Blog da Liz de Sá Cavalcante

O que há na vida para quem morreu?

Há na vida para quem morreu ser a vida de outro alguém. Não há alma que dure de tanto amor! Mas as coisas duram pelo meu amor. Por que meu amor não pode permanecer por mim? Não quero amar o sentimento vivo, quero amá-lo morto. O sentir não se desfaz por morrer.

A vida é uma teoria do amor

Teus abraços não se comparam ao abraço do nada, que deveria ser um momento sagrado de nós. Teu abraço sem vida era a vida que eu tinha. Os momentos perdidos são por onde deixo de abraçar até o nada. Senti meu corpo, na falta de um abraço. Talvez, isso seja solidão! Apenas a espera não é o vazio da dor. Não há espera na dor. Nada tira-me a alma. Onde está a solidão quando sinto minha alma? O nada é a alma no ser! A dor da razão fez com que minha alma desaparecesse, pela razão de ser. Tudo é o meu ser em mim, como não sinto a alma. Talvez, nada possa sentir a alma, esta é a razão de ser: deixar a alma só, para compreender minha solidão, que não é de mim, é de alma, por isso não me sinto só, me sinto sem alma, é pior do que sentir solidão.

Absorver a alma sem mim

Não estou na alma, mas o meu amor está. Como está a vida sem mim? Não está pior do que a alma. Nada é tão ruim quanto ter alma. Neste momento, a alma não está pior, está destruída pelo meu ser. Absorver a alma não traz de volta o amor, não traz de volta quem sou, mesmo renunciando as minhas perdas, a alma, não sou renúncia de mim. Esqueceria a solidão, na renúncia de mim. Esquecer é renunciar tudo, ir de encontro ao céu, onde renunciar é amor, plenitude. De nada preciso para renunciar. Olhar para o céu, estar nele, me mostrou o quanto necessitava renunciar: pelo amor, por mim, pela vida, por Deus. Amor é renunciar o que não tenho, nada querendo em troca de renunciar. Tudo perco sem renúncias: a alma, o amor, a solidão, a essência da vida, tudo está perdido sem renúncias. É mais fácil renunciar o amor do que a solidão. Se eu esquecer o tempo vivido, ainda tenho o que vivi, mesmo que ele não fique dentro de mim, ficou na distância que nos separa, apenas essa distância, sou eu sem você. Perder o tempo na alma é esquecer de ser feliz na eternidade. Se posso ser feliz na eternidade, como não sou feliz em mim, por mim? Talvez, algo falte na eternidade, que somente a alegria possui. Posso não ter alegria, eternidade, mas tenho muito amor para dar. O ser é o único momento de vida que não faz falta à vida, que cria uma barreira com os outros momentos, que são mais vida do que o ser. O ser não é vida de nada, nem dele mesmo. O ser quer que o nada lhe pertença, para não desaparecer sem morrer!

Efêmero (curta duração)

O sonho se desfaz por amor! Tudo dura, na curta duração do nada. Pensar é ser feliz, onde as coisas, a vida, as pessoas, duram apenas no pensamento. O pensar é irreal. A alma vive o não pensar, que está dentro de mim! Tudo vive no irreal do que pensei amar, eram apenas eu e minhas palavras, nada mais. A busca de um sentir que é inexistente é minha alma, despertando do nada, para a vida. O ser e o amor são incompatíveis, como um resto de vida que se foi, sem a vida partir. O efêmero do sonho, da vida, sou eu, como se eu pudesse ficar, nem que seja por um instante, pelo efêmero de morrer, que é continuar a viver, no curto tempo, eternamente.

Nó humano

O adeus é sem nó. É difícil desatar. O nó humano, da fragilidade. Quero me libertar do nada, com a vida, com o nó humano! Que ele não seja apenas um nó, seja uma forma de manter todos juntos, pelo que nos uniu: a dificuldade de desatar o nó, de me livrar da dor, que une. Nada faltará à dor, por isso me desapego da dor! Debilitar a dor, como se não houvesse essa união na dor! A alma acaba com toda união, separa o inseparável de mim! O que ficará no lugar da morte? O ser? A solidão? Ambos disputam esse lugar, mas a vida é única para a morte, como se nada substituísse a morte! Quanta morte num único ser, num único sentir: o de viver! O infinito do olhar é o fim do amor! Preciso continuar sem a vida, sem amor, ao menos tenho a poesia em mim! O amor não precisa acabar apenas porque não existe! Há tantas coisas inexistentes, que são infinitas! Eu não sou o que vejo. Preciso ser verdadeira com a morte: não quero morrer! Sinto que preciso viver, para esquecer a dor! Quando o que vivo está dentro do que sou, me sinto feliz, como se a vida e eu fôssemos a mesma coisa. Fomos separadas pela existência, que não existe mais, ela é apenas o que nos separou para nos unir! Da união, se tem a esperança, que vidas melhores virão! Para olhar eu despreocupada, como se eu já esperasse vidas melhores! Nada deixo na vida, mas fico com ela, como se isso fosse reviver meu eu em mim! Deixando as histórias na vida, para que elas sejam essenciais. Viver histórias é como olhar o mar e me achar. Gosto de escrever quando a razão me supera, ela não pode sentir! Se ser diminuída for sentir, quero ser cada vez menos por sentir! Não necessito ser percebida, mas que sintam meu amor, mesmo sem saberem que nesse amor há um ser! O sentir não me faz agir, o amor é ação, onde se aprende a viver. Não preciso sofrer a dor, assume a minha dor como sendo sua. Ela é ainda mais perfeita, resplandecente por isso. Ausentar o amor do amor é ter certeza do amanhã, que o amor renascerá, sem perder nada do antigo amor! O amor por viver é o amor comum! Quem ama e pensa apenas no amor tem o amor pleno de ser! O amor não envelhece, eu envelheço, me desgasto por amor. Meu ser quer viver solidão infinita, para não perder o amor. O tempo inspira a solidão, para ela ser o tempo que faltava em minha vida! Nada no amor se justifica, tudo se resolve pela solidão! Pela solidão, meus pensamentos são somente meus, assim como o meu corpo é da alma, nunca é meus pensamentos! São amores perdidos, por isso ainda penso, reinvento-me até sem amor. Esconder o mal não é fazer o bem. Tudo é um mistério, que se explica com amor. Sinto o amor na sua ausência. É a única maneira de amar, é ser ausente de tudo, até de mim, para que eu até respire amor! O amor é ausência, por onde o ser se percebe, sem nada ter feito por si, pelo mundo, pela vida. Apenas sei amar! Nada foi esquecido na vida sem o amor. Amar é esquecer. O esquecer é uma ternura, que o amor não tem! O amor não faz falta. Quando eu me percebo, nem eu importa, importa a percepção que tenho de mim!

A vida não existe sem o ser

Apenas a alma pode unir um ser noutro ser. Recobrar a consciência na alma, para existir plenamente no nada, no vazio do abismo, entre mim e a alma, para que eu volte a sorrir, no antes, no depois, no agora, é o mesmo tempo perdido, entre mim e a alma. A solidão não vive, é contemplação. Todo amor que tenho pela alma torna-se o esquecimento da alma. A beleza sem rosto faz que não haja ser, tudo são apenas rostos. Apenas o não parecer se parece com o parecer. O parecer devolve o nada ao nada. A alma muda, sem se transformar. O amor aniquila, não evolui. Cresce a ausência do amor em mim. A consciência torna-se ausente da ausência. A ausência é o único bem que meu ser possui. Possui como algo perdido, sem o infinito. No infinito do nada, encontrei o infinito de tudo. Estou esperando nascer o finito do infinito. O que posso ser para a minha poesia? O fim de sua dor na minha dor. O infinito sofre mais que o finito. Penso no infinito, mas não penso pelo fim, pois fui revirada pelo fim. Se eu amar o infinito, poderei me amar? Pensar pelo infinito é dar razão ao nada. Esse momento de alma não é de viver, é de transcender, como se ir além de mim fosse explicação para minha morte, que foi apenas este além de mim. Nada explica a explicação, nem mesmo o amor. O amor se fará destino da ausência de vida. Se não existe alma, existe destino, que me separa do que sou, mesmo sem alma.

Estrondo

Saudades de mim me dão forças para viver e me apossar de mim. Embora me ensurdeça esse silêncio, essa dor, a vida continua pela solidão que me fez viver sem mim, não tenho mais nada. O que importa não ter saudades, se não existo?! Por onde começo a viver?! Pela inexistência da minha alma que faria qualquer um viver, menos a mim! Quero a alma bem viva pra saber quem sou nela. A inexistência da alma é a alma. Não procuro a alma, ela só existe na inexistência dos meus sonhos. Não procuro a alma, procuro a mim nesta alma inexistente. A saudade de mim me fez me ver com outros olhos, sem pena de mim. O que não via em mim era a minha ausência, onde sou completa. Nada me falta pela ausência, mas nada foi ausência na ausência, foi apenas decepção. A ausência do meu sorrir é minha existência, minha presença. Minhas lágrimas se tornaram ausência de um tempo, um fim perdido, como sendo o nada de uma vida. Não sei se meu ser existe, para mim existirá, se eu tiver ausências suficientes para viver! Vivo, não existo por viver! Sonhar não realiza o nada, que precisa ser realizado! Tudo depende da realização do nada! A falta que faz a ausência me enterrou viva! Vida, tentei gostar de ti, mas te faltam sonhos! A única realidade do meu corpo é a morte, por isso me separo do corpo pra viver! A vida não vive em mim, mas vive na minha solidão, seja ela apenas reflexão ou dor, a vida vive no amor, assim como a fé vive no desespero. A vida não reflete, ela é! Começar a viver é mais difícil do que terminar de viver. O pensar nasce da ausência, por isso é uma falta, um abismo sem fim de infinidade de coisas solitárias que vão além da reflexão. A reflexão não pode se manter viva, nem pela solidão que a reflexão não sente, mas gostaria de sentir, para que eu raciocinasse, não por mim, mas pela intuição! Essa intuição que deixa o sentir nessa alegria que me torna só, tão só que não me deprimo. A vida é a continuação do meu sorrir! A alma se desfaz sem o meu eu, em mim!

A inconsistência da vida (falta de lógica e firmeza)

Modifico-me pelo nada da existência, onde a alegria é apenas olhar a vida, sem percebê-la. Fragmentos do nada, eternizados em pedra. Algo se soltou do nada, sem a vida eternizada em pedra. Luz de pedra a diluir meu amor, como pedras em luz, no saber momentâneo do amor. Deixa-me sentir-me por eu estar distante de mim. A realidade é apenas um corpo dentro de outro corpo, onde posso morrer em paz. Quero morrer no irreal, sem o real de mim. A morte desaparece da alma, nunca do pensamento, por isso não se faz pensar. O ser não é sua morte, ela é exterior ao ser. A distância separa a realidade, não separa o ser do ser. Durmo profundamente na ausência de vida, é como se eu não tivesse morrido, é como se a vida sempre fosse ausente. Ausente como uma pedra jogada no mar.

Quem é o sujeito deste ser em mim?

Meu ser não tem sujeito, é um ser que torna o sujeito irrecuperável. Alma, ventre do nada, onde a esperança é um tênue fio. Andar na esperança é se equilibrar no que pode ser vida ou morte. Não sei em que me equilibro. Não quero enfrentar, quero desabar, como o nada, que esconde a sombra da minha ausência. A minha sombra é a ausência de mim. A ausência é uma maneira de manifestar o amor, que não existe na presença. Estou perdida, dentro da minha presença. Sem ti, nem minha ausência existe. Minha vida é sua. Na sua ausência, a minha vida é minha. Amar é escuridão, cega a minha luz. Quem é o sujeito deste ser em mim? É o teu olhar, que se esconde na névoa da luz, onde meu ser é o teu olhar. Não me deixou ser o sujeito do ser em mim. Mas, apenas por existir você, sei que nunca serei eu, nem pela ausência que me deste, na forma do meu ser. Meu ser não tem forma, cor, cheiro, meu ser quer apenas saber de ti, para te esquecer. O sujeito desaparece no meu esquecer, mas nada te esqueceu. A vida foi mais tua do que minha, isso me torna feliz, como se não houvesse ausência entre nós. Essa falta de ausência não me trouxe você, mas me trouxe de volta pra mim, sem ser, sem sujeito, sendo apenas eu em mim, para mim, numa solidão que não existe. Torna a ausência real numa existência, que deixou a solidão no teu sono, despertará sem mim, enfim, eu despertei sem ti. É tanto despertar, que não sinto saudade. A ausência é uma saudade, que nunca mais terei. O que sinto em mim, aprendi que é só, que é meu. É como se eu não fosse só, como se eu fosse apenas a ausência que quiseste em mim.

A alegria não depende da vida

Um abismo de luz toma conta da alegria. Encontrei o meu amor no inencontrável do meu ser. Para amar, não sou mais nada. O tempo devolve à vida sua ausência, como se não fosse perdê-la. O tempo causa o nada, exterior ao tempo. Onde há amor sem o interior e o exterior? Há muito a viver sem o tempo. O tempo é a falta de coragem de viver, de ser. O tempo impede que eu viva. A alegria é o tempo que se foi dentro do tempo. Não há tempo no tempo. O tempo existe apenas como fim da morte, renovação. Criou-se o tempo pela falta de morrer. Me lembro do tempo, como sendo a minha alma, ainda viva. O tempo é a alma que me restou. Sou afetada pela alma, como um sol que acaba de nascer. O tempo é cheio de faltas, como se fosse preencher minha vida pelas faltas. Perda, que me perca apenas como perda, nunca como amor. Meu ser e o nada, juntos, conquistam a eternidade de ser. Desaparecer é ter alguém para poder desaparecer na coragem de viver. Não existe mais alma no desaparecer, pois quer aparecer no desaparecer da vida.