Blog da Liz de Sá Cavalcante

A certeza sensível ou o isto

A certeza sensível ou isto me faz amanhecer. A certeza inunda o mar. A vida está declamando meu amor. Tudo fez só sem o mar. Quero adotar o mar com meu amor. O que posso fazer para amar a vida? A abracei, nada senti, mesmo inteira de corpo e alma. Os abraços inventados no sonho são mais reais, mais plenos do que o abraço corporal. Abraços, onde estão suas lembranças, que invadiram o mundo, o céu. É impossível voltar ao corpo da amargura. Nada posso fazer sem um corpo. Luz do céu, desfolha o sol no meu corpo até a escuridão acalmar o céu. Ver a luz é como se não houvesse escuridão. Não fique triste, escuridão, revela tua alma, para te compreenderem. Meu verdadeiro olhar é a escuridão fugindo do meu olhar pela luz do céu que cega o sol. Luz das carências, nunca me pertencerá. Todas as vidas são essa luz de carência, que nada quer além de mim. A vida explorando a realidade, deixa de ser vida, do que não ficou em mim, por mim. O tempo é o passado, precisa ser esquecido para eu ser saudade de mim. De uma maneira ou de outra, nasci. Sou minha, não deste nascer que morre em mim. Morrer é apenas minha outra alma, num amor que não é meu. Outra alma feita para eu me esquecer de tantas almas, tanta exaustão. Essa exaustão não pode ser amor. Dormir é ser eu, não posso ser eu, prefiro a realidade, prefiro a realidade sem mim, para eu olhar para trás. Meus sonhos me tornam real para mim. Tenho apenas sonhos para contar a alguém que já me conhece em sonhos. A boemia de amar. Abençoe meus sonhos nos teus. Vida, soube esperar por mim. Sou agradecida, me ensinou a ser eu. Foste a vida do meu sofrer, não minha vida. A vida, sem antes ou depois, preserva o instante do seu olhar, que é saudade, é antes, é depois, na mesma vida, mesmo sol. Crie uma saudade para a saudade, seja feliz.

A oposição entre o ser e o saber

A vida vivente em mim me ama quando escureço na alma. A escuridão é uma luz profunda que me apaga por dentro de mim. Sem alma não há luz, nem escuridão, é onde existo. O começo e o fim são o sacrifício de Deus. O desaparecer da luz é a imagem infinita de Deus. Quando a luz aparece, Deus desaparece na sua presença. Deus, você é a presença que durou na vida. Dê vida à morte, estou sem mágoa de morrer. O mundo é grande, cabe a vida e a morte. O mundo é pequeno, sem vida ou morte, ele se torna poeira do tempo. O mundo é o oposto do tempo. Entreguei ao tempo o mundo, apenas assim fui feliz, com as horas existindo distante de mim. Assim nasceu meu tempo emocional, invadindo o céu das minhas súplicas. Minhas súplicas são o meu amor, meu tempo, minha saudade, meu céu, minha oração. Inundada de imaginações, nunca estarei seca do mundo. Que a vida se faça amar. Amor é saúde de vida, não saúde de morte. Tenho carência de morrer, assim como o céu é das estrelas, assim como o sonho pertence à imaginação. Queria pertencer à imaginação, assim como o sonho. Queria afundar nas estrelas, chegar à superfície do céu, criar novas estrelas para o céu, com minhas poesias.

Martírio

Nasce o amor: uma vida pode servir para outra vida. O amor me faz ter uma aparência. O tempo nasce sem amor, como um sol nascendo sem vida. Vida nasceu sem o tempo. Eu queria a vida em um único tempo: ser feliz. Feliz como a sombra do meu coração. O amor caindo do céu. A chuva, o mar, o sol, a vida é o amor. O desespero é amor. O amor não é amor sendo amor? De que vive o amor? Do ser? Se tenho perdas, tenho amor também. Um dia as perdas serão amor. Quero chamar a vida pelo nome. Mas que nome teria a vida? Preciso unir a vida à saudade de viver. A aparência buscando a vida. Deixei-me sem a busca da aparência. Morri sem ter aparência. Meu sonho é minha aparência. Talvez a falta de aparência seja amor. Tudo fiz para ter uma aparência, nada fiz por mim. Fiz pelo sol, pelas estrelas, pela poesia, para ser isenta de mim. O outro é o não eu, por isso eu sou eu. Queria falar com o outro eu em mim, para não ser mais eu. Se eu agir certo, amar o agir do amor, verei a vida. Jamais sonharia, mas admiro o sonho. Ele ficou com a minha sensibilidade. Fiquei vazia, parece simples, mas não é: é como se eu fosse excluída do mundo sem sonhar. A existência é um sonho, não quero viver de sonhos, a poesia perderia o sentido, talvez nem existiria mais. Abraços são distâncias reais. O tudo que eu era nunca existiu. Na vida não há renúncia da alma. Os abraços fogem da alma, apenas minha alma me persegue: parece me abraçar ao me perseguir. Talvez ela não saiba ser diferente do que é. Quando o mundo se tornou pequeno para mim, resolvi ser do céu, das estrelas, como se eu fosse o mundo do céu. A estrela é uma saudade que era para nascer. Nasci da estrela, dessa falta, dessa saudade de viver, escorrendo céu em mim, sem sangue, sem dor. Saudade irá embora apenas com a minha morte. Saudade, abatida de amor. Não quero vencer o que sinto. Deixa-me tocar a saudade sem estrela. Quero ver a alma, não pelo olhar perdido em viver, mas pelo meu amor.

O desespero é sem solidão

Deixa a alma do lado de fora para que ela possa sentir o sol e captar o significado da vida na alma. O céu são hipóteses de que a vida é sozinha no céu. Será que necessito viver? Depois da vida não há eternidade, há o céu. Brinca com meus sonhos para o céu ser mais verdadeiro: sem mortes. Há mortes que se escondem. Na verdade, há mortes falsas, sem verdades. Sangue na alma e a solidão no corpo. O céu é um desespero sem solidão, onde as almas vivas em minhas poesias céu protetor, sem morte, vida, apenas palavras. Não há céu na lembrança, nem sem lembranças há céu. Trocar de lembrança é não ter outro em mim. Céu, você realizou meu pensamento. Não sei se o serei um dia. Mas, de alguma maneira, meus pensamentos se tornaram minha vida, mesmo sendo pensamentos de morte. Um dia serei a paz da rocha, a se debater no mar. Serei atenta ao amor que sinto, até ele se dividir em mim. Deixo a solidão falar para o meu desespero, não para mim. A solidão é o mundo, não as pessoas. Não são sozinhas, se fazem sozinhas, como um abraço de solidão, de tristezas. A tristeza é o que quis ser, por isso nada posso ser para a tristeza. Não há início nem fim na tristeza. Murchar a lembrança da vida, florescer a morte com a fé na morte. É contraditório ser, viver. Quando o espírito está nas mãos da morte impossível a morte está em mim, sou espírito. Sou o que fala no escutar indefinido do céu. Ensinei o céu a amar, a viver. Mudanças do céu é a minha liberdade de amar. Posso ser ainda mais se o céu, se Deus quiser.

Como resgatar o céu no saber?

Resgato o céu no saber pela minha alma. A justiça de Deus é minha alma, é cedo pra dizer se isso é bom ou ruim. Tudo que sei um dia será céu. Mesmo assim, o céu já está no meu saber: no saber de ver. Olhos no céu com a alma saindo de dentro do céu. Ver é amor, que o céu não compreende. Mas eu sou este ver o céu, mesmo sem ele perceber o meu amor. Admiro o céu, queria a infinitude do céu para mim. Eu, em você, é sem graça, sem caminhos, sem céu, sem destino. Com você não tenho amor nem para mim. Sou mestre em sofrer, em ressuscitar o fim. Há fim até nas minhas poesias. Aceito o fim como o começo de outra poesia. Sofrer para ressuscitar a eternidade, torná-la humana.

O sentimento do mundo na vida

Sentimento do mundo, foste a minha vida. A vida entrou no sentimento do mundo tão vazia, da mesma forma que saiu. Sair do sentimento do mundo é deixar a vida amar o que lhe restou. A vida aparece quando mais preciso dela: para morrer em paz. O mundo vive a vida, como eu. A faca que tentei morrer é sem alma. Não morri. As asas da liberdade se debruçam em mim. As asas da liberdade são a vida, o amor. Morrer é ganhar asas que servem como alma. O tocar isola a alma. A alma não é tocar na alma. A alma é uma perda vital. Eu vivi a alma em mim. O tempo da alma é o ser. Não há corpo na perda, mas há corpo na morte.

Sentir para não falar

Se sinto, posso me calar. Mas o que calo fala ainda mais. Amor e fala se misturam. O que cala é o ser ou a voz do ser? A lembrança é o silêncio que abraço, amo: silêncio de amor. O é e o será, ambos têm que se dividir com o tempo, com a vida. O corpo é a alegria da alma. A alma sente falta de um corpo, mas é feliz de me ver com um corpo. Sentir para não falar é falta do meu corpo, não do meu ser. Saindo do meu olhar para a vida, descubro meu corpo noutro corpo. É fácil me esquecer mesmo sem esquecer o meu corpo. O corpo não necessita de alma, necessita de mim. Sou a perfeição da minha alma. O ser não é o mesmo que o sujeito. A morte não me destrói, não desperdiço a morte com a vida. Vida, o que há em ti da morte? Estou a sonhar comigo. A distância é um sonho que encontrou seu destino nas mãos de Deus, que escreve a vida, não poesias.

A leveza do meu amor é minha eternidade

A vida vive na minha saudade. Se a vida tiver um fim na minha saudade, será um fim de eternidade. O fim da vida é o sempre. Fim que busquei na alma, encontrei em mim.

Perder o tempo sem me levar da vida

Nada me leva, eu fico. Isso é minha condição humana de ser eu. Se a vida que deixei for minha, ela deixará eu me levar, como o mar, que rompe a correnteza da vida, num céu que se abre para mim. Renasci das minhas cinzas. Clarear o sol com a escuridão da solidão. Fiz da alegria que tenho em mim o meu agora. A alegria não tem futuro. Lembrar-se da vida, enfrentando-a, tentando viver. A morte é uma maneira de ter a perda em mim. O incomunicável se comunica em sonhos. Os sonhos se comunicam já mortos. Sou o renascer de um sonho. Sonhar é sofrer morrendo. O instante é a falta de vida que não admite sofrer. Sendo ou não sendo eu, a vida é a mesma nos meus sonhos. Converso com a vida sem sonhar. Vejo que a vida dos meus sonhos é uma ilusão. A ilusão é inútil. Momentos são amor que não se pode viver, nem mandar embora. Faz parte de mim. Eu que não era parte de nada, sou uma parte dos momentos, mesmo sem vivê-los. Viver abraços que duram. Não consigo ficar sem abraçar o céu. Abraço o céu, plena, cheia de alma, como se eu tivesse um corpo de céu, que se mistura com o céu, com a alma. Mande-me notícias da vida. Alguma vez a minha alma me encantou, mesmo sem eu estar viva? Viva para sentir a minha alma em outra alma, onde o sol não se esconde, se mostra. Mataria minha alma para me tornar aparência de qualquer coisa que você me notaria, com o amor que tenho por ti. Senti minha alma em tantas almas, menos em mim. Menos em ti. A vida pode ser apenas chorar, sofrer, que vale a pena viver. Viver é eterno sofrer, penso ser feliz sofrendo, quero me sentir viva por sofrer. Extravasar morrendo, mesmo meu ser já sendo morte. Há tanto tempo que ultrapassou a eternidade, sem luto, lágrimas, sem afeição alguma com a morte. Fico apenas com o seu suspirar nostálgico, embalando a noite com meus sonhos fugidios. Meus sonhos fogem para perto da vida. Sou feliz sem sonhos. Fiz o certo, sou feliz por isso, estava exausta de amar sonhando, ficava sem forças, frágil, amo agora o amor. Infinito, tornou-se real para mim. Teu amor ausente tornou-se apenas uma saudade boa. Mas quando penso: essa saudade podia ainda ser amor. Nada preenche essa saudade, nela não existe amor. Eu conquistei o tempo, a vida, o amor, sem você. Mas ainda sinto saudade, não sei de que, talvez seja de sofrer, de a morte reconhecer meu sofrer e me tornar especial, como se existisse apenas o mundo e eu, sem teu silêncio a contaminar minhas palavras, meu sofrer, na tua ausência, que nem silêncio mais é.

Abandonei-me na minha alegria

Abandonei-me na minha alegria para massacrar a minha alma. A alma foi ficando como um amor distante. Nada se chora no amor. Amor é a sinceridade do tempo agindo em mim. A alma é pesada de sentir como uma metade que não perdi. Foi arrancada com minha alma, para que eu escreva o infinito. Sem o infinito de meu amor, amaria o infinito com um adeus. O adeus é promessa de vida. Sem adeus, difícil continuar, não sei dizer adeus ao falar de adeus. O adeus não é para sempre em mim. Quando amo não existe adeus. As perdas, sem o buraco de mim, me procuram no amor perdido, que foi encontrado nas perdas como sendo o nada. Há nadas que não são perdas, são atitudes. Não tenho atitude na vida, mas tenho atitude nas perdas. Morri só, como se tivesse alma, para morrer só. Quem se atreveria a brincar com a alma? Perda é atitude. Para sonhar é preciso a verdade. Sonho sempre mais. É tão encantador morrer. A lua partiu na morte. A falta da lua me faz sonhar. Sonhos são luas partindo. A vida de cada um dá uma aparência à morte, a coragem de parecer, sem se parecer com nada. Eu fiz do infinito do meu olhar, a aparência da vida. O passado é a luz na falta no olhar. O infinito nasce e morre no meu olhar. O tempo falta do medo da ausência. Não se pode ir além no tempo, o além cessa o tempo com um olhar. Nada perdi em morrer. O tempo não me pertence. O tempo é a separação do ser no ser. Deixar de separar o ser no ser é morrer. Morrer para o céu se curvar no nada. Prostrando-se no nada. O tempo faz milagres. Deixa o tempo viver em mim.