Como pode o amor me fazer amar? Nada me faz amar, amo apenas o invisível dentro da liberdade poética, onde estão todos que amo. As palavras rangem como morte, nascem como o sol. As palavras acumulam vidas. Salve o que salvei para estar perdido como a palavra, que polui o rio do saber. Queria fazer de conta que sou sua, que é minha vida. Vida é tudo que não pode ser, mas é porque tudo é indefinido, sem a solidão. Minhas palavras, tua solidão, são esquecimento do mundo. O mundo será lembrado sem palavras, sem solidão. Apenas o esquecimento será palavra, será solidão. O inexplicável se tornou a vida da poesia. A poesia se explica no inexplicável. É fácil desaparecer da vida, do sonho, não consigo desaparecer. A morte é leve como o desaparecer. Perdi a infância como quem é mutilada. Tantos anos, nenhuma vida. Absorvendo-me no nada do tempo. O nada do meu olhar fura meus olhos. A vida é o que ela quer ser. A vida é um ser defeituoso. A vida me acrescenta, me faz evoluir. É cedo para viver. Quem consegue conversar com as palavras? Nada necessita amor. Por isso eu amo? Que alma o amor suporta? Como a alma é infiel a si mesma, o ser nasce, a torna uma nova alma. Uma nova alma, para uma velha vida. Na escrita não há faltas, perdas, tudo é verdadeiro. A perda é verdadeira comigo: sinto-a apenas na perda de alguém. A perda de mim preenche minhas faltas. Nada me falta na minha falta. Algo se despede, está longe, mas nunca me falta: a ausência. Apenas o amor pode acabar com a história da vida para ser minha história. Qual o sentido de uma vida sem história? A ausência. Quero tornar a vida, vidas, onde sua história é apenas um detalhe. Várias vidas numa única vida. A saudade da vida começa a nascer. Termina sem sofrer. É difícil falar da morte, ela é visível em linguagem poética. A morte pode ser apenas um sentimento, mas é o fim. O fim do sentir é o próprio sentir, a morte apenas o enterra tão fundo, que se torna amor. O amor não renasce o sentir, faz viver.
O invisível dentro da liberdade poética |