Blog da Liz de Sá Cavalcante

Nuvem de estrelas

Nuvens de estrelas a enfeitar as flores da vida. As imagens deixam de ser sem cessar o que veem. Ver é plural. Um mar de estrelas afunda no cessar absoluto. Afunda sem o abismo do amor, por isso tudo é sonho. Estrelas são o infinito de mim, onde cada poesia é uma estrela escolhida por Deus para ser o meu amor. A vida sem estrelas é triste. Há muitas estrelas, vamos dividi-la entre o céu e o mundo, como um fluir de águas a esquecer o mar, na turbulência do vazio, que torna tudo real, onde a única mudança é a própria realidade. O amanhecer, realidade fugidia, onde morri sem perceber, na intimidade do nada que sol teria agora o nada de amanhecer?

O silêncio sem a vida

O buraco da eternidade está dentro do meu corpo, clareando o silêncio sem a vida. O irreal sou eu na vida, a buscar o silêncio sem a vida.

O som da morte

Silêncio, tenho tanto a dizer que esqueço as palavras. Tanto a calar em morrer, prefiro viver. Viver é como conhecer a alma de uma flor. Nada é por acaso, tudo tem um motivo. O desaparecer da alma é comum no amor. O eco do amor aparece quando eu não capto o amor. É evanescente o olhar que dança desmaiando. Sol que nasce cantando de luz. Preciso de um objetivo para a alma. Meu ser não pode existir para a consciência. Existir é falar para o nada o que quero ouvir. A espontaneidade do sol é o meu olhar. A alma é uma ficção, não tem consistência, valor: é apenas a falta de um olhar, de colo, amor. A alma aumenta a carência, não tem realidade. Alma é o inacabado do ser: por isso, é o fim de tudo. Alma é insegurança, é amor. Alma é insegurança de viver. A minha vida sou eu, não é a alma. O som da morte não tem alma.

Fogo do céu

O que deixou só não fui eu, foi a minha ausência de ti, que deixou só, como a chuva, como o ar. Ar que respira o fogo do céu por dentro das minhas entranhas, o mar a bramir, gritas, concebendo as minhas entranhas. Eu grito céu, vida, para não sentir saudade, para eu não sofrer. Mas não consigo dizer saudade. Estou vazia, estou em paz.

Sombras de vida

O céu enfraquece as estrelas em sombras de vida. Igualdade de sombras para uma desigualdade de sol. Não existo para as sombras da minha ausência. A liberdade do sol são nuvens no céu. Não te permiti invadir minha ausência sem o céu. Caminhar sem vida são minhas pernas em busca de mim, da saudade que eu tinha de tudo: saudade das pedras de ar, do meu amor, submisso na saudade que não transcende em mim. Eu sou a minha saudade, as minhas faltas. A solidão sobrevive à saudade e à minha morte. A solidão fez da minha morte um mar acorrentado pelo meu corpo morto. Para o mar, a minha morte é apenas ausência. Ausência do nada. A morte é tênue como o sol. É como se eu continuasse a ter esperança. Sem esperança, nada é negativo. Respiro esperança. Faça de mim tua esperança. Desaparece da minha esperança como um céu colorido de sonhos raros, preciosos. Até o mundo desbotar de amor. Desanuviar o sol do céu. O céu abre minha garganta, esqueço a fala. Sorrir solta como a brisa: isso é falar. Falar não é lembrar. Há céu no seu modo duro, seco de ser. O céu existe para quem mais necessita. Sei do desespero da alma, de ser alguém. Ser alguém é ter alguém. Alguém que seja a vida que perdi e recuperei-me na tua vida: alegria, amor, entusiasmo. Mas nunca me amará. Tudo desmaia no infinito. O fim é o infinito, é como retomar o meu ser sem regressar. Apenas a alma regressa no partir da volta de sonhar. Areia de sombras, vultos do mar no meu amor. Estou em ti por ter sido abandonada em ti, não consegue me afastar. Seu desprezo é a minha vida. Passei a vida a esperar o nada, ao tê-lo, não valeu a pena. Sombras da vida sem o meu corpo. A fluidez da morte, no meu corpo de pedra, tenta me sentir. Sentir é apenas o suspiro de respirar. O meu olhar respira, vive mais do que eu. Não estou à toa, amo. Amo, mas amar não é mais feliz do que eu.

Sensibilidade fatal

A alegria atrai a morte. O esclarecer da vida é a sensibilidade de morrer. Acessar a vida no desconhecido de mim. Fazer do desconhecido, uma vida de sonhos. Tudo morre sem o desconhecido. Conhecer a sensibilidade exterior à alma é amor. O amor aparece para não existir, existe assim mesmo. O existir para na essência. O tempo é uma verdade particular de cada um. Não há verdade no fim do amor. A verdade do olhar é sem tempo. A capacidade da verdade de viver é como o sol nascer. Nascer é tão vazio. O dia, a noite, não tem medo da vida. Dias e noites são a vida que tenho. O que importa o amor agora, se estou a sentir por mim? Sentir: saudade da vida. A alma inunda a saudade. Gosto dos momentos tristes: é como ter saudade. Queria que a minha saudade fosse essencial nos momentos tristes. O amor adoece a alma, é mansidão demais, ensurdece o tempo em folhas de mar. Céu é o fim da tempestade do nada.

Exílio da saudade

Falsas lembranças do amor me matam por dentro, me exila na saudade do nada. O nada é sem sol, sem vida, sem mim. O nada me tem apenas na poesia. Violentou a minha alma para não me violentar. Nunca vou te esquecer, exílio da saudade. Eu sou nada sem estar exilada na saudade, que está cravada no meu corpo, na carne da alma. Morri exilada de mim. O nada é uma forma de me expressar, de ficar perto de mim. O desgosto de viver é como uma luz. Preciso ver através da luz sem a vida, sem o peso da vida. O único peso que eu carrego é o do meu corpo, é o da morte, onde não há exílio, saudade. Tudo se recolhe na sombra de conviver.

Distração

A alma pesa no corpo: por isso, tudo fica dentro de mim, como um estorvo. Beijos da lua cessam alma, na noite mais bela. Não posso afastar a alma do meu amor. Tudo faço sem amor, mas um dia farei da minha alma solidão e o amor suplicará por mim. Escrever é amor que não se sente. Tudo se perde em ser. Nada desaparece na ausência de um adeus. O sol sofre em nuvens é como estremecer o céu. Esquecer o sol, se render ao céu. Queima alma sem sol, tudo que tenho é apenas a vontade de esquecer, como uma estrela caída no chão da poesia. Sei como esqueci. Isso não me torna viva. Matei a vida para o mundo, para viver outra vez. Vida, quem era você? Nunca saberei. Sei apenas que existiu um dia em um dia remoto, distante de tudo, me fez feliz. Essa distância me aproximou da vida, me fez feliz. Quando estou só, me lembro da vida, tudo faz sentido, na morte da vida, apenas para eu amá-la ainda mais. Vida, mesmo morta, me deixou viva, abandonada em mim. Alma, dentro de ti é um desassossego, pareço estar viva. Viva, como nunca estive antes. Estar viva pela alma é um sonho, não custa sonhar.

Morte transbordante

Alma, vieste? Um transbordamento sem morte não existe. O que vai ser da alma? Sei que algo transborda sem mim: a morte. O tempo das ondas do mar é a ficção do mar. Não vou mais morrer. O sol se torna amanhecer pelos meus sonhos. Me acostumaste, alegria, a ter todos os sonhos, a ficar com todos os sois, todas as vidas, todas as esperanças, mas não me preocupo com sonhos, alegrias, quero apenas me preocupar com a existência de todos, e do mundo. Eu quero amar mais do que tudo nesta vida. Quero escuridão nos meus sonhos, para eles serem a minha imaginação: às vezes triste, às vezes alegres, às vezes nada, mas nunca confusa. A imaginação me acorda em sonhos. Nos meus sonhos você existe. Sonhar é a verdade do amor. O sonho nasce antes da vida. É preciso sonhar para existir vida. Morte, transborde em mim para que eu nunca mais sonhe. Sonhar não me trouxe alegria. Me trouxe o nada. As mãos do nada nas minhas mãos. Pareço perfeita, pareço sonhar, pareço só.

A verdade de esquecer

O adeus fez tantas vidas existirem que se tornou um nada. Quero esquecer a vida no sol, como um acontecer eterno. O desaparecer da vida aparece para a vida morrer. Há mortes que não pertencem a ninguém. Tudo se sonha no que vejo, já existiu distante do meu olhar. Nada é o que vejo, sendo um olhar que é apenas a aceitação da morte, sem esperar viver. Quero apenas necessitar do olhar para nada ver. Ver me faz esquecer de mim. Não me apego no que eu vejo. Ver é me desprender de mim. Nada vivi no meu corpo. Mas estou no meu corpo. Estando perdida no meu corpo, sabendo que é o meu corpo. Minha alma necessito de ti, minha alma não quer o meu corpo, seu corpo é a falta de mim. O meu corpo é a minha presença. O corpo não é. Vejo o corpo na alma. O corpo é da alma. Eu sou apenas a união do corpo com a alma. Por isso não sou triste. A alma se inventa em alegrias transbordantes. Por enquanto, vou deixar a alegria para o amor e ser triste como a chuva. Desprendi-me de mim para me amar. Tudo me falta em ser feliz. Nada é feliz em ser feliz.