Blog da Liz de Sá Cavalcante

Anos de solidão

A solidão não tem fim, isso não me assusta, sou infinita também no amor. Amo a solidão, não por mim, mas por um momento apenas meu, onde me desconheço, conheço apenas a solidão, como se eu fosse voltar para a realidade de ser. O fim é apenas o interior de mim, o cessar da alma, como um respirar profundo. Nunca mais serei a mesma nessa respirar, ele é apenas o silêncio interior dentro do silêncio do mundo. Não sou mais a solidão, não sou mais nada: essa é a realidade que faltava em meu ser para surgir a vida do céu. A vida é o mundo, o céu, tudo que estiver só. A vida não é só, chove vida em mim, para que o sol da morte não desapareça.

Insônia das palavras

A essência é a desigualdade do ser, onde a alma é igual a si mesma. O amor das palavras é a insônia delas. No céu, as palavras iriam descansar sem ser palavras. Por isso no céu as palavras são a vida do céu. Sem o céu, tenho apenas a consciência da minha fala. A palavra não sabe o céu que tem. O céu quer a realidade para si. Perdi o céu para a realidade. A luz dos meus olhos é sem morte.

A alma me ilumina

O positivo é sem nenhum pensamento, por isso, a alma me ilumina. O positivo não traz bem-estar. Não desperdice a alma que me ilumina. O amor não é a alma que me ilumina. Sei de mim, se a alma me ilumina, sem a podridão de sentir. Ao me sentir, cessa a luz da alma, pelo iluminar da lua, que transcende o infinito, como um céu no seu fim, que é o fim do ser. O infinito que procura o fim do ser, como se o fim fosse a sua alma.

Fragmentos de eternidade

Não cesse minha alma, nem acredite nessa alegria: são fragmentos de eternidade, de sonhos que deviam estar costurados, como se fossem alma. Determinações sem vida é esse vir a ser poético. A ausência em morrer é a alma na minha presença.

Ver é crer que vejo

O tempo da poesia é ver e crer que vejo. Ver e ter a poesia em mim para mim. Amor é abandono, a vida nas estrelas da solidão do desgosto. As cinzas da morte, meu único aparecer. Aparecer no desaparecer em estrelas. Não há alma para a alma, mas há o meu sorrir. Sorrir é como ter alma. Minha presença conhece a vida, eu mesma não a conheço. Amor é como olhar a vida no meu sorrir. E tudo me sorri também. A lembrança é o espírito na alma. Essa inércia inacessível, como o movimento da alma na vida. Estou prostrada ao movimento da vida. O espírito é a margem da vida. A beleza não cessa com a morte.

Expressão de interioridade

A perda se perde antes de eu me perder: essa é a interioridade do ser. Exercitar a morte na alma, na poesia, não a deixar morrer. Morrer é um espetáculo vazio. O vazio é a alma que não existe. Vagueia como um fantasma no nada do vazio: é como uma estrela sem céu. O vazio necessita escolher entre mim e o nada, continua vazio, sua escolha é sem escolha, mas é um objetivo. Faça a morte parar de gritar por dentro de mim, não vai existir silêncio, amarrado, no nada, sem convicção. Ficar na morte é sem vazio. Pelo vazio, expresso meu amor quando a morte for o vazio, vou querer morrer. Nada em mim morre, essa é a separação da vida que me violenta de morte. Silêncio arrebatador, encantador. A morte não sabe onde eu estou. Estou dentro do silêncio que a morte cavou em mim. Não há nada entre o silêncio e o ser: a morte é esse nada.

Eclodir (surgir)

O sol surge como um sonho da noite. Acabar com o amanhecer, como o surgir de uma poesia. A poesia é o olhar de Deus em mim. Conheci a vida pela alma. Morrer sem amor é descobrir o mundo no amor, inexistente, como nascer do nada.

Alma da alma

Apenas em encostar tua vida na minha, sou feliz, amparando o nada da vida. O silêncio da alma cessa a vida. A alma da alma é apenas eu. A falta de consciência é a consciência absoluta: a consciência da alma. Se a minha consciência for consciência da alma, serei ainda mais feliz. O sopro do nada é a vida do meu amor. O amor não pode manter o real no que sente. O que o amor sente além do amor? O nada. A alma faz do nada o meu olhar, o meu amor. O silêncio canta o nada como uma lembrança de ouvir.

Acreditar

O vazio é uma oração. O abismo não é o vazio. Sem o vazio, como acreditar nos meus sonhos? Não sou só se sinto vazio. Não sou nada para a minha consciência. A aparência é o possível do pensamento. Dando um fim ao pensar, sou possível para mim. Sendo o fim do possível, tornei-me luz. Se a luz morre, deixa meus olhos para mim.

Pele revestida de dor, de mim

O surgir da vida me parece uma despedida. O bom se torna ruim. A morte não é um pensamento, é a pele que me rasga. Sentir e amor é diferente de permanecer. A permanência é um pensamento eterno de impermanência que supera a permanência. A permanência é o silêncio interior. A consciência é minha vida. O céu é a consciência de Deus. A alma é exterior a mim, dentro de mim, apenas tristeza. O interior não é a dor da tristeza o silêncio, é o ar voltando à realidade de viver. Nada é tão só como a solidão. Amar só não se vive só. A solidão é a natureza do ser. É a minha essência que não se essencia como o nada. A falta fala eternamente sobre o nada. O fim não se satisfaz no ser. O ser se satisfaz no fim. Por mais que eu diga não, o fim está dentro de mim.