É bom morrer, na alegria eterna que buscou meu ser na vida, e o encontrei na morte. Morto para mim, mas meu ser em vida para os outros. Não posso morrer completamente só: morri noutro alguém.
Amo o que há de estranho em mim |
Amo o que há de estranho em mimÉ bom morrer, na alegria eterna que buscou meu ser na vida, e o encontrei na morte. Morto para mim, mas meu ser em vida para os outros. Não posso morrer completamente só: morri noutro alguém. |
Compaixão pela vidaO nada é continuação da vida. A continuação da vida é sua compaixão. O que ressoa em mim é compaixão aflita: onde não há vida. A força da alma é a alma, o ser deixa a alma frágil, e o coração aberto para a vida. O último nascer do sol se fez vida. O sol se aflige por amanhecer. Por isso, eu não amanheço para escutar o amanhecer dentro da alma, onde o amanhecer não é eterno, como o desprezo da vida. Fazer da realidade é o cessar de toda realidade. A realidade é viver o contrário de mim. Na vida tudo é irreal, tudo é igual. Como ter um corpo no amor que sinto? O que significa ser eu perto de ti? Nunca sou feliz, perto de você, ao menos sou eu mesma. Vivo para esquecer. Esquecer não é me esquecer, é apenas um torpor, uma ausência. Essa é minha presença: um torpor sem alma. Estou embutida na alma. O torpor é compaixão pela vida. A presença é inevitável no torpor. O torpor aquece a alma, a traz de volta à alegria, que não é mais contida: é um torpor, uma despedida, o céu depois do céu, ainda sendo céu. |
IntuiçãoA morte simboliza a intuição. O véu esconde a intuição. O véu, a esconder a intuição, é a vida. A alma, semelhança de vida. Mesmo assim, nada se parece com a alma, nem mesmo o ser. Vou morrer para me parecer me igualar à alma, para ser digna do nada, ao amor do nada. A intuição não me traz o nada, faço da intuição um momento meu, um nada, que está à margem da intuição. Um dia a intuição será a minha vida, meu mundo. Não há intuição no vazio, não quero perder o vazio, perco a intuição. A morte não tem intuição do fim da minha morte. Estou sempre morrendo, infinitamente só, o sol ilumina minha morte, minha solidão. A morte não me torna só como a alma. |
Sonhos de lembrançasNão há lembranças da morte, há vestígios do nada que são sonhos de lembranças, não são reais, por isso, não tenho lembranças, tenho um corpo que deveria ser a lembrança dos meus sonhos. Meu corpo falece em sonhos emprestados pela alma em corpo. |
ConquistasAs conquistas são substituídas pela vida, e a vida aos poucos vai deixando de ser, torna-se um ser. A alma se refaz na morte. Isso não é uma conquista, mas é uma derrota minha. Não há dificuldade em sentir a alma. Mas a alma, na morte, não sinto. Sinto a falta da alma na morte: isso não é sentir. A morte é consequência da minha aparição. O sol é aparência da vida. A morte, absolvição que condena a alma a ser alma, no sempre que não carrega consigo. O que pode ter a alma de meu? É a mesma insistência em viver para nada. Dê-me um motivo para viver: a vida não é o óbvio de mim mesma, minha previsibilidade me faz viver. Viver, assim como minha alma vai ao encontro dos pássaros. Para aprender a viver. Viver no inimaginável de mim: realidade que não abandonei, deixei quieta para os pássaros voarem ainda mais alto: na essência de te perder. |
O início do pensarO início é o próprio pensar, diferente de mim. Este é o início do pensar: o que me faz ser diferente do que penso. O que é pensar ao se comparar com o viver? Não sei o que penso, mas penso. Não existe pensar para o ser: existe saudade, nostalgia por um vazio inexistente, que é como uma despedida de mim. Apenas a despedida me sente, nada me falta na despedida de mim, nem mesmo o amor. O olhar é uma despedida na alma, que se torna a minha permanência. |
Ampliar a vidaAmpliar a vida no amor. O amor, sem o ser, é amor! Amor que se divide na falta do ser. A essência é fugir do real. Não há verdade em morrer. Morri na inverdade do ser. Morri distante da morte, morri na solidão. |
Desgosto no amorAmor são ausências infantis, regressões no infinito onde não mais vivo. A minha vida acaba no infinito de mim. A realidade é a falta da minha existência. Ausências dão significados a vida. |
Sozinha no meu amorA imagem é o efeito de morrer. O efeito é a causa de morrer. O amor não tem importância na alegria. A alegria é amor pela alma, pelo que sinto por mim. Alegria é sentir o vazio como não sendo eu: fim da emoção e o começo de ser feliz. Alegria é viver. A vida não é a alegria do viver. Viver é outro mundo. É isento da vida. O meu ser se perdeu em outra vida, outra imagem, não tenho mais imagem. O que espero de uma imagem? Espero não ser mais eu, claro. Não quero o sofrer de uma imagem, quero meu próprio sofrer. Quero o sofrer em um adeus. O amor pela vida é breve, não morre comigo, por isso permanece vida. Eu penso na morte como uma poesia que enfrenta o nada de mim, me faz sentir algo que não consigo definir. Meu sentir é diferente de tudo que eu pudesse sentir um dia: meu sentir é a vida. A vida não sente como eu. A vida é o despertencimento do ser. O amor não fica: o contemplo infinitamente só, para que o amor não se sinta só em seu partir. |
Irreversibilidade de mimNão sou eu, sou o meu amor. Um sujeito isento de ausências, não é mais um ser. Ou me enterro numa ausência infinita ou morrerei. Morri sem teu rosto, ao menos na ilusão, na saudade inexistente, gostaria de ver seu rosto, para saber que existe seu rosto para olhar para me dar a vida que não tenho. Me dê vida, mesmo que seja no irreversível de mim. Amar na escuridão é eternidade. |