Blog da Liz de Sá Cavalcante

Vida

Estou feliz apenas por estar feliz, ao conhecer a alma, todo encanto, milagres, são possíveis, como o nascer da esperança viva, que não existe reprimida ou adormecida em mim. Sacudo tudo em mim, me sacudindo, me sinto ainda viva, como a minha esperança renascendo como o sol, a alegrar minhas dores, tristezas com esperança se tem tudo: posso ver o fim do mar como um amor infinito, onde o sol se fez mar, e a alegria tornou-se eterna. Cada dia estou nascendo um pouco, mas não nasço completamente, por isso, sei que a minha solidão, é um milagre de Deus em mim.

Tensão

Estou tensa, não consigo chorar, esvazio a dor sem chorar, morrendo calada, no silêncio de morte da ausência. A ausência sabe o que dizer a mim, prefere que eu morra, deixa de ser ausência com morte e se torna vida. Nem lembra de mim, do que sofri por ela. Dei a minha vida por ela, achando que assim eu seria eu. Nada desaparece na ausência, vi a luz da morte sendo presença na ausência, nunca será uma presença ausente. A alma da morte faz bem às outras almas: é como se o sol começasse a sorrir, mas é apenas a lembrança do antes. Não é a lembrança do amanhecer. O amor é o sol depois do sol. O amanhecer não pertence à vida, pertence aos sonhos. Toda esperança é o amanhecer. O amanhecer não sobrevive à realidade, mas sobrevive ao ser. O ser ama pelo amanhecer. Pelo amanhecer, o mundo, a vida, existem e, assim, há paz.

Desassossego

Sinto o não sentir. A alma existe no concreto: eu a cheiro, a amo, e por isso a ignoro como uma vela nunca acesa. É tanta luz, não há espaço para a escuridão dos meus sonhos. Tudo é luz, realidade, que se confunde com a realidade do ser. A falta do ser. A falta do corpo não determina a alma, mas é alma. A alma já nasce alma, eu não nasci eu, me tornei eu pelos meus tormentos. Lembrar de ser já é ser. O cessar é a alma no puro sentir. Nada está na sombra do amor. Exausta de sombras e imagens em mim, quero apenas ser real, como uma flor em pétalas. Quero a saudade clandestina que torna o sofrer meu sofrer. Não tenho ilusões no meu olhar de ilusões. Adormeci na ausência de um adeus, que me afasta da falta de mim. Deixo minhas mãos serem alma, pela paz temida, para poder morrer de mim, ser cura para as minhas mãos de sonhos. Procurei minhas mãos: elas são minhas poesias concluídas por serem só. Vagando de uma poesia a outra, não me sinto perdida, triste. Sinto-me eu, mãos calejadas de sonhos, os torna vivos, reais. Enfim, posso morrer, na paz de Deus.

Mergulho no nada

O nada, raso em meu mergulhar, onde não há ausências, perdas. Meu olhar raso, vazio, triste, perdido no infinito, capta a vida, num mergulho finito. A lua despedaça o infinito, com a sua grandeza de alma. O infinito não é mais só: está despedaçado. Não há nada pior do que morrer sem poesia. A poesia me torna um ser, um ser para a poesia. O fim da alma tem portas nas ausências, desembaraçadas pelas perdas. A perda é definitiva. Sorrir é a perda de mim? Não há saída na consciência. A consciência é o fim das perdas. A consciência é o fim do ser, da ilusão de ser só. A permanência nunca é o agora. O agora não existe, mas eu existo. O nada toma minha ausência de mim, a tornou consciência, onde tudo é possível. A alma é o passado. Cheguei ao fim da vida ao morrer. Mas a vida não tem o meu fim. A minha morte sendo o fim de tudo.

O absurdo de sofrer

É absurdo sofrer como se eu existisse. A apatia da alma em mim é amor na insensibilidade absoluta. Sofrer é amor? Defino o sofrer como a ausência, a falta de alma no meu amor. Com o meu amor, a falta do amor é meu ar. O voo da morte se debatendo no céu, como um sonho. Apago minha alma na luz do sonho. A primeira luz se perde em céu. Não quero prender a luz nos meus sonhos, como se ela fosse a lua da imaginação. Meu corpo se movimenta de solidão, mas não vive de solidão. Poesia, quando não puder te ensinar mais a sonhar, entre no meu corpo, onde se isola sem coerência. Deixe-me em meu corpo, e então pode me esquecer, como faria com uma estrela sem luz.

A eternidade da eternidade

Escrevi na escuridão sem vazio, alma, ser. Escrevo o nada. Cesso o sonho na presença do sonho. Nada importa: tudo é eternidade da eternidade. O sonho não é o mesmo sem o fim.

Lagos da consciência

A transparência não é consciência, é mais do que isso: é um lago da consciência que retribui ao nada sua própria consciência. Não tenho consciência do céu. O céu está dentro de mim. O que ilumina é a falta de consciência. Minhas poesias se desmancham no lado da consciência, como se houvesse ideias de poesia. Poesia é amor. Me arranca de mim, poesia, me faça viver. O sol aparece na poesia, onde a lua são minhas palavras, no sorrir profundo de ser alguém para mim. A lua penteia as palavras. Transcender é a memória do nada, é o nada, me dando vida.

Dispersão

O pressentimento de morrer é o nada sem o nada, numa dispersão absoluta e absurda. O que imagino é o real misturado com o sonho. A paz é imaginação. O sonho às vezes é imaginação, às vezes é apenas certeza. O excesso não é de escrever, é de viver. Não há alma no sonho, na alma, é uma ilusão. Apenas a morte é penetrável, como uma pele que se abre sem se partir ao meio. Sonho com uma morte impenetrável, em que posso lhe falar de tudo. Mas a morte me escutará? A morte não me escuta no céu, me escuta em mim. A morte é o desejo de ficar sem a eternidade da vida. A eternidade do ser não é a vida, sou eu mesma. Pertencer à vida não me faria ser, existir. A aparência é possível do ser. O nada não é nada, é a sabedoria divina sem a dispersão de ser. Sou dispersa ao lado de alguém, fica apenas o momento ainda intacto. Sou livre na liberdade da alma. Falta a beleza, o sentir. O bocejar da alma é o mundo. A verdadeira existência é o nada. A falta de existência me faz perder o nada sem perdas, como algo que não era meu, então não existia para mim. Me dilacero sem o nada: única lembrança, referência de vidas. Vidas que são opostas ao nada. O fim da vida não é a morte, é o ser. A morte é a alma a falar comigo, preenchendo minha vida da morte. Não há eu para morrer. A escuridão se aproxima do nada. A morte retorna à morte, saindo da morte.

A lembrança se torna vida

Vou amar a vida ao perdê-la. Assim, a lembrança se torna vida. A alma age como se tivesse vida. A alma aprisiona o nada com um resto de sol na alma. Esse resto de sol se torna nada, se eu não o vir. As lembranças queimam sem alma. Qualquer palavra me dispersa da vida. Me expresso com a vida. Nada suporta a dor de viver. A vida é a impossibilidade de ser. O amor é a sabedoria da vida penetrando no sol. A vida precisa apenas me fazer viver, assim como nasce a poesia. Mas no nascer só não existe poesia, é não necessitar do outro, não necessitar de solidão. Sou apenas a luz que tudo ilumina. A lembrança é luz dos olhos, o ser é luz da alma. Sou a falta do meu ser em uma alegria eterna. Minha alegria é conseguir sorrir.

Abstinência da alma

O silêncio sem alma se descobre sem alma com a alma dentro de si. A dor faz a alma não sufocar, ela dá a impressão de existir. Se a alma se fizesse em mim, mesmo sem ser minha, seria uma alegria, seria para sempre. Alma, não faça do meu amor um favor que lhe faço o tempo, me esconde na alma, mas a morte não consegue me esconder de mim. Sou paciente com a alma, deixo que ela queira que eu viva, para eu, enfim, viver.