Blog da Liz de Sá Cavalcante

Um destino para o destino

O descanso eterno se cansa no meu abraço. É um destino, sem destino. É maravilhoso não ter um destino, nem meus sonhos têm um destino. Chorar é não existir vida além das lágrimas. O tempo se completa sem ser vivido. O que se pensa ser o tempo é a alma partindo de onde nunca esteve: no ser. O ser é a inexistência do tempo, não é comodidade a inexistência do tempo, é como uma flor que floresce. O tempo da inexistência é o ser. O tempo da existência é a alma. A existência não tem fim, nem mesmo pela sua inexistência. A alma não é a existência da existência. É a companhia do nada, que é por onde a existência aprende a se conviver.

O adeus é uma fuga

A falta é a intimidade. Tocar o nada é mais do que tocar, é sentir o nada, personificar-se do nada. O adeus é uma fuga de tudo. Encontrar o nada, onde não há adeus, há a palavra “nada”, que o vazio expulsou da vida, do amor! O amor é nada, é tudo, onde as lágrimas revestem o céu de certeza, deixa-o mais azul que o seu azul. O corpo é um nada com vida. O eu somente é um eu na morte. A vida é onde fica o limite entre a morte e o ser! A palavra não deixa o limite se desviar do ser. O limite é o ser, às vezes é o nada. O tempo nunca é descoberto, suspenso no nada. A morte é a única consideração com a vida. Um instante rompe a vida em sucessões do nada. Tocar o vazio é torná-lo real, sem me dilacerar, apenas a paz da vida, que dorme. A realidade é um vazio sem vazio, um amor sem amor. A segurança de um vazio é o nada. Tudo se perde no amor: o meu ser. As vivências são distantes de amar, são apenas solidão. O que é vivido é apenas para ser esquecido. Tudo sinto, apertada nas paredes do esquecimento. A morte é o único caminho nos descaminhos de ser. Quando olha a distância, não vê a mim, vê a vida desaparecer como um sopro eterno de vida, num sonhar além da vida: é monótono como o mar, como amar. Não preciso dar o meu sentir à realidade, o sentir é a própria realidade, a aparecer para si mesmo. É sempre uma surpresa reaver o sentir pelo sentir. A sombra da ausência é um sol enriquecedor. Não sei se o vazio tem a mesma beleza do sol, que se esconde no universo dos pensamentos, onde o sol é sempre sol, eu sou sempre eu, independente do que sinto, do que possa sentir, sempre serei eu! Estagnei no sentir, com o meu olhar entre mim e eu. Como sinto falta de ser, sendo em mim o que não sou?! E se isso for o meu ser refletido nele mesmo? O que é o ser sem o ser?! Há mesmo esperança de ser?! Mesmo vazia, ainda é esperança! Passei da vida para o ser. É imprevisível ser, às vezes penso que estou sendo em ti, tristeza, o que não fui em mim! Uma voz cala o silêncio com palavras. O adeus não é uma fuga, é um jeito de viver o silêncio na minha voz, longe da consciência do mundo, onde a vida é apenas este silenciar, de paz, de amor. A vida não é consciência de nada. Pela vida, o mundo perde seu encanto. Não dá para comparar o mundo e a vida: a vida jamais se alcança, o mundo é o interior do meu ser, que me deixa morrer, quando o ser é. A falta de morrer se aproxima mais da realidade de ser só, mas essa não é a única realidade entre mim e meu ser. A abertura da vida é o nada, onde se abrem possibilidades. O nada não vive sem o ser, sem a vida. Não há vida para o nada. Se vivo sem o nada, é pelo desejo, pela fé, de que nada diminui ou substitui o ser em sua morte. O que diminui não é o ser, é o desejar existir, tão distante quanto amanhecer! Parece que o amanhecer afasta o desejo para longe, onde o ser é ele mesmo, noutro amanhecer, que só existe dentro de mim! Não amanheço por mim, mas pelo meu ser, que amanhece mais do que o sol. Eu trataria o amanhecer pela falta que ele faz. A noite é um pedaço desse amanhecer, mas estagnamos pelo sol, pelas estrelas, pela lua, por um pedaço de céu, que nos faça amanhecer, senão agora, depois que juntos tornarmos o amanhecer real. Tão real que ele amanheça em minha alma, nunca em mim!

O nada me possuindo

Possui-me, como se não significasse nada para mim. Sua indiferença seria o seu amor por mim! Suavizar o início com o fim. Significar não significa o fim. Eu vivi o suficiente o esquecer do fim. Quero ser meu próprio esquecimento. O vento, fim de um sol amoroso. Morrer é entrar dentro do sonho; o sonho passa a ser eu, e eu o sonho. Despossui-me do nada sem morrer, quem sonha não morre, fica encantado. Tudo serve para morrer, nada serve para viver. Não morri, sou filha da morte, dos laços inesquecíveis de ternura, que me fizeram morrer como um pássaro abrindo as asas. Morri como um pássaro sem asas, por mais que tivesse asas para voar, não quis. Voei em morrer, em não te dizer “adeus” como disse “até breve”.

A alma é de todos

A alma é de todos, pois não é de ninguém. O amor depende do tempo sem o espaço. O espaço é o próprio amor. O amor não é inseparável no pensamento. Pensar não é amar. A vida é a alma de todos. Sou a escuta da alma, onde começava a vida. O amor cessa no ser. Posso dar jeito nas estrelas, mas não posso dar jeito na minha alma! A alma, sendo de todos, é a eternidade que permanece eternidade.

Profundidade sem o olhar

Tudo tem um olhar, mesmo escondido. A beleza do olhar da vida não tem profundidade, mas a vida é tão íntima do olhar que não precisa ser profundo para ser especial. O impenetrável penetra em mim, como sendo a falta de poesia na poesia. O som da morte é o silêncio feito de alma. O fim sem envelhecer é a vida da alma; para a alma, não envelheci. Tenho a eternidade da alma em mim. Não custa recuperar o meu olhar com a vida. Olhar com vida é olhar eternamente, mesmo que seja só eternamente. Eu sou só pelo olhar. A sombra do meu olhar é a vida: imensidão do infinito. Meu pensamento é o infinito, que se manifesta num adeus.

O espírito da solidão

O espírito da solidão me faz sentir o vazio, ele está dentro de mim, não como solidão, mas como esperança. Meu ser me consola, como se o espírito da solidão vivesse em mim. Nada vive dentro de mim. A morte não aparece para o espírito da solidão. O espírito tira o sol da alma. Tudo na alma é espírito. Então, é a alma que tira o sol de si mesma, como se fosse apenas espírito.

Amor universal

A morte é um amor universal, penso estar em cada um a minha vida, menos em mim! O amor é individual, mesmo sendo universal. A lembrança é o desaparecer do amor. Tudo desaparece no amor, até que a lembrança não seja uma forma de amar. A lembrança do amor está na minha alma. Alma, conforme-se de ser apenas uma lembrança, mais esquecida do que o esquecimento. Para esquecer, não é preciso ter lembrança, é preciso ter amor. Esqueci a vida, para não deixar de amá-la. O mundo são sensações perdidas, sem lembranças. Lembranças são tristezas nunca sentidas. Meu olhar é a minha morte sem a minha sombra. Morri, sendo a sombra de outro alguém. Inventei algo fictício, que não seja sombra, embora nunca possa ser um ser. A vida não é para sempre, o ser é para sempre, continua sendo até depois de morto. E assim a vida se reconcilia com o nada, num novo amanhecer. Este é o amor universal: o amanhecer, que une o amor, as pessoas, que refaz o nada no amor. Amadurecer é aceitar o amor que sinto e que sou amada, não pensar no fim. Fazer do fim apenas um detalhe do amor e amar, amar, amar…

As almas são iguais?

Isolar duas almas iguais é o nascer do existir. A vida se preenche com a morte, a morte se preenche com a vida, sem se importar se as almas são iguais ou diferentes, para a morte e para a vida. As almas são iguais, mas apenas dentro do ser são iguais. A leitura não substitui a realidade. As palavras escritas e sonhadas não são as mesmas da realidade. As almas, nas palavras, não querem dizer nada, nada significam. Palavras precisam de vida. A vida nas palavras não é frágil como no ser. As palavras podem se reinventar, o ser não pode. A falta de imagem é vida.

Apenas um abraço pode tornar real a presença da alma

A alma não está no abraço, mas é a realidade de um abraço que torna a presença da alma real. Tão real, é como se eu me visse nesse abraço. Criei a imaginação, que me esmaga de tanto abraço. É necessário deixar o abraço na vida, não em mim. Olhar afasta a realidade, como sendo um olhar a mais, nunca um novo olhar. Um único olhar explica a vida. Na falta de abraços, abraço meus sonhos. Sonhos evaporam com vida, sem o infinito de ser. Tive saudade de sentir saudade, pois sei que o tempo retornará. Não precisa retornar por mim, fiz do tempo palavras. Sou visível na alma, onde nem a morte me fará desaparecer. Morte, foste tranquila no surgir de um desaparecer. Vida, como conseguiste me amar sem amar a poesia em mim? Mas não conseguiste transformar minha vida em morte, como uma poesia que não foi jamais escrita. Escrevo respeitando a vida. A falta de morrer é o fim da escrita. Escrever é vida.

Integridade

O amor partiu, sem existência, sem solidão. Existir é solidão que não ama, escreve-se no ser, como se o ser pudesse entender sua existência nas palavras. A solidão é íntegra, nada quer de mim, não quer nem a minha solidão. Solidão é falar, sem a fala poder absorver o nada da solidão. A vida é um amor inacessível. Amo tanto sem a vida, que não acredito que ela seja razão de amar. A vida, doendo na alma, não consegue respirar. Eu respiro o amor inexistente, como se fosse o amor. Respiramos juntos, amamos juntos o nada de ser.