A vida nunca aparece, mas existe, como o desaguar do sol no fim do mar. Nada existe para somente viver. Existo para manter o sentimento do pensamento de sofrer. Sofrer nunca é suficiente, mas é o bastante para entender quem sou eu no sofrer. Não quero o fim do infinito, como se eu não pudesse alcançar o céu. Tudo se demora pelo céu, até o céu é uma demora de existir. Existo mais do que o céu, do que o teu adeus. O adeus, tão perto do amor que deixou, não pela solidão, mas pelo partir. Partir deixou pedaços de partir no esquecimento de amar. Amor, que podia ser, esquecer-te. Aparecer no desaparecer de viver é a luz do sol. A luz do sol não é o sol, sol é mais do que luz, é acender a alma, sem a ilusão de viver. Viver é se arriscar, sem a ilusão de ser. O tempo é o amanhã inexistente da alma, que ilumina a escuridão do infinito. O infinito do meu olhar é sombra da escuridão. A alma é a escuridão do sol. Apenas a vida é o fim de um olhar, sem ter tido chance de amar a alma. Não posso amar a alma por mim, amo-a pelo infinito, sem o ser. O infinito, fim de um olhar, é uma resposta do infinito para a vida, para o amor. O que surge sem amor depende do ser. A solução do amor é um problema para a alma, que não quer que a vida se resolva, que o amor se resolva. O amor depende do amor, não do ser. Para ser feliz, é preciso não ter amor. É certo chamar de morte o que não é vida? Desde que seja com amor, é válido, é prazeroso escutar uma voz no meio do nada. Desde então, tudo se escuta como a voz sendo alguém para a morte. Eu substituí o nada com minha morte, com a alegria que devia ter sido, que, por isso, sou feliz. Nada pertence à alegria. A alegria de perceber que a morte não pode partir é como abraçar a vida. No interior da vida, ela já morreu. Mas, para o mundo, para as pessoas, ela continua viva, nascida do nada. Depois da vida, não há mais o infinito, se o ser tiver que viver, será viver o seu fim. O fim é a proximidade do ser, como precisando mudar, para morrer melhor. Tudo continua por morrer.
É certo chamar de morte o que não é vida? |