O que sinto e vejo são as mesmas coisas para a vida. Não luto por mim, me condeno. Condeno-me por existir, como se eu fosse a penumbra do sol a destacar uma noite lenta, no infinito sem fim de olhar com saudade, a inexistência da minha vida, como sendo a consciência do nada na minha consciência. A luz treme em meu olhar como se o sol desaparecesse na visão do mundo. Escrever dá voz à alma. A alma no sol é a morte sendo abençoada. Quero a vida mesmo ausente. A vida se libertou de si com a ausência. O pensamento faz bem à ausência voluntária. A ausência é tão rara, preciosa, imortal, que todos querem senti-la. A ausência é uma bondade que ninguém mais tem. Mas, se tirarem minha ausência de mim, vou morrer. Não há morte na ausência. A ausência é uma oração. Não sei com que alma vou morrer, já não estou aqui. A ausência de morrer é um adeus para a alma. Não se cura a ausência com alma. Mas a ausência não precisa da alma. Apenas a ausência não chora, reage. Alma, foste a minha permanência. Permanência é não pensar em ti. Eu vi amanhecer meu corpo num sol de conquista. Meu céu, meu mar, minhas perdas, não fazem parte de mim. Não há corpo para o meu corpo. Não é por me destruir que vou morrer. Meu corpo morreu, a alma está viva para amar. Tudo aparece ao morrer. Até o invisível no amor. Meus únicos sonhos são: o céu, as estrelas, o sol, espero que continuem sendo sonhos para mim.
Perseveração |