Blog da Liz de Sá Cavalcante

Entrelaçamento da alma

Esta realidade é para eu não ter realidade nenhuma: tudo é apenas este entrelaçamento. O nada se fundiu na minha alma. A alma é a verdade que meu ser procura. A alma aprendeu a sofrer sem a alma. Desapareci para ter alma. O desaparecer não é seguro na alma. Eu estou segura na alma, sem desaparecer. Apenas no desaparecer choro como necessito. A alma distante do nada, do olhar, se faz ver. Ver a alma é a visão do mundo. Pela alma não sou livre, por mais que me falte alma, sinto-me livre. Aliviar a alma da alma é um bem precioso como o mar, como a minha liberdade, que nunca me deixam só, sabem sempre onde estou. Eu não sei onde estou, por não estar dentro de mim. Minha liberdade foi roubada pela beleza do sol, da vida. Não me lastimo, entrego meu sofrer ao mar das aflições. Lá, ele não se sentirá diferente. Envolver a alma como um manto de proteção contra o meu sofrer. A alegria não existe. Existe alma para suportar a falta de alegria. Assim, não preciso sonhar, ser feliz.

Intuição do nada

Tudo aprendi pelo nada. O nada é o renascer da alma, que faz amanhecer. É mais difícil amar que não amar. Cavalga meu pensar em sonhos. A vida, nas chamas das trevas, me esfria de amargura num beijo doce que a noite me dá, como se possuísse minha alma em sonhos, ainda em vida. Mas a noite pode ser minha alma, num silêncio inoportuno de ser alguém. Ninguém pode cessar a noite, como se o vento emudecesse e cessasse a alma com seu silêncio. O silêncio da alma é a eternidade do que vejo. Ver é não ter alma. A eternidade não necessita do seu fim. O fim que abraça o seu nada não é mais fim. Fim é falta de amor. O amor que vem do olhar é o fim sem fim. O fim é demora, a falta de um adeus. O começo do fim é o nada, o fim do fim é o nada. A tristeza no meu olhar é amor que me salva.

Esperança sem esperança

Vingar-se da morte, morrendo mais do que a morte. Vou partir no sempre, no interminável de partir, que é a alma.

A alma da incerteza

Não sei se sou percepção da vida, ou ela é percepção de mim. Mas, na incerteza da alma, a percepção é apenas alegria, amor. Eu amo na incerteza de ser, amar. O nada me faz viver, tem a beleza doce do amor. Que a sensibilidade da alma seja o amor. Nasci para o amor. É tão forte a morte: ela tem a força, e eu a razão. Vida são flores. Apenas o vazio preenche o vazio. O vazio de mim é a insaciedade do meu corpo e o preenchimento de mim. Algo partiu de essencial no vazio de mim. Apenas o céu, Deus, não abandona o vazio de mim. Falta-me consciência quando o sol nasce, e tudo transcende no nada, sem poder sentir o vazio da minha alma. Vida, devolve-me tua paz, com a sua revolta. Liberdade é amor. O morrer no nascer é o sofrer da alma, que não seja eterno e que não dure, que não dure o tempo de uma rosa, para seu sofrer encantar a vida, como uma rosa. Apenas a rosa desfaz a eternidade.

A fraqueza da invulnerabilidade

O amor separa a realidade do resto do mundo. A única coisa que faço é viver em ti, solidão. É como se fosse tu a minha vida. Não tenho voz para a consciência do meu ser. A alma é frágil como o vento. Não sei se interpreto a vida, ou a vida me interpreta. A alma não pertence a nada, nem se pertence. É fácil viver na alma, é como se jogar no mar. A escrita é meu mar, meu mundo, meu anseio. Escrever é como a luz depois do mar se pôr.

Caos

Sorrir vida não é sorrir para a vida. Nada deixei para trás ao morrer, ainda não perdi a capacidade de sorrir vida. Sorrir vida é mais do que vida: é viver no meu sorrir, pois a realidade de ser feliz, é apenas uma única realidade. Por isso, nada separa a alegria do ser, pois o amor de ser não consegue ser triste. O sonho é deixar de amar como um sonho consciente do nada em mim. Então, por que ninguém sonha? Por querer amar e viver. Sonhar nunca será viver. Viver, sonhar, é a mesma luta contra o interior, sem luta não há vida. Por isso, luto com as palavras, que elas tenham vida suficiente para falar de amor. Falar de amor é falar de mim. E se o amor for esse abismo onde desabei minha dor, quero morrer neste abismo de sonhos, amor. O abismo quer uma vida apenas onde possa ser triste. Eu não posso lhe dar a vida, mas posso lhe dar palavras, amor, para o abismo se animar com sua alegria. A vida cessa, o abismo não se libertou da vida que queria ter. Palavras são abismos sem fim, como se fosse a falta de me refletir no nada. O nada nas mãos do nada faz surgir o corpo como melodia absoluta. A presença do corpo é apenas uma melodia danço com minha presença, canto com minha presença, e assim surge a existência da alma, que não pode ir além do ser. A alma desaparece no meu cantar, é mais do que amor, é poesia.

Hesitação

A luz se reduz ao olhar da consciência. Esqueço a luz na presença da tua ausência. A vida morre na consciência do nada. Estou começando a gostar de ter consciência: minha consciência e a vida são luzes que se completam no ar que perdi em viver o ar, como se fosse a única vida. A alma machuca, mas não dói. A dor é falta da falta. O ser deixa de ser nada ao se comunicar com a morte. Não há hesitação em morrer, não há nada em morrer. Viver no nada é a eternidade que não me falta, por viver no nada dos teus olhos.

Cega de sofrer

Sou o que me falta, até que nada me baste para faltar. Tenho alma na falta de alma. Desafogar o que sinto com a alma. Não tenho forças para sofrer, ser quem sou. Tão poucas palavras numa vida tão profunda. Melhor não traduzir a vida no que sinto. As palavras erram, vacilam perante a vida. Lágrimas sopram a vida para longe sem serem sopradas como o vento que espalha amor. A morte silencia o vento. A noite me envolve em sonhos de morte. Não adianta esperar pela vida na cegueira de sofrer. Sofri, pois a vida exige o sofrer. Não hesito em escrever: é como ser triste por um sonho. E se o sonho cessar, o que fazer com a tristeza? Sou livre sem sonhar? Apenas o sonho nunca sonha.

Detalhes do meu ser

O amor é um detalhe na imensidão do meu ser. É pela saudade inexistente da vida inexistente que a alma entra em mim. Não há detalhe na alma. A distância da realidade não me separa da realidade, não me separa de mim. Para afastar o olhar do olhar, tive que olhar para mim. Pensar refaz o tempo que perdi vivendo.

Um começo

O começo da vida é o amor, mas a vida não é o amor de um começo. O não une a alma ao ser, até que eu esqueça toda positividade por um sofrer infinito. Sofrer se perde ao respirar. Respirar é um pacto com a alma de viver.