Chora comigo no vazio, na escuridão, no nada, para que chore em mim: não afunde em mim, sem lágrimas, sem sofrer. Confie que temos vida, se pudermos chorar juntas, a vida vai ser melhor, como se houvesse perdão para o amor. Posso chamar de amor a vida que me negou, e que hoje conheço e vivo sem ti? Não tem ninguém na minha alma, nem eu mesma: por isso, perdi apenas a vida que ainda existe em mim. Chorar comigo não trará os anos que perdi de volta, mas tudo será mais humano, fiel. Que eu sofra, mas que seja por amor. É difícil fazer o luto da vida. Sou amada por tudo que necessito, mas como sofro por ti? Sofrendo, acho que alguma coisa ainda vive em nós, por nós. O amor que sinto não se sente como eu. A tristeza quer ser esquecida para ficar bem, sobreviver, assim mesmo, a tristeza não quer morrer. Enquanto tudo for rejeição ou uma aprovação, não há vida em parte alguma. O tempo de morrer não existe, existe a certeza de morrer. Nada restou da morte: nem mesmo as cinzas das cinzas do esquecimento eterno, que ilumina a eternidade de ser, não ilumina o ser. Ser é o vazio do nada. O retorno ao nada não pode viver por mim. Mas algum dia o nada não ficou só na minha vida? Ficar só no nada é recuperar meu ser pelo nada. Apenas o nada compreende a vida poeticamente. Nem eu, que escrevo, consigo compreender a vida. Chorar, única compreensão da vida, onde as perdas são o fim da compreensão, fim das perdas, fim do chorar. Se não posso nem chorar, melhor morrer!
Chora comigo |