Encerro-me. Fecho os olhos da minha janela da alma. O infinito é o mundo sem a vida. Durmo no vazio de mim, de onde não acordarei. Não morri, estou perdida dentro de mim, mesmo que dentro de mim seja apenas vazio, ainda tenho a sombra da minha ausência, me dizendo para reagir, que existo. Vejo nesta sombra minha morte, minha dor, por isso durmo eternamente na sombra da minha ausência. Se sou sombra, tu és apenas um vulto, uma impressão de morrer dormindo. Não acordar é dizer sim a mim, à vida. O sono, vigília da vida, vigia meus pensamentos íntimos, como nuvens a se esconderem do céu. Nos meus sonhos, o céu tem fim, que não vai ser preciso sofrer pelo céu, ser pelo céu. O céu pode ser apenas a certeza de viver. Assim, tudo tomará conta de mim: o céu, as estrelas. Para o céu, que eu preciso abraçá-lo sem o infinito, humanamente, como se a vida e o céu estivessem guardados para mim, para quando meu amor acordar, comigo a dormir. Encerro-me não dormindo, mas em ausências, que é como amo. Abro os olhos da minha janela da alma, para o céu acordar com minha inspiração, e eu, perdendo a inspiração, é que percebo no quanto faltou-me sempre escrever, amar. Sou refém do meu sentir, como se fosse me abraçar. O abismo é feliz sem morrer, ausente da minha ausência, penetrou em meu corpo como se eu flutuasse. Enfim paz, enfim encontrei a vida, como um flutuar de um único instante, onde vi a vida, pela primeira vez, como se meu corpo, suspenso por viver, fosse a vida que quis. Incorpóreo sem corpo ou no corpo, me fez flutuar e vi o céu tão pequeno no meu olhar. Flutuaria até que algo me contenha, voltaria a dormir sorrindo. Este foi um momento de todos os momentos, dividido em ser só. Não sinto sua solidão, sinto seu amor! Talvez não exista inspiração em viver. Mas, posso me inspirar no meu amor, e abraçar o nada como sendo a minha maior inspiração: viver. O outro não me ama porque o quero, mas sim por me inspirar em seu amor, como sendo inspiração para eu amar, até meus pés tocarem o chão e eu me revirar em liberdades, realidades, que é tudo conquistado, por eu ter sonhado um dia, como uma estrela que desaparece do céu, ninguém percebe, mas a Natureza morre de dor, não há encanto, poesias, apenas imperfeições aceitando a vida, perdi o dom de flutuar, ganhei o dom de viver.