A dor vai desentranhar a alegria que não tenho. Nada existe no amor, onde nascer é apenas voltar a mim. Vida, não maltrata meu nascer, ele veio de ti ou é só um pensamento da ingenuidade de criança a dormir, como se nascer fosse esse sono, esse gozo da renúncia de mim. Nasci para lutar contra a vida?! O ventre da vida é o que não permanece em mim, mas a falta do ventre permanece. Existo apenas para provar que pude nascer?! A vida é inútil, o amor é inútil, nada faz perceber a verdade do ser que condena o amor. Eu acredito na verdade para poder amar a visão do mundo, é essa verdade interior que se sobressai até no vazio de si mesma. Talvez, a inspiração seja uma verdade além da verdade. A inspiração é a falta do interior que cria vários interiores, para que eu deixe a inspiração pelo interior. O interior também é alegria. Dá medo ser feliz. Minha alma enrijece meu corpo, meu coração, para o que não está por acontecer. O que pode acontecer em ser feliz?! Ser feliz é ser invencível. A força desta alegria é o nada. As lembranças nem sempre são tristes. Cada lembrança é um calvário de alegria. Dispersar a alegria, apenas para não desabar no abismo de mim, é a única realidade em ser feliz, um sopro de luz a inundar a escuridão. Tudo que faço pela escuridão é sonhar com a luz. Luz que tem um pouco de mistério, foi ultrapassada pela escuridão que absorve o tempo, a vida melhor do que eu, mas absorver as coisas vividas não é tudo, é preciso sonhar, rir, chorar, se desesperar com elas para que fique um pouco da luz da vida em nossas presenças, mesmo que no fim reste escuridão. Não deixo a luz se apagar em mim. Viva ou morta, ela sempre será aquela luz que foge de encontro a mim, pois ela sabe que para mim nunca será escuridão. Faz falta a luz em plena luz, faz falta a saudade na saudade, faz falta querer a vida pelo ser que existe dentro dela, que é um pouco cada um de nós que rompeu com a realidade para viver a vida. A vida foi expulsa de dentro dela, mas está dentro de mim. Vida, me dá forças para continuar em ti, contigo ou sem ti, tua presença nunca falha, nunca muda. Deixa os instantes na vida do depois, onde esses instantes não importam mais, deram lugar ao ser, à vida, ao que foi perdido, que tem que ser resgatado apenas pelas lágrimas, não pela vida. Não é fácil chorar sem a vida, mas tem o lado bom. Aprendi a ser, sem a vida, como se eu fosse um pássaro aprendendo a voar, contagiando o céu com alegria, que somente existe em voar no infinito de nós, que é maior que o céu. Voei com a alma, com o amor, não voei como pássaro, mas sim em mim, como eu mesma voando na imaginação. Pareço nunca aterrissar, quero viver voando, em amores sem fim, que são minhas asas, minha liberdade, que dedico a quem sofre. Quem não aprendeu a voar pode se segurar em mim, para não cair. O céu é o limite do ser. A alma vive nas minhas asas, no meu amor, no meu imaginar. Nada é eterno sem alegria. Voa comigo, deixa o medo voar contigo e ele será livre, tu também serás. Essa é a alegria que imagino em mim, sem medo de amar, mas se não há o que amar, fico a voar, como se o céu voasse comigo, numa alegria eterna de eu ser eu neste instante, que, mesmo sem vida, nunca fui tão feliz!