O agora é apenas a morte, não vivo sem esse agora, onde não sofro, sou feliz, descoberta por mim pela morte. Morte, espero por ti, largando minha alma. Tudo desaparece em mim. Morte, não existo sem ti. O que desaparece não se esquece, faz parte do não vivido. O não vivido é a vida. A individualidade do tempo é o ser. Apenas no tempo o ser é um só. Para o outro ser, o ser são vários seres, e ao mesmo tempo é apenas eu. O ser não é para o ser. O ser é sempre de outro ser, por isso se sente um nada. Não voltaria pelo tempo, mas por mim. O tempo significa apenas separação. O tempo me exclui de mim. Falta pouco para cessar a vida, é menos do que o pouco em mim. Não conquistei o mundo, mas conquistei o meu amor por mim, vivendo. Imaginar nenhuma ilusão é imaginar eu dentro de mim. Que mundo amaria o amor? Não dá para criar um mundo imaginário de amor. Resignei-me não a viver, a sobreviver. Sobreviver não admite sonhos. Sonhar é raro. Tenho que sair e voltar de mim para sonhar, renascer. Tudo ama, nada acontece. Nada foi perdido por nada acontecer. A alma é uma maneira de tornar o acontecer necessário entre mim e eu, para eu morrer em paz. Forcei o acontecer alheio à morte. Mas foi quando percebi que posso ser esse acontecer. O acontecer é o que existe sem a vida ou a morte, que não está em nenhum momento: esse acontecer é Deus. Apenas Deus acontece de verdade. A falta de Deus é falta de amor. Eu amo, confio em amar. A alma é mais visível do que eu, do que o amor. A transcendência cessou o amor no amor. No ser não há morte, por isso morre, mas não quero ser um ser morto. É suficiente ser eu para mim. Não reconheço a morte na morte, mas a reconheço na minha morte. Enfim, não sou só, eu tenho a morte dentro de mim. O silêncio invade o ficar, sem ser o silêncio, apenas fica. O corpo destrói a vida, não a vida do corpo, mas a vida interior, queria ser aceita como um corpo, que cuida, salva, ama. Sem vida como uma onda que se perde do mar, busco algo em algum lugar. Algo que não seja corporal, mas até partir é corporal. Vida, no seu abraço, esqueço meu corpo, minha alma. Esse abraço é mais do que corpo, do que alma, é ter você. Não posso interpretar meu corpo, como se com ele eu explicasse o mundo, a vida, o teu adeus. Nunca pensei na solidão como a falta de um corpo. Então não sou só, se posso me abraçar, me tocar, tenho toda a realidade em mim, não posso ser só. Sou a minha realidade, que descansa em corpo, em alma. Alegria, vieste dos meus sonhos a me fazer dormir. Pode ter sido apenas um sonho, nele sou feliz, como se algo restasse do meu corpo, diluído de dor agora sou só, dentro do meu corpo, sufocada, sem palavras para sofrer. Sinto minha presença irreal. Não existe outro tempo, outra vida, agora. Tudo é apenas um recomeço, sem vida, tempo, apenas eu em mim, e nada mais.
Não existe outro tempo, mas há o recomeço de viver |