Blog da Liz de Sá Cavalcante

Imediatez (rápido)

Devagar se chega à imediatez do amor. Como o sorrir que esconde o amanhecer todo para si. A coisa mais difícil de aprender é o amor, as palavras nascem do amor. As palavras sem amor nada significam. A alma, lembrança das palavras, que têm o eco sem voz. A alma cessa em palavras, como um sol ausente. O sol é a palavra eterna de Deus. Eu vivi a minha eternidade, distante da vida e da morte, como se minha eternidade me fizesse viver. Dá a palavra ao sol, emudece a vida em expressões profundas, ensolaradas, como o gemido do nascer da vida, como sendo o interior mais lindo, perfeito, como o silêncio de Deus, que desperta minha alma para o meu ser. Por isso, nascer em Deus é eterno em mim. Para Deus, a eternidade precisa ser eterna apenas no ser, para Deus descansar em paz em seus sonhos de salvar o mundo, a humanidade, com seu amor. A humanidade destrói a vida, o mundo negou o amor que Deus lhe deu, mas Deus sempre amará a todos, embora alguns não o amem. Necessito mais de Deus do que de alma. O amor de Deus é tudo que há na vida. Enfim, só; enfim, junto de Deus.

Sofrer não é só

Sofrer não é só, sou eu em mim. A insensatez é sentir o perdido como sempre perdido. Se amo pensando em amar, amo apenas o meu pensamento. Amor é o que vivencio só comigo, sem o pensamento, que me impede de pensar em mim. Reconciliar-me com a vida, que era apenas sofrer, é começar a vida vivendo este momento feliz, onde a saudade pode ser falada e a vida acontecerá. É possível existir nós, desde que a saudade nos mantenha unidas, e o cárcere do silêncio te liberte, nem que seja como sombra da minha ausência. Para que palavras, se quero apenas sofrer, nem que seja da minha própria ausência. Quero que minha ausência policie meu amor. Muita cautela em ser, ser é ser amada. Não se é sem amor. Preciso amar, sem medos. Se eu renunciar a mim, os medos continuam, como sendo minha única vida. Resta-me o medo, não estou só.

Escorregando na alma

Escorregando na alma, para não morrer. O amor não significa ausência de mundo, é a falta que faço a mim.

O espírito do espírito é viver

Vivo, não pelo meu espírito, mas pelo espírito do espírito. Meu amor e minhas lembranças assustam o espírito. Sinto mais do que o espírito, ele vive mais do que eu. Sinto o espírito em não viver. Viver o que não se vive não é morrer, é amor, que posso dar melhor se eu estiver morta. Meu amor nunca será suficiente para a vida. Meu amor é suficiente para ele mesmo viver sua solidão longe da minha solidão. Se o espírito me envolver de solidão, estou viva para me envolver na minha solidão. Meu espírito cuida da minha vida, que não posso cuidar. A vida necessita ser cuidada pelo espírito em mim, que, mesmo assim, não sou eu. O espírito do espírito é minha maneira de aceitar perder a vida que não existe em mim. Talvez, a vida venha com o tempo, com o amor. O que passou passou, sem eu nunca ter vivido esse amor. Agora é tarde até para morrer.

Sobreviver

No sonho, o sonho pode não ser a realidade de sonhar. Sobreviver como um sonho escapa à vida. A solidão de quem vive é sonhar. O tempo é a solidão de Deus. A morte não é diferente de sua realização. Tudo que a morte realiza, ela se torna. Deus é apenas Deus, não é substância ou matéria: é o que tem que ser, que é Deus, mas é humano também. O fim do amor é a alma, por isso sobrevivo à alma, como se eu não pudesse regressar a mim. O conforto de morrer é como se fosse a lembrança eterna de mim, mais viva que o sol. O sol não consegue mergulhar no mar, mergulha na terra, onde não há lembrança. Se o mar fosse a minha alma, ela seria infinita, parecendo com o infinito de te perder. Ninguém sabe se morreu, mas sei quando entro no mar sem alma. É sempre a alma o fim do mar, do pertencimento, da ignorância de ser feliz. Nada se parece com a alegria do mar. A alegria do mar é legítima. Mas é difícil ser feliz como o mar, fazer de cada despedida alegria. Afunda o mar em ausências, não me vejo no espelho, vejo-me em mim, e assim o mar retorna, sendo eu. Nada restou do mar: restou apenas eu. Atingir o amor com o amor é uma deslealdade com meu espírito. Não existe pele para sobreviver, mas ainda existe o meu ser, sem vida. Lutar contra mim é lutar contra o outro, contra a morte, contra a vida, o amor; a espera acaba com esse “contra”, fiz-me ser pela espera de mim. Sendo amada, minha alma está mais vazia. Não me importa o que acontece, importa-me o vazio. Alcancei o fim sem morrer. Não há limite na morte. Lembrar é não morrer. Lembro-me de cada detalhe da minha morte, sem eu ter morrido.

O amor é infinito quando morre?

O que morre com o fim, para o amor ser infinito quando morre? O corpo se divide em alma, onde muitos corpos fazem parte do meu corpo. Se não há lembrança, ainda há meu ser. Existir não é lembrar, é ser, sendo a lembrança boa ou ruim, conseguir abstrair o ser na lembrança. A falta da falta é abandono.

A vida cessou por amor

A ausência é o tempo, o que resta do tempo é a presença. O tempo desaparece dentro da sua alma, continua ausente, como se a vida lhe pertencesse. Por isso, o tempo se sente sem a vida, mas percebe que é vida pela sua ausência. O tempo é ausência de vida, por isso é a vida. Gastei o tempo nas próprias palavras do tempo. O tempo são palavras que a poesia desconhece. A poesia é o tempo do tempo, individualidade do nada da poesia. Nada substitui a falta de realidade. A ausência é presença de realidade. A realidade é carência da alma, onde a vida cessa por amor. Escrever é o silêncio da alma, faz-me ter alma, mesmo sendo uma alma ausente, por ter a vida ao seu lado. O silêncio escondido é como a vida partindo, mas partindo na esperança de voltar. Mas voltar é a única presença de alma. Alma é apenas retornar. Por isso, não tenho medo de partir, tenho medo de retornar, como se eu tivesse encontrado meu destino na falta de retornar. É solitário retornar, é como uma luz que se apaga no fim do que sinto. O fim do que sinto é este retornar, por isso não retorno, sinto.

O adeus da ilusão é morrer

Sou sonho dos meus sonhos, corpo do meu corpo, alma da minha alma, sem a ilusão de ser eu. Submergi à vida, eu e o nada afundamos na morte, pela morte. Amo a morte, carregando-a comigo, como um sol criado pelas minhas lembranças de claridade. As lembranças de luz obscurecem o meu ser, como a falta do passado, que necessita morrer, mas não consegue. Isolando a morte num sossego de alma, faço de me repetir o meu fim. Meu ser precisou conquistar a falta de morrer morrendo, onde a minha alma se ouve na minha morte, que é a vida de alguém. Ter fé é morrer sem fé. O nada dá vida à morte, ela não é mais o fim, está banalizada. Capto mais a morte do que a mim. A aparência do silêncio é real, deixa a morte sem aparência. Por a morte não ter aparência, tudo vejo como sendo a morte. A morte não está na morte, está nas lembranças, no que não pude amar. Amar é sofrer. Sofrer sem amor não é sofrer. Amo apenas para poder viver, é devastador amar. Teu olhar é minha ausência, não precisa do infinito para ter um fim. Deixa o infinito sem ausências, como o infinito sendo sua própria presença, sendo o fim na própria presença. A presença não sabe se impor ao fim que dedicou a si. Pelo fim, sua presença se tornou sua falta, falta do fim da sua presença, que deixou a falta de alma ser plenitude, eternidade vazia, numa plenitude sem fim. A morte quer que eu viva distante de mim. Não aprendi a morrer, mas tudo aprenderia com a morte. Como me calar? A morte falaria por mim, e minha alma sussurrante teria todo o silêncio do mundo para morrer sem escutar minha voz na voz da morte. Não é o fim: é o entendimento de viver. Se eu falasse, não haveria poesia, nem haveria mais silêncio. Mas aí eu não mais iria existir. Tornei-me imperceptível, na fala, no silêncio, no amor. Saber de alguém é como saber de mim. O silêncio do espírito não é profundo, é a despedida da alma, sem morrer, para que eu me despeça morrendo, para um dia ter sido eu. Morri na ilusão da alma, que não estou só.

A ilusão da ilusão

Nada mais será vida nesta permanência. A permanência não me faz feliz, a morte não me faz feliz, e a vida é meu único sol de alegria. Um dia, a vida será a permanência do meu amor. Mas ainda serei feliz? Será que basta ser feliz para viver? A ilusão é um mar calmo, tranquilo: como a saudade de ser. Eu existo para me afastar de mim, como um resto de sol a brotar da escuridão do teu sentir. O perfume da morte, única lembrança; eu respiro morte, solidão. Tua ausência me mantém viva, até tua presença me abandona. As coisas se vão, sem nenhuma lembrança minha. Volta, mesmo que seja me abandonando, e o sol e a vida serão apenas ausências possíveis. Nunca mais minha presença sairá do meu amor: ausência de um sonho. O adeus a mim é o único sonho que sonhamos juntas, sem o corpo, a alma, o amor. Não deixarei meu ser sem os sonhos que não tive. O tempo constrói o espírito de alma. Sou o que sonho, como se tivesse o que sonhar. Sonho, pois não há alegria sem os meus sonhos. O perfume da morte é uma oração da vida.

Certeza

O nada se rasga sem pele, abstrair o nada como certeza de que a vida existe. Quero ter certeza do nada, que o nada e o ser tenham a mesma vida. Uni-me com o nada, desconto no nada o nada da raiva que não consigo ter no nada. O nada preenche. Vida, sou tua alma, vou te ensinar a viver. As incertezas são o infinito no mesmo infinito, que esquece o depois no amanhecer. Não sei como deixar a vida viver em mim, ser sua alma é pouco. A alma nunca amanhece.