O amanhecer é perda de mim mesma. Mas o amanhecer amanhece no vazio sem mim. Perder o que não tenho é uma paz. Que a paz seja o nada divinizado. Não preciso ter a mim para me sentir, amar-me. O silêncio não é paz, é resignação. A palavra pode ser um silêncio devastador quando penetra na voz e escapa pelo saber. Nada sei do silêncio, das palavras, sei o que sinto no dizer de mim, sem palavras ou silêncio. Nada pode ser escrito na vida, a vida tem uma história, distante, tão distante que parece a poesia saindo do pensamento, sendo o meu amor. Retornar às palavras é trair o amor, que vai além das palavras, do silêncio, da monotonia do perdido, que apenas a alma capta o perdido como se fosse a morte. A alma é triste como se fosse a morte. Quantas almas preciso perder para morrer? A alma morre quando meu pensamento se tornar alma. A alma é falta, ausência que colore a vida e brinca com o azul do céu. Preciso viver a alma só, só quer dizer sem mim. Apenas a perda me faz recomeçar, quem sabe algo novo surgindo neste recomeçar, onde o sonho de morrer é real e torna infinitos meus sonhos, até que eu não precise morrer mais, mas então não poderei mais sonhar, mas ainda sou eu, pela falta de alma, de corpo, que é o meu ser, que se derrama no nada em busca de amor. No amor, senti-me mais só ainda, ele não pode ser a razão de a minha alma me amar. A alma não precisa de razão para amar. Para amar, ela tem que deixar a vida que não tem. A alma é forte para caber na minha mão. Encerrei minhas mãos ao segurar a alma, foi como viver. Nunca mais segurei nada, fiz das minhas mãos mãos da alma. Assim, não sinto perder meu corpo, ele é o vazio da alma.