A essência não é íntima de si mesma. Raspando o amor em mortes, recupero mais do que a essência: recupero o saber. O saber na essência. Não há respostas no saber: a resposta é não saber. O amor não se ignora, mesmo que saiba de si. Eu me persigo, tenho essência! É como se tudo pudesse ser para que falte em mim. O olhar, falta que condena, sem escuridão. O ar da noite são meus olhos, em busca de ver o nada sem a vida. Afastar a realidade da realidade. Para mim, a realidade é apenas ficar comigo. Prefiro o irreal do que ficar comigo. Na falta da falta, tenho a mim. O âmago do irreal é o ser que eleva a morte nas alturas, sem enaltecer a morte, apenas a tornando o que é. Mas o que é a morte sem mim? Não há essência no âmago da essência. Há algo melhor: a morte. Nem a morte tem o poder de Deus. Na vida ou na morte, Deus é o mesmo. A consciência é o nada para o vazio. O nada faz eu me parecer com meu nascer. É tanta morte, tanta dor para esquecer, que é melhor não esquecer. Já me senti morrer tantas vezes, que fiquei inerte, isenta de dor. A dor consola a realidade. A vida seria pior sem a morte? Deixa o tempo me dizer no seu tempo, no seu amor. O tempo é a inexistência do consolo de viver. A inexistência da sombra na imagem é o ser, que isola a falta de imagem numa aparência fugidia. Tudo desaparece como ser, não como imagem. O tempo é a delicadeza do vazio, fica suave às mãos, como se eu segurasse o tempo no vazio e deixasse escapar a realidade, sem mãos frias. Relaxando no irreal, onde te procuro, vida, nas minhas mãos, no corpo, na alma, no amor, na despedida. As mãos se despedem do vazio, se soltam do corpo até morrer. Minhas mãos são o meu corpo. O corpo é igual à alma no amor. Mãos se deixam levar sem corpo. As mãos são a incomunicabilidade com a alma. Se as mãos tocassem a alma, o céu não existiria. Tocar na alma é como flutuar no céu. O céu são flutuações da alma. Há lembranças que surgem no céu da minha vida. O céu é um espelho, onde todos se veem sem ver. O que sou é como me vejo no teu olhar. O céu não é o depois, o antes é a intermitência do ser, onde surge a vida em intervalos de nada no amor, que era a beleza do ser de ser. Cessou sem intermitências, assim a vida é só intermitência (intervalo). O céu é a pausa de Deus. Controlo a morte com a minha morte. Pausa no amor, na vida, para chorar pelos mortos, sentir suas mortes como se fossem a minha, por isso, agradeço ao amor, a pureza do meu amor. O caderno é o meu mundo, escrever, a minha vida.