Estou na boa garganta da vida. Vivendo, querendo, amando. Quero viver o ontem hoje. E o amanhã ser apenas um desencontro da vida. O amanhã é apenas ser eu. Nada em mim isola o amanhecer. Eu aproximo o amanhecer do meu sol, da minha vida. Assim, me sinto só. O amanhecer protege o céu das incertezas. A lembrança nasce da certeza. A incerteza é a tristeza. Ouvir minha tristeza é negá-la. A vida preenche a eternidade sem o deserto da solidão, que se prende ao nada com um abraço. Abraços deixam de amar, assim como as ondas do mar se isolam no infinito de mim. Isolado, o mar se mistura em ser, como se soubesse de mim. Ele é um ser que me escorrega pra dentro dele. Eu dentro do mar, sem o infinito de mim, onde o sol latente se disfarça descoberto no céu. O céu não se fez sol, por isso arde na alma. O ser ama pelo outro, pensa não estar mais só. Alma, foste o sol mais radiante. No sol, nasce a vida no ser. O ser é o sol que falta no sol. Se meu corpo me esquecer, não vou lembrá-lo de mim: quero ser uma lembrança boa. Isso é mais importante que viver nele. Viver é ser eu. Mas a vida não sou eu. Tenho muita alma, nenhum ar de vida vai me separar do momento de partir, feito para mim com minhas poesias. Das minhas poesias irei partir, mais distante do que o céu, onde falo estrelas. Parti como se algo em mim fosse esta despedida. Parti para ficar perto de mim. Salvei meu corpo da presença do destino. O destino tornou-se minhas mãos de poesia, soprando o vento para um sol de sonhos.
Mortificada (aflita) |