O que é o ser em mim se começo a viver? Não é mais nada. Não é mais nada, mas meu ser ainda está em mim. Se não aceito o fim, tenho que ficar entre a vida e a morte para que o meu fim seja o convívio humano.
O que é o ser em mim? |
O que é o ser em mim?O que é o ser em mim se começo a viver? Não é mais nada. Não é mais nada, mas meu ser ainda está em mim. Se não aceito o fim, tenho que ficar entre a vida e a morte para que o meu fim seja o convívio humano. |
ImensidãoA imensidão é o segredo da vida que abala o mar. A imensidão da vida existe apenas dentro de mim. Imensidão é sorrir, quando a vida me diz não. Transformo seu não em um sim. Nada me conforta pela imensidão vida afora. Olho para a imensidão do infinito, vejo como sou só, como sou feliz, mais feliz, mais feliz que a imensidão, a desabar num abismo sem fim, onde a imensidão se resigna num vazio sem fim. Mas a imensidão vive em mim. Não sei se estou impregnada de imensidão que está impregnada de mim. O que importa é que já consigo sentir falta de mim. |
Desapareci no arDesapareci já ausente de mim. O desaparecer fracassa, é visível ao amor. Cessar a vida sem morrer, para que algo apareça como presença de mim. Este desaparecer é presença eterna da vida. Não vou a nenhum lugar, não vou existir sem o desaparecer. Desaparecer sozinha é de uma alegria infinita, é como existir apenas para mim, então meu sentir é livre, alcança o voar, esvoaça o céu, o agita, ventania de paz. |
Exílio da morteA alma tem o olhar de Deus ao morrer. O exílio da morte é a falta de mim. O irreal é necessário ao ser, é como viver com as portas abertas. O irreal é vida infinita. Meu ser, tão existente em sua inexistência, como se eu me separasse da alma pela existência, para não me entristecer, pois tudo é tão feliz, que não há forma de existir. Existir apenas pela tristeza. O ser existente é o não ser de si, apagado pela inexistência do ser. Morrer é minha existência. A existência não pode esconder a morte da vida, sem a morte da morte. |
Luz não é vidaA luz não é vida, não tem destino, não tem amor, apenas ilumina, como se pedíssemos para ser iluminados, mas nós nos acostumamos com a escuridão do mundo, que não é solitária, somente é só na luz. A luz apavora a alma. Deixa o olhar frágil, à mercê da imaginação. Deixo o olhar para o imaginar. O céu, reflexo da luz do imaginar do amor. Lembrar do abandono de viver, no amor que sinto, é nada mais lembrar. Lembrar, sem nada sentir, é como morre o amor. Você está dentro do meu fim. Assim, a luz descobriu que não é só, é uma luz cheia de alma, e nenhum amor, por isso, vê o seu silêncio sem esperança, sem luz. Meu olhar, sem ver, vê a luz da vida, silêncio que deixa a luz fraca, mas, sem a minha fragilidade. Nem o silêncio conhece nós duas. A luz, mundo desabitado, para o resto da minha vida. A luz dança em minha alma, como a alma nunca dançou para mim. Dançar, flutuar, amar é apenas o nascer da luz, ofuscando o nada. Percebo a luz em ausências cegas. Não posso expressar a luz, minha ausência, então lhe faço companhia e faço companhia ao meu olhar, tão distante de mim. Compus a luz com a poesia do meu amor. Amor, que estava morto, renasceu como luz. |
A vida não percebe o meu perceberA alegria é o absoluto, como se fosse a alma a me dizer: fica. Fiquei apenas por este momento de ficar. Permaneci mais do que a permanência. Aprendi a sofrer. Sofrer é dizer sim à vida. O ser nunca está só, pensa. Pensar ocupa meu ser no meu ser, distrai a realidade do meu pensar. Amo um ser que é inexistente em mim, por isso, a alma não acredita que eu sinto. O sentir em mim pela alma torna a alma o desprezo de mim. Meu ser é diminuído pelo pensamento. O ser não pensa quando tenta pensar se destrói. A alma se encanta com o pensar. O amor basta para amar? E se o ser já nasceu como amor? O que falta no amor, para que ele aconteça? Como tratar o amor? Escrever é amar por mim mesma. A morte não cessa meu dom de escrever. Não consegui escrever sobre o silêncio, ele está dentro de mim. Amar o mar em silêncio é concretizar-me num sonho. O mar não quer que eu sonhe nele o que ele quer sonhar em mim: é mais do que ser, é a vida tornando-se mar. Perco os sentidos, não deixo de pensar no mar, que responde minhas insatisfações. Deixei meu amor no mar, como se eu fosse amanhecer. Quero fazer do mar um encontro com Deus: isso é mais natural que o mar, no mar que se vê infinito, pois assim quer parecer. Não sei o que o mar vê em mim. Assumir o sol, por causa do mar, é amor infinito numa tristeza infinita. Me deixa brilhar como se fosse o sol. Ficar só, como se eu fosse incendiar de solidão, que solidifica o amor, me enfraquece sem tristeza, como se eu pudesse ser feliz. Quero ao menos viver este instante, como se fosse a última poesia a despontar no azul do céu, assim, o azul do céu é para sempre céu, é para sempre azul. O céu não se perde no infinito de ser. Quem sabe que amo a vida como se fosse o azul do céu? O tempo eternizado pelo céu, não precisa contar os instantes. Pensa em mim pela luz do céu, iluminando Deus com meu simples amor. |
Nada nasce do que pode existirO mundo que caiu aos meus pés não é o mundo que conquistei. Deus, me deste o mundo, mesmo assim, deixou-me chorar só. Não procuro escuridão ou luz, procuro a mim, como se a escuridão fosse a distância do céu. Persigo a luz, aproximo-me do céu. Assim, fiz do desfolhar, do fim da eternidade, o meu ser. |
ExtremidadePelo sol, amo. O sol necessita das estrelas, que não são sonhos do céu. Escondo-me na luz para não ver a vida. Seria necessário um esforço mais do que humano para viver. A vida, sem esforço, não é vida. Nada tenho sem esforço até a imaginação, é esforço do meu sentir. Sentir me faz esquecer de mim. Eu nunca sonho como o sol: eu deixo o amor chover em mim. Não importa se a vida existe, para mim, ela existe. A consciência não é consciência, é o nascer do nada se expondo ao infinito mortal. A alma é um desamparo de tanto amor. Rio, pedra, mar, é a mesma vida, o mesmo amor. Meu ser não depende de ser, pode ser qualquer coisa que não é. Ser algo é para principiante. A luz que não posso ver é escuridão, que me transforma em realidade. O sonho é a realidade de Deus: é Deus! O desassossego de sentir a alma é o cessar do amor. |
Limitar a realidade à vidaO ser, extremidade da vida, começa a limitar a realidade na vida. A vida, realização de um sonhar. Vivo dentro de um sonho de amor, espero não acordar. Mas e se acordar for a continuação da vida? Vivi o sonho sem sonhar: foi como se algo fosse acontecer por um sonho. Lágrimas são mortes que necessitam secar, para murchar o tempo. Assisti a minha morte como um filme verdadeiro: pelo seu fim. A morte partiu no meu chorar, fiquei só, nem minha inexistência me fez companhia. |
Sombra da morteA sombra da morte, oportunidade de viver. Você aparece, eu amo, como se descobrisse a eternidade de viver. Por que o amor não pode ser apenas eternidade de viver? O que me faltou por amor? O céu, as estrelas, não são eternos: são um espaço em branco, que vou preencher de amor. Nada se subtrai do amor. Ver com olhos de amar é nada ver. Há lembranças que fogem sem ver, não conseguem fugir de si mesmas, veem a si mesmas, não veem que faz parte da vida. Tudo são apenas lembranças, será para sempre apenas uma lembrança. Mas, ao morrer, as lembranças se tornam vida. A alma de uma lembrança é superior à minha alma. Não sei viver como escrevo. O superior à vida torna a vida transcendente. Não há vida na transcendência, a vida transcende mesmo assim. Transcender é irreal. Nem mesmo o ser ou sua alegria podem dizer o que é esse instante, não é de vida ou de morte, talvez sendo de ser este instante continue em nós. Não evito a realidade: torno-a luz, mesmo ela querendo ser a escuridão. Não esqueço a escuridão com a luz. Nada nasce na luz. Proteger-me da morte é meu fim, que não precisava morrer comigo. Morro apenas no silêncio cortante de viver. |