é real, mais real que a alma que não consegue amar. Mas sem amor não há ser, não há alma. Vivo somente o amor. Vou ficar bem, tornando a vida melhor, como se ela fosse o meu sorrir. Sorrir não é não ter lágrimas, é deixá-las florescer, como se fosse a última rosa do mundo, que não é só como a vida. Viva as rosas, que enfeitam a tristeza com a bondade do amor. Amor, que já existia na rosa, que será a vida do amanhã. Que bom que o amanhecer são apenas rosas, nada é mais natural, simples, mais extraordinário do que isso. Se as rosas falassem, eu teria apenas bons pensamentos, as ouviria, eternamente, mesmo sendo eu mortal para ouvir a rosa. Não me dei a mim, mas me dou toda numa rosa, como se lembrasse de mim.

Transcender (ir além)

Transcender sem alma, sem amor, é amor. É leve, é pesado carregar a vida sem o meu corpo, sem poder viver. Recorrendo à morte para amar, percebo que não há amor para amar, mas posso amar o sofrer como se fosse amor. O pensamento verdadeiro é o amor, se não há amor, não há pensamento. Mas, por dentro de mim, ainda penso, como se eu pudesse existir pelo pensamento. Perdi-me em meus pensamentos como quem encontra a luz do saber. Penso em mim sem nenhum pensamento. A proximidade afasta o pensar dele mesmo. Nada quis do pensar, além de esquecer de mim. Somente há noite sem o pensar. Pensar não me faz existir. Não pensar não acalma a alma. A alma é o não pensar no saber. Ser é não saber ser. Nada é o que é, apenas parece ser. Como se eu respirasse nuvem apenas para ver o sol.

Alma pura (para pai)

Alma pura que nem a eternidade, nem o amor, nem a vida é superior a ela. Abençoa a minha morte de mim. Dentro da minha alma escuridão, na tua alma, toda luz. Fora da alma não há nada. Assumir a alma, na falta da alma é amor. Alma, ilumina meu olhar, determina o meu viver, como se fôssemos nós dois apenas no mundo. Você é alma de nós dois. Somos inseparáveis, lutamos juntos pelo amor. Resta em mim a tua alma, ela é tudo que tenho, é toda a minha vida. Te amo sempre.

Recomeço de mim

Deixar a vida pela metade, por ela não estar inteira, é quando não há recomeço de mim. Que quando eu morrer não veja a minha morte, vê apenas a alma perto de mim, para não ter medo de morrer. Mas a minha morte se foi com a alma, e meus olhos perdidos em viver me fizeram respirar em um desprazer enorme. Espero-te, alma, em versos de saudade. É sempre minha, mesmo sem ti em mim. Deixei a alma vazia para ela não se perder de mim. A morte pode saber se estou triste? A vida e a morte são uma maneira de enfrentar a realidade. Recomeços sem mim dão vida a minha poesia. Minhas poesias não necessitam de vida para existir.

Vidas que permanecem pelo amor

As vidas que permanecem pelo amor esperam apenas amor da vida, são infelizes como vida, como amor. O amor, minha única percepção, percebe a vida pelo meu amor, que não é apenas meu. Amar, dando-se ao nada, ainda é amor. O conhecer do amor fez a vida se desconhecer. Esse desconhecer é o resto de nós. Não posso tomar o amor para mim, o amor é de todos. Mas todos não podem ser o amor, que o amor é por todos. Não posso informar ao amor minha existência: ele tem que a sentir e, quem sabe, amá-la? Amor não é sofrer. Amor é dar conta do que imagino. Imaginar é amor universal, a paz universal. Somente assim reconhecemos que somos como queremos. A paz sem paz é tão triste, como se fosse uma guerra. Ninguém pode transferir o amor para a realidade. O amor é sem a realidade. Tudo passa, o amor passa, ficam apenas lembranças: tristes ou felizes. O fim do amor é o ser. Tenho medo do fim do amor como meu amor. O medo significa que não é o fim. A morte é tão sublime, que não amanhece, torna o sol vazio em sua grandeza. Deixo minha alma visitar a morte, desde que volte para o meu amor: não é infinito, puro como a morte, mas é tudo que posso dar à alma.

A impermanência da morte

O cheiro da morte não cessa com a impermanência da morte. A morte permanece na ilusão de ficar. Parecer ficar é morrer, pior do que não ficar. A impermanência é um corpo com alma. O tempo é onde as almas se refazem, como se o tempo da alma fosse o mesmo tempo de ser. O tempo escorre sem faltas, sem saudade, sem a manifestação do nada, que morre como ser. E o tempo morre como nada.