Blog da Liz de Sá Cavalcante

Dá para amar apenas o amor?

Existe amor sem fala, mas não existe amor sem poesia. O respirar sem respirar é o infinito do amor. É preciso morrer por amor. Mesmo não tendo a quem amar, morri por amor. Lembrei que amar não é ter alguém, amar é ser só. Só como se as estrelas se fizessem em mim, sendo o meu sonhar. Mas a imensidão do meu infinito é sem estrelas. Alma, tome conta do meu corpo, mesmo sem ele ser seu! Faça-o sentir como você se sente. E então, o respirar será frágil, finito, será amor!

A dor de sonhar

A dor de sonhar é o único amor existente em mim. Afundar no nada é encontrar a superfície do meu sentir. Minha única realidade é o meu ser, nada seria nada se houvesse ser. O nada é apenas uma esperança inútil de ser. Não há esperança para a esperança. A dor de sonhar é uma dor vital. O mundo sonha com a vida, a vida se torna o sonho do mundo, já que não pode ser a vida do mundo. A falta de mim é o meu ser. Vale a pena sofrer a falta, se ela nada significa ao sofrer? O que faz sofrer o nada é a minha esperança? O nada é eterno, eu não sou. Tudo vive pelo nada. Não quero a eternidade do nada, mesmo que isso me faça existir.

Alma

Como posso querer algo mais do que ter alma? A alma não me ensina quem sou, mas me faz me sentir exterior a mim. A alma não se tornou alma como certeza de si, de que é seguro ser alma. A sinceridade é uma dor, um abismo sem fim. Quando sonhava meus sonhos, eu não mais existia, mas sonhar comigo é melhor que existir. Vida, eu sonhava teus sonhos sem ti. O fim não é conquista da alma, é conquista apenas do fim. O fim é a certeza de não morrer. Vivo pela morte. Vida, a única lembrança que tenho de ti é minha alma, meu ser é apenas onde te esqueço. O medo de a alma me perder, sou eu a viver. O deslizar da alma se perde em viver. Meu ser me ensina a ser, sem mim. Tudo perdi em ser. O nada é algo que foi perdido dentro de outro ser, que é apenas eu. Existo apenas no vazio de mim, que não se importa com o que sonho, mas, sim, se eu sonho. Aprofundar o nada não é sonhar. Sonhar é deixar de ser eu, ser apenas um ser, que existe por mim, que devia ser eu, não estou ausente, sou apenas eu, sem ausências. A ausência é outro ser em mim. Apenas a ausência me desperta. Mesmo assim, sou um despertar sem ausências. A alegria é ausência da alma. Tudo na ausência é verdadeiro. A ausência é recuperar o tempo. Não há tempo na presença. A única coisa verdadeira na presença é a ausência. Nem a presença, nem a ausência, é o ser. Ser é ser apenas livre, sem ausência, sem presença. Talvez, nem a vida seja presença de nada. Não existe presença, nem mesmo na morte. O nada é a presença de alguém, mas não é presença da presença. Não é preciso ir longe para ter uma presença. A presença está em todo lugar, por isso não existe. É fácil existir sem a presença. Se a presença se tornar ausência, não há mais vida. A reconciliação com o nada não faz a vida existir. A existência não é a vida, não é o ser. A existência é mais pura que o ar. O ar supre a existência que faltava em mim.

O pavor do silêncio na fala

A fala é o medo, o pavor do silêncio. O silêncio é infinito na fala. Amo, pois o instante vive, não é a vida, mas é por onde consigo amar. O desespero é o começo de viver, que pode nunca se tornar feliz. A solidão fala para ninguém, eu falo ao menos comigo, em mim. O falar é eterno. O desapego da fala é a alma. Não há eternidade sem alma. O tempo é indefinido pelo olhar que lhe damos, se define infinito, sem um único olhar. A alma deixa o tempo escorregadio, como se algo pudesse fluir no tempo, como eternidade. A eternidade, sem tempo, tem em si apenas a maneira como olhei para o tempo, para lembrar da minha eternidade. Sou eterna em viver, em morrer, em ser quem sou. No fim do silêncio, cresce minha dor. Sofro por me ouvir, quebrando o silêncio, amortecendo o amor. Nem pelo silêncio, consigo ser minha alma. Eternidades partem por ficar, o ser continua o mesmo sem a eternidade. A eternidade é uma maneira de chegar ao ser. O ser é refém da eternidade, mas o ser não existe na eternidade, por isso é eterno no nada, no vazio, mas não é eterno nele mesmo. Meu eu no ser eterno, talvez somente assim eu possa amar, pela eternidade que se foi.

Como comunicar sem o vazio de mim?

O ser conhece o nada, sem o nada. Apenas o nada comunica o vazio em mim. Comunicar para esquecer. O incomunicável comunica mais do que o comunicável. Abstrai a alma do amor, e a realidade se fez na alma, de uma maneira que não existe no ser. O ser é imaginação da alma. Não há o que imaginar na imaginação. O imaginar é apenas o pensamento, por onde nada sinto. Para sentir, é preciso ser livre, deixar de imaginar, começar a viver. Vivo para imaginar, como se o céu fosse a vida dos meus sonhos, tem que existir apenas em sonhos. Um dia, a vida alcançará o céu, vida e céu serão a mesma coisa, na vida dos meus sonhos.

O sonhar da alma

O sonhar da alma é a solidão de quem não vive. A alma não supera o ser ou não supera a ausência do ser, que é o ser noutro ser? Não adianta preencher a vida com palavras, se as palavras não vivem, se são minha morte. Que morte eu seria sem palavras? Somente a alma cessa o céu pela eternidade. A ausência do céu é o real num sonhar eterno. Sonhar é céu, é despedida. Sonhar me despede de ser. O ser sem o nada não pode se despedir, não pode ter vida, não pode ter morte.

Plenitude subjetiva

O ar respira o ser, na presença do ser, que é apenas o ar, que purifica a alma, me faz não existir, me deixando no ar que respiro tão leve, solta, que nem a sombra me afasta de mim. Jamais a alma recolheu o amor no ar. O amor recolheu o ar na alma. Voltar à morte faz com que eu não me recolha. A plenitude subjetiva me fez amar a vida sem perdê-la, como se eu tornasse o que sou, sem precisar do real. Não posso perder o real por amor. O amor é a falta do céu. No céu, deixo o amor pela plenitude. A plenitude é a subjetividade do amor. Nada é possível no amor, tudo é possível na plenitude, mas não é possível me sentir plena na plenitude, sinto-me apenas morrer.

Nada falta no olhar

Nada falta no olhar. O olhar é um desaparecer tranquilo, sem alma. O olhar não é uma falta, por isso é uma carência. A alma não vive, tem força apenas para chorar. Será que sou eu que vive a minha vida? Ou é a minha ausência que vive por mim? Fugir sem me esconder é ocultar o nada em mim. A alma vive no oculto de si mesma. Fui descoberta pelo esconder da alma. Não sou minhas vivências. Vivências adormecem a alma na vivência de Deus. Por olhar o sol, não necessitei nascer para viver. Sou algo inacabado, desconstruído, por isso amo. Quero que a vida seja meu corpo, minha alma. Me lembro de a vida partir, num corpo sem olhar. O amor não é como gostaria, mas ficar sem amar é devolver o olhar ao olhar. Não posso devolver o olhar ao olhar, ao perceber a ausência da falta do olhar. O olhar invade a morte com vida, assim poderei estar inteira, como se eu fosse o meu olhar.

O além do ser cessa o eu em mim

O além do ser cessa o eu em mim. Continuam me vendo como ser, por isso existo para os outros. Se ausência não é a ausência sentida, mas, falada, sem começo, onde somente há o fim. O fim não supre minha ausência. O que levei da vida não me deixou pela própria ausência, que é esse nós. Não importa se morri triste, minha ausência me fez feliz. A lembrança foge, na invisibilidade do morrer, que não é o morrer. Morrer somente cabe na ausência do sofrer. A alegria é uma ausência que não faz falta à ausência. A ausência é vida. A vida nada é depois da ausência, mas tudo é na ausência. A ausência não é o nada que criou para mim.

Inacreditável o amor

A espera é a morte que dou a mim. O encontro é não restar nada dessa morte. Mas isso não faz eu me encontrar. Passei por cima da morte, senti um vazio real, consistente. Essa realidade supriu o nada. A espera é uma alma, em que posso acreditar, ela não me deixará partir, como se partir fosse a sua espera. Nada se vive sem esperar. Eu fiz da espera a vida que não tive. Amor é não aceitar a presença das coisas, da vida, do ser. É inacreditável como o amor deixa de ser amor por uma presença.