Blog da Liz de Sá Cavalcante

Presença em forma de canção

A canção mais perfeita é o silêncio, que canta como presença do amor, o amor construiu o mundo em silêncio. O insignificante está dentro do real como certeza de amar. A alma é amor. A aparência é consciência confusa, que dá voz ao silêncio para ele não cantar. O canto é a voz de Deus em mim. O canto é a realidade do ser, sem precisar de essência. A essência, fim de um sonho, que se tornou nada. Tudo parece ser vida, nada é vida. Não consigo me aprisionar no nada, dar um sentido às minhas palavras, ao meu amor. Repensar o nada, torná-lo vital para mim, assim sempre amo. É melhor esquecer do que sonhar. Tudo é possível na realidade, apenas para esquecer o nada, construir mundos de areias, muito mais seguro que este mundo que todos vivem. O silêncio ama. O silêncio encontra a realidade: torna-se ar que espalha o universo, como em um sonho para me recolher de mim perdendo meus pedaços. Tudo isso para deixar de amar o nada, não consegui. Seja apenas nos meus sonhos, e superarei a mim, com minha presença em forma de canção.

Probabilidade

A alma é a falta do tempo sem antes, o depois é alma. Tudo é alma no sonho. O externo não é a existência, é um sonho despertado no mar das ilusões.

O valor ausente

Acreditar seria a dor, o valor de viver? Ausente como uma brisa, emociona. Ser feliz é não me emocionar. A emoção é não aceitar o amor ausente como ausência, mas como uma solidão sagrada. Falta ser no ser, por isso, o ser é um ser, mesmo incomunicável de alegria, de paz. Dispersão me faz ver a vida numa distração flutuante de amor. Viver em mim é morrer. Meu coração bate a flutuar e, assim, me divido com a vida. Crescer é me transformar na vida que sonho. Mas não sei como sonhar com a vida. A vida tem sonhos não sonháveis. Mas ela acredita na falta de sonhos, que a falta de sonhos a faz feliz. Morrer é uma alegria sem realidade. Morrer é não me enclausurar no que sou, é não depender da vida para ser feliz. É ser o que a vida desejar que eu seja, serei, sou, mesmo depois de morta. Enclausurar o amanhecer no céu, me liberta de mim, numa morte que é apenas anoitecer.

A falta de amor do amor

A falta de amor do amor me faz viver! Vivo tão bem, não sinto falta do amor, sinto minha presença na falta de amor. A falta de amor é minha presença. Resta um pedaço de mim no nada.

A eternidade variando com o tempo

A escassez do tempo é a eternidade variando o tempo sem metade de mim. Metade de mim é tempo, metade ausência. O que me resta? Plenitude, uma eternidade feliz? E onde ficam minhas tristezas? No fim de nós que não existe? Nós, é apenas eu. Não sei sofrer, por isso escrevo para compensar a falta de tristezas. Minhas tristezas são nada comparadas à tua ausência em mim. A ausência é pior que ser triste. O começo da tristeza é uma mistura de náusea, com excitação e infinitude. Quero ser infinita não para a vida, para o amor. Esqueço a infinitude para ser amada mais do que a vida, do que o universo. Nada me surpreende. Quero o sacudir da natureza em mim. Não há natureza em ser. O vento carrega os medos, torna-os imensidão. A imensidão não é o infinito. A eternidade é o começo de mim. Não tem alma para a alma. Sorrir de solidão, escapar do nada como quem escapa da morte. Nada há na plenitude, por isso ela não é vazia.

Realismo inatingível

O que existe dentro de mim não existe no concreto. Isso torna o realismo inatingível, como se ele fizesse parte da minha subjetividade. A alma é o concreto, o ser, é a subjetividade. O ser e o nada equilibram o objetivo e o subjetivo para que tudo não seja apenas objetivo. A lembrança é apenas subjetiva. É o que senti sem conviver com o que sinto. Tem almas que veem a vida como se veem. Não dá para sonhar com a morte, se a amo. A alma é indestrutível. O sufocar da morte é a ausência do nada. A razão não é eterna, a morte da razão é eterna na morte. O olhar é o brilho da alma. Dedicação é morrer. O silêncio é o fim de morrer. Palavras são mortes que se criam da morte. Sonhar me faz morrer. Tem almas que retornam ao nada, como se nunca tivesse saído dele. Ser feliz é inocente, irreal, como se não houvesse sombra na minha ausência. Ausência é eternidade. Ausências são o significado de todas as palavras. As palavras são presença na fala. Ninguém fala sobre a fala, falam de si mesmos, é como se nada dissessem. O céu é sem lembranças, pode se tornar ao menos ausência para não cessar de existir. Cessar de existir é a ausência na lembrança. Lembranças por lembranças, prefiro a mim. A lembrança é um realismo transcendente. Se o real fosse apenas real, nada precisaria existir, nem mesmo o amor. O amor desapareceu na existência do existir e se fez existência para mim.

Transformei-me em mim mesma

Espalhar a morte para ela não desaparecer junto do sol. O nascer é um sol que não há. Eu não nasci por amor a mim. Em mim o sol é perfeito, sem cores, como o resplandecer da ausência, deixa a mansidão ser o sol, para a inquietude da alma. Não ser ter alma, por isso me entrego ao sol, numa alma de sol. O desaparecer é a ausência, falta de vida, onde o sol aparece, faz a vida nascer, nascer em mim a poesia, a vida que não tenho. Parecer-me comigo mais do que viver. Não há evidências do sol, mas há vida sem sol, não percebo a falta de sol. A vida é perfeita sem sol, engrandece a minha alma.

Flores em vidas

A morte parece flores em vidas. Dentro de mim, as flores florescem minha alma, no desabrochar da poesia. Alma nova pela ausência que se resume em chorar como quem canta. O azul do céu declama o canto como se me visse e fosse meu canto em mim, que é como reaver o céu em poesias de flores, que são como o amanhecer. Flores em vida, é o que me resta da morte. Pior que morrer é não suspirar como quem respira.

Um momento para o nada

Coração aberto no nada para não amar: este é o momento do nada. Momentos são eternidades que ficam dentro de mim. A eternidade não me faz esquecer da vida, me faz esquecer de mim. A ausência é o único mundo que não foi esquecido. O céu é um mundo sem lembranças. Lembrar, esquecer, é a mesma vida em mim. Esquecer é amor? O amor para o esquecer é o vazio sendo lembrança. Superei a transcendência. Meu corpo é transcendência do nada. A falta do corpo é a realidade em vida. O céu repartido em mortes, em vidas, tem o respeito do amor. É importante ceder ao céu, o que foi dividido sem o ter dividido com esforço. O sentir não se diz, sem a presença do céu, razão de eu falar. Falar é culpa da morte. Um momento para o nada cessa a vida, me faz viver. Não existe um ser que fala: mas a fala existe pelo ser. No ser, a vida é vazia, como palavra preenchida pela convivência com a imaginação, como se eu pudesse libertar o amor de mim.

A alma da solidão

A alma da solidão não é só. Sem o tempo, a alma está perdida. Alma e tempo andam, vivem, juntos no que não existe em mim: eu os faço viver, mesmo sem existir. Não existo, dou vidas sem as ter, é como lembrar da minha inexistência, é como voar na alma da solidão, no desconhecido, onde estou viva. Tudo é bom no desconhecido, nada é ruim, até desatar o desconhecido não ser mais só nele. O desconhecido é a falta de solidão, numa solidão absoluta. Águas-vivas para o banho de vida ou de morte, depende da solidão do meu corpo, a tentar se fazer de alma. Nada e ninguém é o amor que sinto. O amor, para ser feliz, é só, tão só que o vento leva. Tudo é sol, mundo e mar. O silêncio é o eco do mar. Nada se compara ao silêncio de sofrer: é a morte no mar. Sofro pelo silêncio por roubar o ar do ar. Nada pode partir sem vida, sem adeus. Partindo na presença do nada, como sendo a vida que não tive. Sou a vida, agora que parti da vida. Não quero ser a vida. Eu quero apenas partir. O amor despedaça-me em ti, com fogo aceso. Despedaçar-me é a solução da minha vida. No despedaçar, não há tempo, alma, ser, há o abismo, que ergue o mundo, em um vazio infinito, para eu aprender a ser feliz com o vazio de esquecer, sem me esquecer. Não posso me esquecer sentindo-me vazia. Isso é recomeçar no amor que sempre senti, na perda de um abraço, de um suspiro, onde sou imortal, sem a sombra da minha ausência, que me faz amar amando.