Blog da Liz de Sá Cavalcante

Para amar, é preciso esquecer o passado

A esperança de solidão me faz esquecer o passado, num amor que supera o passado. A vida vem de perto, vem de longe, para ver o sol sorrir, nascendo das minhas lágrimas. Não há amor na vida como há amor no sol. O vazio não é vazio, é o continuar a vida, pelo estímulo do vazio. O vazio são corpos mortos em almas vivas.

Dificuldade em viver

Nada desaparece sem desaparecer: essa é a dificuldade em viver. Meu sentir nasceu sem mim, para existir amor, que não é permanência de nada, permanece em mim, como vida.

Morte emprestada

Empresta tua morte para mim, para eu saber o que é morrer em ti. Desaparecer na morte não é ausência, desaparecer em mim é ausência. Morrer é viver para mim. Fecho os olhos, para morrer sem te ver.

Suando no coração para tentar amar

Olhar de alma, de amor, seco, como se retornasse ao que vê, com a simplicidade de morrer. O morrer é mais simples que ver a morte, o coração suando para amar o que restou da morte. O que restou da morte foi a vida, no teu adeus.

A vida são carícias de amor

Sou, encontro-me ausências, como carícias de amor. As carícias de amor da vida me deixam sem amor. Amor, falta da leveza de ser. O tempo, a ruína, a morte, não faz nascer o amor. O amor nasce na ausência do tempo, da vida. A vida escorre como alma, nos meus dedos frágeis, trêmulos de amor pela vida. Sente meus dedos como a vida e meus abraços, minha morte, dentro de ti. Por isso, fica. Fica, enquanto o ficar ainda existe, pelas nossas inexistências. Tento ser ausente da minha ausência, pelo amor eterno da vida, que me faz morrer de eternidade.

Metade de mim

Metade da metade de mim é minha alma, onde eu sou eu. Sinto saudade de mim sendo eu, assim como a vida precisa de sol. A vida espera, a sonhar comigo. Sonho com a morte, a vida sonha comigo. No amor, vestígios do nada a tornar o amor melhor que o próprio amor. Esse amor sou eu. Esse nada sou eu, sou o que você quiser. Assim, nada é negativo. A lembrança da minha sombra é melhor do que a lembrança de mim, melhor do que minha aparência. Meu rosto é o lado indesejável da aparência. Aparência para mim são sombras que deveriam ser o meu rosto, minha solidão. Minha solidão se perde no meu rosto. Escutam a solidão sem me escutar. Para compreender a solidão, é preciso sentir a sua alma na minha. Faça o que quiser comigo, mas não faça nada de ruim com a minha solidão. Falta sentir muito mais para eu ser minha solidão. A solidão tem raízes, eu não. A solidão é retornar ao nada de pensar. Pedaços do céu a clarear a noite, sem lua, sem sonhos, assim a vida me vê pela minha escuridão.

Porta trancada

A esperança é uma porta trancada por amor, o mundo não é feito para ser vivido. Quando a porta se tranca para sempre, sinto-me viva e pergunto onde está o amor que sinto. Não importa, importa que estou bem, como a vida a nascer dentro de mim. Não existo sem a vida, mesmo que ela seja apenas essas portas trancadas, num pensamento de vida infinito, parece abrir as portas da vida, até eu perceber que há mais vida do que a vida. Meu silêncio é uma maneira de manter as portas fechadas para mim e para sofrer em paz, como um silêncio que fala pelo céu, pelas estrelas. O silêncio é minha vida, mas apenas falo inutilmente, para que apenas o céu me escute, clareando-me como céu, fluindo como mar, um mar de amor.

Coração de brisa

Não existe nada na vida, nem solidão. Existe na vida meu coração de brisa, que é o único sentir da vida. Não tenho ideia de como fiz da alma meu coração de brisa. Meu coração de brisa fez da alma amor. Anoitecer os sonhos, pela claridade de existir. É fácil existir sem sonhar, o difícil é existir sonhando. É muito recente morrer sem meu coração de brisa. Acostumei-me a morrer de um coração vivo de amor, esse era o meu coração. Por que mudei de coração para morrer? O contato com a realidade é um sonho do real, que será esquecido no amor. O amor é sonho. Entre a eternidade e a fala, a eternidade da solidão de falar. Sinto teu abraço se perder na minha voz. O amor cessa o amor.

Sentimentalidade

O amor é apenas uma palavra na escuridão de uma sentimentalidade mórbida da agonia. A verdade depende do amor da morte. A verdade é uma morte que não morre só.

O que é um ser?

O que é um ser? Um questionamento? Uma perda? Um nada? O que é a perda sem o ser? É o fim do nada? O que é o nada para o ser? É o que deveria ser o infinito? O significado do ser não é o ser, não é a vida, não é o amor, são as suas perdas, que não precisam de um fim. O fim da perda é morrer! O céu não é céu por falta de perdas, é luz dos meus sonhos, que um dia será escuridão.