Blog da Liz de Sá Cavalcante

Perdi-me em flor

Apenas a alma ama sem amor, perdi-me em flor. Do desaparecer da ausência, surgiu nós, tão imenso e primitivo amor, que não sinto mais seu amor, seu cheiro, sinto a falta que você me faz, como sendo um amanhecer mórbido, derramando-se em flor, no murchar de ser feliz. A alegria é sem alma, mas o ser é a alma desta alegria. Ser existência é uma perda para a existência.

Minhas poesias são feitas de alma

Minhas poesias são feitas da alma dos que me amam, que me dão forças para eu acreditar no que sinto nas palavras e além delas. Nem tudo são palavras. O inexpressivo é o sentir de cada palavra que me faz sentir quem sou. Sinto-me um pássaro sem asas nas asas do céu.

A serenidade é conseguir chorar

Choro até pelo amor que não sinto, como se a tua paz fosse a minha paz. Chorar de serenidade é ter alma eterna, amor eterno. Serenidade, às vezes, mata, no sentir absoluto de viver. Não sei se essa serenidade é resignação, sei que nada é mais sereno que morrer. Sei que não conheces minha serenidade, a mim, o meu amor. As lágrimas são apenas a concretude do silêncio a me invadir de amor. Não vou poupar as lágrimas de mim, de amar. Minhas lágrimas não podem ter fim, começaram agora a amar, a ser eu. Eu não tenho lugar no mundo, mas tenho lugar nas minhas lágrimas, que cativei com amor. O sentimento todo do mundo é pouco para minhas lágrimas. Enfim, não só tenho minhas lágrimas a me amparar e me fazer viver. O indefinido dos meus sonhos se define em lágrimas. É melhor sonhar com lágrimas e esperar que a eternidade, secando-me de lágrimas, faça-me chorar mais ainda em sonhos, que sempre me surpreendem, como se eu me levantasse das lágrimas para o mundo dos sonhos para te ver sorrir.

Sem a consciência do amor

A vida não tem consciência do que sente. Sentir, para não ter consciência do amor. Nem mesmo todo o amor do mundo é capaz de salvar a vida da vida. Nada tem necessidade do infinito, o infinito é um sonho. O sol faz com que minhas cinzas não me derretam. A consciência é a continuação de um sonho. A alma é o cessar da morte na morte. Quando a morte descansar da vida, o céu vai florir, como um jardim de sonhos a me despertar da vida. Vivi esse “nós” sem mim, é como se “nós” fosse apenas o seu não ser. Vou me perdendo em ser. Dá para perder meu despertar, mas não dá para me perder sem ser eu.

Tudo deveria terminar em canção

Encerraste meu olhar na tua imagem para cessar minha vida na tua imagem confusa, inerte, só. A morte não é só como a tua imagem. Não sou o fim da tua imagem. Eu nasci da tua imagem, que ela permaneça em mim, mesmo sem nada dizer. Tudo deveria terminar em canção, como uma imagem perdida, sem amor, de onde vejo o silêncio da imagem como um fim em uma canção que criei: a canção da esperança, que enalteceu o fim num amor esplêndido: o de reconhecer que minha vida cessou, tornei-me a música que criei. Eu tornei o meu fim o começo de mim, onde não tenho mais medo de cantar a esperança do fim, sem nada esperar da vida, do fim. Não quero que essa canção se perca no atordoamento humano, que ela deslize em minha voz e eu consiga expressar a beleza da vida no meu amor, que é mais eterno que qualquer canção, é amor. Como seria bom se todo fim tivesse a eternidade do amor, eu iria morrer feliz, como se a canção fosse o silêncio da minha alma, onde as palavras me conquistaram num silêncio de amor. Deixei tua imagem pelas minhas palavras, aprendi a ser eu, sem ser só.

O tempo não esclarece o que vivi só

Pela lembrança, fico em mim. Só, lembrança que não se entrega. A lembrança é uma maneira de ainda viver. Viver para saber se posso te amar. A esperança é uma lágrima descendo por dentro de mim. Mostrar à ilusão que ela não é dona da minha morte. A alma são os dois segundos que faltaram em minha vida. Jamais faltou vida para viver os segundos da alma. Perdi-te, a alma nasceu em mim.

Nada acontece na vida

Quando nada houver, ainda terei a morte. Ao menos, posso chorar a morte, sem a vida que tive. Libertar a alma me faz ser apenas estrela no céu. Chorar minha morte é o espelho do céu. Estou me sentindo na alma a se partir dentro de mim. Não sou digna de sofrer como a alma. Escrevo com o respirar da pele, a se afogar no meu respirar.

Entro dentro da minha alma

Entro dentro da minha alma, para não ser apenas alma: essa é a impenetrabilidade de ser, que me faz ser. Entro dentro da minha alma, isolo o mundo do mundo, é como ter consciência do nada. O amanhecer é a consciência do nada, num sol ensurdecedor. Entro dentro da minha alma, como se eu necessitasse da alma, é apenas uma maneira de me esquecer pela alma. A morte dura no ser, jamais na alma. Pela morte, meu ser se afasta da alma, como se tivesse alma. Apenas a vida tem a morte de um adeus. Entro dentro da minha alma, onde teu adeus é apenas um adeus à minha alma. É fácil viver só, para a minha morte. No corpo ou na alma, a morte é sempre morte. Entro dentro da minha alma, com minha falta de viver. Um dia, esquecerei a morte dentro da minha alma, é a única maneira de sair da alma, de ser só.

Todo meu

O respirar atinge a alma, é um amor que é todo meu. O respirar é todo meu; mesmo deixando de respirar, minha consciência respira por mim. A morte é a presença do ser na presença do ser. Ninguém vê a profundidade do olhar, que se perde na presença de ser.

Se o nada falasse

O nada fala por mim? Se o nada falasse, seria a descoberta do infinito em palavras. Quem é nunca diz ser. Ao falar, o nada demonstra ser alguém, alguém para o que diz. Se o nada fala, eu não preciso falar, como se eu fosse a fala do nada, pelo nada. Renunciando-me pelo que falta em ti, que nem pode ser a fala do nada, que preencheria o meu vazio. O amor não preenche a vida, não quer se afastar de sua morte espiritual, que iria clarear o amor. A escuridão do amor é a essência positiva universal, dando vida ao amor, cessa sua essência. A essência da falta de amor é quando consigo abraçar a mim. Sinto meu abraço, num amor que não é amor, é carência pela ausência de alma. Resignar é não sentir falta de si, mesmo sendo alma. Se o nada falasse, o silêncio seria mais perfeito que a vida. O nada se cala, sem ausência, sem sofrer, sem dor. Pois ele ainda me tem cada vez que me atormento, precisando do nada para escrever, como se o nada fosse meu.