Não se morre sem a vida. A vida depende da morte para existir. O que posso esperar da vida, além de morrer? A morte e a solidão são a mesma coisa? E o que é essa solidão em vida? É padecer sem morrer. Minhas mãos são a espontaneidade do mundo quando escrevo, como se eu fosse as mãos do mundo, nas mãos da vida. Quem é só pode se imaginar viver, como a sombra da inexistência, que torna o olhar uma sombra do nada. O depois é a imaginação tranquila, nunca realizada. A imaginação quer chegar ao nada, mas é impossível. Pelo amor, o nada se realiza sem a imaginação. A imaginação é fria, destruída, frágil em sua frieza, como um vidro que se quebra. Tudo se pode esperar do imaginar, menos que desista de imaginar. Imaginar é ter alma. Nada posso esperar da vida, descanso numa imaginação morta, como se me faltasse algo por não viver. Consigo imaginar as coisas sem mim, sem o indefinido da minha morte. É como se minha morte tivesse uma definição pelas coisas vivas, que não estão no ser, e sim nelas mesmas. Apenas a imaginação perturba o sonhar. A alma é minha única esperança de ser feliz. Como o nada pode partir sem mim, se eu fui o partir da esperança do nada? Partir é viver, é ser o partir dentro de mim, não por partir, mas por ser só.
Esperar pela vida é pior do que morrer? |