Blog da Liz de Sá Cavalcante

A generosidade do amor

Amo a generosidade do meu corpo, como se fosse meu corpo em mim, é apenas o adeus infinito das almas, entrelaçando-se em morrer. Confundindo-se, sem confundir o céu com o mar, a vida com a morte, o desprezo com o amor, a presença com a ausência. Vou apagar as estrelas para eu ser única para o céu, reinventar-me de sol. Oceano, venha como céu, ocultar-me das tuas ondas, banhar-me de alegria na alma que não se escondeu de ti: misturam-se. O mar é pequeno na imensidão do meu ser, da poesia, do que ficou em nós. Retornar a uma lembrança é não ser uma lembrança: é ser um ser!

Resistência

Já me significa. O significado do nada é o amor, mas o nada precisa significar algo? Eu nada mudaria no nada. Lembrar é triste sem o nada. O nada se envolve em ser. Será o nada algo exterior ou será o nada algo dentro do ser? Que fim teria o nada sem amor? Quanto amor o nada amou em segredo? Existe segredo para o nada? O nada é a continuação do amor que se concretiza no nada. Ninguém escreve sem o nada, é eterna lembrança. O corpo é sem lembranças. As lembranças dividem o corpo com o pensar. Nada pensei pelo corpo, tudo renuncio pensar. A morte é incomparável ao nada, superior ao nada. O descanso da morte é meu cansaço em morrer. Bem que isso poderia ser o nada. Nada pode ser o nada, nem mesmo o nada. O nada se leva para sempre. O que falta ao nada? Ser o nada. O abraço faz parecer que o amor não é o nada. Nada seria sem o nada. O tempo cura o nada, ficou o vazio. Tocar o nada é abraçar a vida Mas se o nada me abraça, deixo de sentir a vida.

Paz (para pai)

O tempo passa, como se eu lhe dissesse oi com a minha paz, paz de não mais acompanhar a vida, por isso, ainda suspiro. Devolve-me a vida com a tua vida, vamos esquecer um pouco a vida, o mundo, pensar em nós dois. Isso é eternidade.

O nada deformado

Deformar o nada na minha febre de existir com uma estrela a cair do céu. Sem a morte incorporaria tanto o espírito, que meu amor cessaria. Sem a morte o espírito não sobrevive, mas a sobrevivência é o espírito.

Nasce o nascer

Nasce o nascer do nascer com a suavidade da ausência do corpo. O sol é um corpo imortal. Só há um corpo, mas o amanhecer morre no nascer do nascer, que é o espírito, que respira como eu, tem o meu sono como sua alma, por isso não posso dormir, posso apenas me ausentar de mim. A ausência refaz o corpo no espírito. Há espíritos sem almas a vagar perdidos em silêncios profundos, como a noite, como o céu, a fazer pensamentos, onde enfim consigo dormir.

A morte da morte

A morte morre sem estar dentro do ser, pra morrer dentro do ser tem que ser o ser quando a morte morre, nada se ilumina. Há um querer que não é morte, é adeus!

A intimidade da alma sem amor

O que não é eterno na eternidade se faz amor. Acolher o amor é abandoná-lo só. Não posso abandonar o amor no pensamento. A intimidade da alma sem amor é a profundidade do amor. A imagem é falta de consciência de um olhar de uma vida. Se sei o que é conhecer, de que adianta a vida mesmo depois de viver? Estou agora sendo a vida da poesia, onde sou feliz, como se a vida começasse agora e eu pudesse ser um recomeço sem começo. A poesia não é o começo de nada, é ser submissa à falta de mim. O começo de mim era para ser tua alma. Na ilusão de existir alguém, durmo nas palavras, acordo sem palavras, como se a noite fosse o meu amor.

O mistério do corpo é a alma

A alma estagna num pedaço de mim, pode ser meu corpo ou apenas morrer. Há pedaços do corpo sem morte, é a alma. Quero a alma sem recomeços. Não quero nada no céu, cresci sem céu, na janela do saber. Saber pode ser o sonho.

Rompimento de estrelas

As estrelas romperam com minha alma e com minha solidão. Sossega, alma, que sou apenas um rompimento de estrelas. Não te pertenço. Vou desaparecer como uma estrela que se adaptou ao mundo, não a mim. Perco as estrelas, mas não perco minha esperança.

O nada sendo tudo

A relação é o nada, mas o nada é tudo sem se relacionar. Meu amor é minha ausência, ausência que é feliz sem ser um sonho. De que adianta sonhar com a ausência se ela não vem me sentir? O amor não é espírito é o nada sendo tudo. Nada importa ao tudo que nada tem. Eu queria ser o espírito de todos os espíritos. Nada se fez só no espírito. A vontade de ter uma alma é mais do que a alma. O fim da tristeza é o espírito não ter asas. O que não é verdade é o espírito precisar de asas para ser livre. Ninguém pode amar a eternidade, ela é a falta de amor. Nada será como antes, onde o céu era o céu da minha tristeza. O céu fez que eu não reconheça mais tristeza.