A luz não cessa a escuridão. A alma do corpo não é a alma da vida. Sem a percepção não há vida. A alma vive entre o sempre e o fim. A alma separa o sempre do fim. O fim espera como se fosse o sempre.
A atenção é o juízo da alma |
A atenção é o juízo da almaA luz não cessa a escuridão. A alma do corpo não é a alma da vida. Sem a percepção não há vida. A alma vive entre o sempre e o fim. A alma separa o sempre do fim. O fim espera como se fosse o sempre. |
Vivendo no sempreO que ama não se quer, assim não há isolamento. Vivo no sempre, sem amor. O amor é a realização da vida na irrealização do ser. O amor não é a realidade de ser. Para ser é preciso apenas ser. Ser o que é... é deixar de ser? Não estou segura em mim? Quando o mundo era mais mundo... Ninguém percebe agora, mas não há mais mundo. E vivemos destruindo-o para não nos destruirmos. E se nós funcionássemos no mundo, emprestando-lhe a nossa alma, o nosso amor, para o mundo ser eterno? Cuidando do mundo, nós cuidamos de nós mesmos. Ao me interiorizar, faço do mundo a minha vida. Vida é amor. Amar é viver. O mundo é o sol a nascer, é a esperança que surge nos momentos mais difíceis. A esperança nasce no nada. Quem se vê no que ama, não vê o amor, vivendo no sempre do nunca mais. Tirar-me a alma é ficar no sempre de mim. Não vivendo o sempre, vivo de mim mesma. |
A consciência do nadaA poesia nada criou. Tudo criei sem a poesia na consciência do nada. É a consciência da alma. Não há ninguém na alma. A tristeza não é o fim do amor. A vida chora a alma dentro de si. Não há palavra que conheça a vida pela alma. A percepção é estranha para a alma. Não existe percepção na alma. Pela alma viveria sem nem uma percepção; ela seria apenas a alma. A consciência do nada é uma luz, dá vida à luz. |
Me projeto em meu serA angústia toma-me por uma falta sua. Antes de eu morrer já conhecia a morte de mim mesma. A percepção destrói a morte, sendo sua morte sua própria inimiga. A morte envolve-me. Preocupo-me em não morrer. Preocupo-me em morrer. Tudo me preocupa. Nos momentos mais difíceis, a morte ajudou-me sem abrir a minha alma. Mostrar a vida ou não mostrar a vida. Olho pelo olhar do nada, onde estão todas as vidas. Escrever não é coragem. É refúgio, é uma saudade meio torta, defeituosa, por isso, real. Precisa faltar algo em mim para eu ser inteiro, como uma flor a despedaçar-se no belo para ser linda, como a volta da flor. O inesquecível é que a flor é uma flor apenas para mim. Existo. Vivo como uma flor, flor de pedra, que se endurece ao amar. Amar a flor é amar-me. É urgente amar. O talento do amor é o tempo da flor desabrochar ao meu olhar. Meu olhar são flores vivas. Devo a ti a flor do meu coração, da minha alma, do meu amor, em um instante perdido, em viver sem flor. Flor é a lembrança eterna de depois. O depois da flor é um jardim de um esquecimento atual: o futuro. A rosa é como um sonho de ver-te, alegria, nas minhas faltas, que são presenças de amor. Minhas mãos sufocam-me. Não consigo segurá-las em flor, em alegrias. O corpo penetra nas rosas, onde o único suspiro são rosas. Afrouxam-se vidas em um sentir de rosas, na eternidade que me cerca: é mais céu do que o céu. Nada me torna eu perto da flor, na qual a eternidade amanhece, eu sendo seu sol, seu amor eterno. Nada de ilusões. Sou o que foi destruído na beleza da rosa. Rosa, não necessitava ser tão bela, bastava que suspirasse por mim. Eu tinha que ser bela para sentir a beleza da flor. Ser para a flor do meu ser, o meu ser, é ser para sempre eu para os eus vários do mundo. |
EstímuloPerceber é morrer. Nada percebo em ser só. Ser só não é uma definição, é uma presença, um amadurecer eterno. Por onde nasce o mar, o sol, a aflição me deixa sem amor. O amor sente o nada em vez de amanhecer, de amadurecer. Amadurecer é partir no melhor de mim. O melhor seria não partir? Nunca vou saber. A imaginação é renunciar a mim como irreal. Reconhecer que sou real é mais irreal do que tudo. Meu ser é uma sensação que mata o que não existe. Existir é o passado no agora. Não sei o que sou agora, logo agora que estou vivendo. Viver aprisiona o aprisionado em mim, faz-me seguir em frente. Sem defesas, venci, vivi. A alma não tem alma. O além do ser é a alma. O além de mim é a poesia. Encanto o céu com poesias. Não resta estímulo em viver. Viver é inexatidão do ser. Não existe antes ou depois de ser, existe a vida no ser. |
Reação ao sobreviverSobrevivo à reação de sobreviver. A separação do corpo e da alma é o amor reagindo ao meu sobreviver. Viver é apenas um véu, esconde o ser nele mesmo. O amor faz eu não reagir ao nada. A impressão de viver é mais forte do que a vida. Mais profunda, mais real. É necessário rejeitar o amor para a alma ser dona de si mesma. Em mim o amor existe. O amor é eterno se não existe. A consciência é ausência absoluta de mim. O tempo cessa no meu pensar, não em mim. Da ausência de mim nasce a vida. |
Separação virtualNo olhar, a separação virtual transcende e une a alma, no nada da falta de desespero. A separação virtual na alma é o amor da poesia em um desprender de vida. O sol derrete nas minhas mãos frágeis. Torna-se lua. A lua dos meus olhos não é tristeza, é amor. Amor sem alma é um amor único, raro, o ser pelo ser. A separação virtual devolve minha imagem a Deus. Renascer no fim da vida sem despertar de sonhar, de morrer. |
IrremediávelComeçar a viver no irremediável é viver de verdade. Saudade é conseguir andar no precipício como se fosse o chão. Saudade é a força contínua de ser alguém no amor que sinto em viver. A saudade de mim recupera meu amor por mim. Sinto saudade de mim quando estou com os outros. No fim, torna-se saudade nos outros. O que ignoro sem perceber que ignoro é a realidade. Realidade é me ver quando estou só. Ser só é aprimorar a vida. O sol de cada um faz a alma nascer, estando nós todos de frente, vivendo o sol de cada um em todos. Ausência é o ser em si mesmo. |
Vida nova em uma vida antigaMinha consciência me separa de mim por não pensar o não ser de mim. Tudo fica em mim no tendo sido. Meu ser é um ficar permanente, mas esse ficar nunca será alma, quer apenas o meu amor. Minha consciência é uma vida nova. Compartilho meu corpo com o resto de mim para amar. Internamente não sou eu. Se a vida fosse vida, não haveria o conviver. |
Reclusão da alegria (Cativeiro, prisão)Vida, vivo pelo seu olhar em uma reclusão do nada, da alegria. Não elaboro a alegria na vida, mas no nada, que resolve minha alegria na minha morte. Morte são cinzas do nada. Vida, me olhe, mesmo que eu nada signifique para você. Ver-te, vida, faz-me viver. Você, vida, vendo-me é a minha eternidade. Pela eternidade somos duas almas separadas: eu e a vida. Almas nunca se unem. Deixa minha vida vazar como a minha pele, que se abre expulsando meu corpo de mim. Sem mim meu corpo vive. O céu e o infinito são duas almas encontrando-se na morte do ser. Como unir a alma aos acontecimentos da vida no olhar? O olhar é o consolo de eu ser eu. Ao olhar sou o mundo inteiro. Sinto-me desconsolada de tanto amor. |