Exclamo vida por tudo que vivo e ainda vou viver. A alma se divide entre o corpo e o ser. Eu me divido entre mim e eu. O tempo é o lugar concreto. O lugar concreto de ser é o meu amor. Quando transcendo, não consigo transcender. Fico na paz do meu corpo sem vida, morte sem transcender. O eco do meu corpo sou eu a transcender. A resposta do silêncio para o silêncio é o silêncio. A resposta da minha vida sou eu. A inspiração não vem de mim ou da vida: ela é a vida, ela é o que sinto sem sentir. Ter de ser faz o amor desaparecer. Sem amor o ser aparece. Amor era para ser a continuidade da vida do ser. O amor ficou no nada de mim. A consciência do corpo é a morte. O ser se conhece sem corpo: na vida. A vida atrai o corpo para o abismo do vazio. A falta do abismo causa morte. Quanto mais mortes, mais a vida se renova. Não se pode renovar a alma. Separada do ser pelas emoções de vida, nunca serão a vida. A vida une da alma até o ser, até conseguir ser uma vida inacessível. Nada perdi nas almas das perdas. O olhar são minhas perdas. A distância da perda é a perda. Perdas são o universo no tempo. Não há tempo na vida, nada pode superar o universo. A vida é a permanência solitária do depois no agora. A determinação da vida é o céu. A dor da alma é mudar o corpo, não mudar a si mesma. Ela preferia mudar e deixar o corpo intocável, inerte, sem a sombra vazia da consciência, que impede o sol o fazendo nascer, como lembrança do que não posso ver na morte. Vejo na morte a mim, como o latejar da alma. A dor da dor não existe. Busco a dor da dor, consegui apenas morrer. A dor na dor continua a mesma, eu a vejo com os meus olhos, mas meu olhar não é essa dor, é apenas o que foi feito na dor, por um olhar que agonize a dor e refaça a falta do significar, em um vazio sem fim. O fim é o olhar pelo olhar no olhar. A visão do fim é como voltar do céu, pensando ter estado lá um dia. Agora estou no céu, não o sinto céu, o sinto amor. A mágoa do céu são estrelas. Não dá para ficar na eternidade, ausente de céu. Minha dor sou eu, onde nasce o amor. A falta de nascer fez com que eu criasse o amor, que não substitui a falta. A falta é minha visão interior escapando do fim. O fim de ver é a vida. Para que outro fim? O fim é o mesmo outro fim. O fim amanhece. A visão não é real. Morrer é apenas um detalhe esquecido como o meu inconsciente. Eu conheço a alma do outro pela minha alma. Estou em minha ausência, que ocupa a minha vida sem ausência, a vida seria monótona. Não há como viver a dor, a dor não vive. O corpo é o infinito de viver só num corpo alheio a mim. Corpo é o ter sido até o nada. Necessitar é o vazio do corpo na alma. Não necessito, tenho alma, essa é minha necessidade de uma vida inteira. Não há vida na alma, mas penso que ela vai suprir o vazio pela falta de viver. Tomara que o cessar seja permanência eterna da minha alegria.