A apreensão da alma é não necessitar se preocupar em ser. O ser para o ser é a atenção da alma. Vivo a alma, como se fosse o resto de nós, que se encontrou sem alma. A alma é por onde desaprendi a viver vivendo. O real da alma é sua ausência sem alma. Até eu conseguir ter alma, já morri, antes de ter alma. A morte e a alma são a mesma coisa. A distância não é distante de mim, como alma, mas como distância, quem influi no real. O acalento do real é a distância. Ser só, na realidade, é a distância que não existe por dentro de mim. Se meu interior fosse essa distância, não seria tão distante de mim. Compreender não é ficar perto da alma, é me separar dela. Tudo que aprendi na alma é esquecido pelo sentir. Sentir é a alma dentro do nada. O nada me faz sentir-me eu. O nada, matéria do corpo. Eu, o que o tempo não separa. Por dentro em mim, compreendo o amor, exterior a mim, o ser se compreende, como um saltar de vida. Nada da vida é o chão. A espontaneidade da morte tem o direito de agir como quiser. É espontânea, como umas carícias de alma, amor. Eu não inventei a morte, já que ela existe, posso torná-la amor à vida. É preciso morrer às vezes, para sentir saudade de viver. A morte me impressiona, onde ela é simples, como olhar o sol, como correr na areia e sentir a brisa do tempo. Escrever é a parte que falta no morrer. Por que não posso morrer no que sinto? Como voltar à realidade depois de morrer? O sonhar é um começo da realidade, que é apenas o começo interminável do nada. Se preocupar com a alma, sem lhe dizer adeus, é conseguir amar o que falta na alma. Eu não tenho consciência, procuro pensar, o vazio cresce, a ausência é absoluta, como se eu pudesse pensar nessa ausência. A ausência é o pensar da alma, onde não necessito pensar na paz dessa ausência. A ausência do mar é o mar, a ausência do amor é amor, não sou ausência de mim, nem a ausência consigo ser. Há uma infinidade de ausências para não me sentir só, ou ficar na presença solitária do nada, como se fosse minha ausência. A ausência é a alma da alma. Não existe alma sem ausência. A alma nunca será presença de nada. Quem tem alma não precisa ter presença. O início é o fim da alma, posso confiar e aproveitar apenas essa ausência, como se tivesse no meio do nada. Por mais que eu queira necessitar da alma, é impossível, assim como é impossível ter o fim do sol dentro de mim.