Blog da Liz de Sá Cavalcante

Não nascer é amor por mim

Sonhos pela metade, meu, metade sonho, metade eu. Vou ser feliz como um sonho, como o ar. A paixão pela vida é como não haver alegrias para a vida, é tornar a vida infeliz, como um anjo que cai do céu para abençoar a eternidade de eu ser feliz.

Consciência de névoa

Para que tanta vida? Consciência do sol é tornar o amor névoa. Talvez minha consciência seja névoa e se disfarça de mim. A consciência é como ocultar a alma. A alma escondida está exposta. Mais exposta do que se tivesse exposta. As flores despedaçam o céu de esperança, onde a única luz é o horizonte se misturando com a vida. A verdade é rígida, concreta nos sonhos, abstrato no sentir. Flores escapam do céu em mãos de estrelas. Mãos de estrelas nas minhas mãos, começo a sentir a vida, a ser imensamente feliz.

Alma incomunicável

Como comunicar a alma, o meu simples amor. Não conversar é a alma. Fiz tudo para a alma ser feliz, silenciei meu ser para fazer minha alma feliz, distante de mim, não do que sou. A distância é a voz da alma em mim. A distância não me separa de mim, da alma, me separa da distância, não mais distante que a vida. Tudo que sou dou à alma. Lembro da alma pelo meu sorrir. A alegria de perder a alma é passageira. É como um rompante de luz. A fé é um encontro de almas, sem a luz da alma que clareia o vento. Eu vi o vento como vejo a alma. Um abraço afunda a luz na alma.

Sofrer o não sofrer

O silêncio responde qualquer palavra, qualquer ausência, qualquer presença, vida ou morte, mas continua sendo silêncio. O silêncio é a realidade sem o nada. O nada da fala constrói o mundo inteiro.

Quando vou pensar em mim sem sofrer?

Serei eu a razão do meu sofrer? O que fazer de mim, da minha vida, sem sofrer? A vida sem sofrer é nada. O nada não é só, o nada é só sendo vida. O nada torna a vida infinita.

A tristeza anterior à tristeza

A vida tem alma que a tristeza não tem, a tristeza é a alma a dançar. Não há alma que sorria sem amor. Eu sorrio em amor, alegrias. Tristezas, alegrias, são o mesmo nada, o mesmo silêncio. O transcendente dá um salto de eternidade. O cedo é tarde. Sou luz que escurece a eternidade. Não é vergonha sofrer pela eternidade que se completa comigo, no fim eterno do saber. Não saber que amo é o fim no infinito. Não há silêncio que interrompe o sono de morrer.

A presença de um adeus

A solidão não atinge a alma, nem como um adeus. É uma presença subterrânea ao nada de ser. Sou subterrânea a mim. Não pertenço ao meu pertencer, mas sou o meu pertencer mesmo assim. Falar o nada, a falta desse adeus, é não ser esse adeus. O adeus é a realidade, sobrevive ao ser.

Perdido

O que foi partindo fica como perdido. O perdido ainda é minha alma, ainda é o que não amo. O perdido é viável na falta de um silêncio, fico no perdido, eternamente sua, palavra, sou sua, volte em mim, para mim. Saberei que o perdido está perdido, ao ter sua presença. A presença da palavra é a poesia que não se manifesta em um abraço, é o sempre, que apenas a poesia capta como sendo o melhor de mim.

Admirável nada

Durmo na inocência do nada, que abre caminho, deixa a vontade surgir no desespero da alma de ser só. Sou multidão no ser só da alma. Não sou só na minha alma, sou apenas eu. Esperar é ser. A alma é sem ser: é uma espera vazia sem adeus. Viver é sem adeus. A lembrança é o primeiro adeus que possuo que permanece sem mim. Em mim, a lembrança é tão pura, viva, que é eterna, apenas em mim pode lembrar como eu, nunca será eu. A minha paz, obstáculo para o amor. Como saber esperar amar? Como eu, triste. Morrer é ter uma história sem vida. A vida não é uma história, é amor, onde nada necessita acontecer. Tudo flui sem a vida: falta de solidão. Não ser só não é não sofrer: é sonhar. A solidão, leve na alma, desliza pesado em mim. A alma desliza sem amor no meu amor. Quanta vontade de amar, não sei se devo. O naufragar distante da distância é distante de mim. O abismo não pode me arrastar para dentro dele: assim, não me ilumino. O nascer não ilumina, não escurece, não cresce dentro de mim.

Nascer

A vida nasce da vida. A vida não nasce do ser, nasce da alma. A alma que vive não é a alma que morre. O tempo cessa, mas a espera pelo tempo permanece como sendo a eternidade do ser. A eternidade é como respirar o meu ser dentro de mim. Nascer é dúvida de viver.