Blog da Liz de Sá Cavalcante

A vida do nada

A vida do nada é o amor que eu sinto sem mim. O vazio e o amor se misturam para nascer a lembrança, assim como nasce o ser. O amor será lembrado como lembrança, não como amor. Escrevo pela proximidade de ser alguém nestas palavras, que nem sei o que são pra mim. A vida do nada é sem palavras, significa mais do que qualquer palavra, do que qualquer adeus. Minha vida é o que escrevo, não sei se é poesia, mas é o meu amor. Tudo que passei para escrever, deixei de lado meu emocional, a minha identidade, para escrever com alma. Tento fazer minhas palavras a alma, o sonho de outro alguém. Sentir para não escrever, confinar a alma, fazê-la sofrer no sentir, até abandoná-la no sentir de ser alguém. Esse abandono é mais do que escrever, é essência da alma. Apenas assim, estou livre para me sentir como me sinto. Me sinto o que não pude ser, o que nunca vou escrever em mim. A poesia não espera por mim, eu esperei por ela a vida toda, agora a incorporei em mim, não sei o que fazer comigo. Sempre fui o amor, o sonho, a poesia de outro alguém, nunca fui poesia para mim. Mas, a poesia quis ser minha, de um amor que nunca teve por mais ninguém. Sou tão feliz quanto a poesia. Não sei amar sem poesia, antes eu não amava, não tinha a poesia dentro de mim, onde falo o que sinto apenas pra mim. A poesia se torna mais forte com a minha voz dentro dela. Esqueço o infinito do meu ser, pela divindade do amor.

Pensar é despedida

Pensar é despedida, de qualquer coisa que ainda permanece, como uma sombra acesa. A alma não fica como sombra acesa, alguém precisa necessitar cuidar da alma, sem a sombra acesa. Meu amor não é menos vida que a vida pelo limite da voz, que é menos que o ser. A alma não sai de mim, nem pelo nascer do dia, que estanca o sangue do amor. Buscar a mim, pelo sangue das lágrimas, é o sol, o céu, a sair da vida para vir pra perto do meu amor.

Falar

Falar pela pele no amor que sinto, ninguém tem pele como eu. Falar o que não sinto, tem cheiro de pele, mas não é pele. Nenhuma dor que seja como pele. Mas a dor cuida de longe da pele em que habito sem habitar. A pele do meu pensamento é mais resistente do que a minha vida, do que o meu amor, é melhor do que o infinito de nós duas, que se derrama em mágoa.

Precipício sem fim

A realidade perde o pensamento, nunca o teve! A realidade é a alma, onde o precipício, sem fim, não tem mais medo da minha morte, do meu ser. No precipício, há o pensamento alheio, um dia ele pode ser meu, sem estar alheio a mim! A ausência do teu pensamento repercute no meu! A ausência do pensar é a minha realidade! Não suportaria dividir o meu amor com o pensamento! Me dói ser feliz, como se não houvesse nenhuma alegria em mim, mas há essa alegria, que o pensamento me dá! É pior que não ter alegria, uma alegria que precisa do pensamento pra ser feliz! Percebo a vida como outra vida, onde nada de ruim pode acontecer à alma, por ela estar dentro de mim! Se dentro de mim é apenas alma, não posso sentir pelo interior de mim, sinto apenas a alma, que não é o meu sentir, o meu amor! Tudo que eu puder tirar da alma não servirá para mim! Mas, a alma serve para eu perceber o quanto estou só: de pessoas, de alma, de amor, de mim mesma! Nada na alma pode ser meu, nem mesmo a sua presença! Minha alma não é sua presença, mas torna sua solidão minha. Alma na alma… Não há escuridão, tudo é visível, acessível ao meu amor, que cabe dentro da alma! Tudo na alma é a minha presença! Suspiro alma, para saber que existo! Tenho mais alma que consciência! Sinto mais a solidão do que penso que me deixaram só! Mas não causei a minha clausura emocional, apenas a alma não me deixa só. Não há solidão na alma, há solidão apenas no meu ser! A alma vive apenas nela mesma, não se sente só! Mas, ela não me sente em sua presença, seu amor! Coitada da minha alma, tão lembrada por mim! A solidão somente é boa se for absoluta, não deixar vestígios da vida, nem de mim. Minhas vivências são solitárias, pois são amor. Do amor, não restaram esperança, expectativas de amar?! O que faço com todo esse amor, e esse mundo, que me convida a viver, mesmo não existindo amor em mim!? O precipício é sem fim, pelo amor que há em mim. Sem precipício não há amor! O adeus é sem alma, sem solidão! A liberdade não me torna livre, pois ser livre não é seguro. Eu dependo do sentir para viver! Minha alma talvez me ame à sua maneira! Vou repelir todo ódio, todo amor, ficar sem alma! Mas como tirar a alma de mim, se ela não está em mim?! Comparar a vida com o ser é o mesmo que comparar a morte com a vida! O meu amor, nem a vida alcança! Talvez possa fazer algo pela vida escrevendo, onde a eternidade do meu sentimento fica apenas na folha de um caderno! A morte me vê onde não mais me vejo. A morte é meu primeiro e último olhar, que deixa o nada pleno, mas o nada vê mais do que eu: vê a vida! O amor não existe agora, passado, futuro, o amor não é o tempo que temos para viver. Amar é não esquecer o outro, como ele é. Ser como é capturar o tempo dentro de mim. Não há vida para ser esquecida, mas há um esquecimento, que se deve viver como vida. A vida do esquecimento não é a vida que se esquece. Não esqueço a vida, esqueço a mim, sem nenhum precipício para eu amar a vida mais do que a mim! O precipício sem fim é um desejo, uma vontade de me igualar à morte, de ser mais do que a morte! O destino é o precipício dentro de mim! O sol não ilumina toda a vida, mas me fixo na metade oculta da vida. Me sinto oculta. O que vivi sem a vida é raro, insubstituível. Vivi o necessário da vida, que é sua finitude! A vida, para Deus, é infinita, como se teus olhos me vissem em meio ao nada, para acreditar que ainda estou viva! O precipício me salvou por salvar a vida! Mas, a vida não queria ser salva. Ela quer apenas que o precipício e o nada saibam o que um dia ela existiu! Mas sua existência nada salvou, conduziu tudo à morte, à dor! Ninguém lutou pela vida. Preferi fugir da alma, onde iria morrer, mas também iria viver! Não sei onde minha alma se esconde, se ela cansou de fugir, se vai voltar. Vou esperar sempre por ela, sempre nela, o meu ser vivente de amor! Não morrerei sem alma, sem saber o que é a vida! Nada importa, procuro abençoar minha dor, sem amarguras. Eu fui mais longe do que eu mesma, me tornei alma para uma alma inexistente! Nunca a conhecerei, a chamo de Liz! Esta alma nova é apenas um consolo, chamo-a apenas de alma, onde só preciso que ela exista, como se fosse minha alma! Ela é mais do que minha alma, ela sou eu!

Ter sido em mim me faz ser eu hoje

A plenitude é uma dor, que cessa ao morrer. A vida é o nada, a morte se vê no nada. Para sentir a profundidade da alma, tenho que fazer do corpo superfície do nada. Minha identidade não se relaciona comigo. Eu sou onde há sol, vida. Apenas a vida não tem alma. A realidade da vida é a alma, que me distancia da vida. O ser e o nada, é uma maneira de ter a vida perto de mim. O nada está além da vida. A alma fala, ama, sem nada interior nela. Ela é seu próprio interior. Me solta da alma, num sentir absoluto. O amor do sentir é solidão. Ainda sinto o sentir pela solidão. O amor pertence ao nada, o nada não é o ser. Deixa-me viver por ti, não pela alma. Começar a viver é ter alma, pelo fim da vida, que não me impede de viver. Pelo vazio sou escutada no amor. Alegria, você deu à alma sua vida. Vida que não era feliz com você, alegria. Sem mágoas, alegria, nos perdemos em viver. Alegria, antes de você nascer, eu era feliz, como se você nascesse de mim. Tudo nasce como se eu abraçasse o nada que não nasce. Para viver, tenho que me ver neste não ser, que é existir para mim. Me ver neste não ser, cego de mim, é me libertar do amor. Eu vou recuperar o não ser de dentro de mim, é como viver.

Desencanto

A alma tem um encanto que desencanta a vida. Não me contenho em alegria. Não ser é uma alegria que é real para a realidade, não para o meu ser. Meus sonhos se parecem com a alegria de uma única realidade: ser eu. O real são apenas palavras. A morte é única para mim. O que parece ser vida, para mim, é apenas ser. Minha aparência desaparece na vida, no incomum do meu respirar. Falta eu sonhar para respirar. O vazio sou eu a respirar por mim. Sem o vazio, não há respirar que suporte o convívio humano. Tempo suficiente, acalentar o respirar, apesar de mim. A morte são destinos que se encontram sem alma, sem ser, sem amor, apenas a reverência ao nascer da morte. Como a morte pode tirar o sol de mim? Destinos se desencontram no amor, no ser, na alma, onde o vazio de ser me esquece no vazio de morrer. Nada se aproxima da realidade de morrer, é como se não houvesse realidade em morrer. Morrer é o princípio de tudo. De repente, tudo, todos se veem na morte: é o que há de especial no fim, que nunca será amado como fim, é amado apenas como é: uma tristeza infinita, a alcançar o céu. Não me desencantei, morri sem a sombra da minha ausência. Nunca fui tão presença, como fui presença eterna absoluta de mim em morrer. Morri com a minha presença, sendo a morte de um amor clandestino. Morri em palavras, no silêncio, no meu corpo, mas não morri para mim. Em mim, ainda sonho com uma vida possível, que a vida permaneça no amor, como permaneci em ti, tristeza, numa resignação de amor por ti. Começar a viver, mesmo sem teu amor.

Enquanto sinto, estou viva

Viva por sentir. Apenas sentir é nítido, nada mais importa, quero apenas sentir, sem a sombra de um adeus. A morte é uma qualidade minha, que não posso perder. O sentir atravessa minha alma, tira-me o fôlego. Suspirar é a última lembrança do meu sentir. Por morrermos juntas, somos diferentes. O sentir vive por mim. Dei minha alma ao meu amor. Meu amor não se compara à minha alma. O amor faz com que o nada seja nada. Admirar é a liberdade de ver além do possível, mesmo sem me ver. Ver-me acabaria com toda admiração que tenho pela vida. Nada me toca como se vê.

A morte do desaparecer

A morte do desaparecer aparece apenas por dentro de mim. Por isso, não se parece com o que é, mesmo assim, sei o que é a vida. A vida é uma lembrança que cessa, antes de acontecer, por isso é eterna. Nada se faz eterno na eternidade. A falta de consciência é o amor. A consciência do amor é o ser. Quando não há mais nada no amor, o ser, enfim, significa algo em si. Dei para a alma minha falta de imagem, que lhe serve como sendo sua imagem. A imagem é o amor, de quem a imagina, antes de ela existir. Nunca duvidei que a imagem da vida é a alma. A alma, quando deixa sua imagem, nunca mais se abandona. Eu queria viver o abandono da imagem da vida, sem a alma. A falta que me faz ter alma me faz visualizar a perda da imagem da vida, como um olhar interior. Fiz da imagem a ficção do meu olhar exterior, meu olhar interior. O interior da alma é desaparecer, como o exterior da alma, onde a lembrança do olhar se faz olhar, mais do que o olhar. Entre tantas lembranças, me fiz só. A alma se fez em mim, sem me dar a mim. A morte não desaparece, na morte do desaparecer. Tudo é apenas palavras, que falam no desaparecer, de forma única, singular, onde vejo através de mim, sem ver a vida para ver. Ver tristeza sem alma.

Amo mais do que o amor

Por mais amor que há nas razões do amor, o amor do mundo tirou as razões do amor. Se não sabe como ser, ame. A luz é uma venda nos olhos. Sinto a luz sem o olhar. Tudo que deixei de viver pra sentir faz falta ao sentir. Quem levou minha alma de mim jamais terá minha alma dentro de si mesma. O sentido não faz sentido dentro de mim, mas resplandece na minha ausência, como a melhor coisa que fiz: sentir por ti. Livre de sentir, aos pedaços, que é como o sentimento fica, quando eu o sinto. Eu o sinto, sem ele estar aos pedaços. A alma é melhor chorando comigo a sorrir. A vida não é um objetivo. Viver é me esquecer. Esquecer determina minhas possibilidades. A saudade é um peso fácil de carregar. A alma interior a mim é a mesma alma que é exterior a mim. O amor é a distância de ser. Sem amor, o ser está próximo de si mesmo. A presença oculta o meu ser de mim. Tem coisas que a alma não compreende, que é compreensão da vida. A alma torna a vida melhor do que ela é. Eu espero como um sonho. A ausência é um sonho concretizado. A alma é um sonho distante, que todos necessitamos ter. Não há sonho para o sonho. A morte não interrompe o agir do meu ser. Agir é morrer. O amor é um olhar distante da vida, que dá a impressão de saudade, sem saber o que é saudade. Na alma, não há saudade de ser. Quando não há mais o ser, há saudade. A saudade é o único pensamento que penso, como se fosse pensar na vida. Para pensar na vida, é necessário deixar a saudade de ser, sem o vazio de mim.

O despreparo da vida na vontade do mundo

Por que não ceder à vontade do mundo, contra a sua vontade, vida? Por que apenas sua vontade prevalece? O que quer o mundo além da sua vontade? Que vontade infinita é essa? Pensei que a vontade tivesse um fim. Como se vive sem vontade? A alma do imaginar é o mundo. Imaginar é ser, existir. Preparar a vida pro mundo é amar a vida, como se fosse o mundo. Por que a vida não pode ser o meu mundo? Como imaginar o que não existe? O que falta existir na vida é apenas o mundo? Sei que o mundo existe sem a vida, assim como o vento precisa de ar, e eu, de respirar contra o ar, contra o ar de um adeus. Me imaginar sem amor é me mutilar. Pouco a pouco, me desencanto em amar. Amar é apenas a sombra de um adeus? Perdi a esperança de um adeus, ganhei a fé no amor. A vida não sabe o que fazer com o mundo que lhe foi dado, na esperança de que a tristeza seja o fim do mundo, o fim do mundo é o ser, que tinha o mundo no seu interior. De que serve o amor sem o fim? Amar para sempre seria viver. Não mereço viver, se pertenço ao meu amor. O amor não merece viver, por isso vive para sempre.