Blog da Liz de Sá Cavalcante

Como diz algo além de ser?!

O silêncio me deixa cansada de ter alma, de respirar sempre o mesmo ar. A alma e o ser não existem juntos, nem mesmo no adeus. Apenas a vida sabe unir tudo num único adeus. A vida me separa de mim pelo adeus que estava unido de alma, de ser. Permito-me comunicar com o céu, com as estrelas, num abraço sem força de transcendência. Como diz algo além de ser? É como flutuar na escuridão. Nada existe no meu ser, ele é um ser dividido entre a vida e o meu corpo. Não se pensa na essência, o pensar é o esgotar da essência. É o cessar da essência. A essência não se vê, onde tudo se vê. A natureza se conhece pelo balançar do vento silencioso, que se mistura com o mar, com o amor. Nada na vida pertence ao nada. Rostos perdidos na essência da consciência, onde o pertencer é a fascinação, onde os rostos são apenas o esquecimento da vida. A certeza é a ausência, onde os rostos aparecem na vergonha ao céu, que semeia mortes de lama. O amor é a falta de presença do ser. A ausência, feita de sol, é o despertar da luz. Luz dos meus devaneios.

A poesia da poesia

Cada morte é única. Ser única não é ser absoluta. A morte é a abertura do universo. Não sei viver sem as minhas palavras, diferente das da vida. É essencial essa diferença, assim diferencio o mundo do meu ser. O sol é o ser de todos os seres, mas não existe. Amanhecer é um sentimento. O sentimento muda de sentido, perde significado, como se eu entrasse dentro da sua sombra. A sombra da ausência somos nós. Correr de lugar nenhum é não ter medo de nada. Ficar, desaparecer, é a mesma coisa. Mas, nas palavras, a imagem se torna eternidade. Eternidade sem palavras. O ser não tem certeza de ser um ser, mas tem certeza das palavras que sente. Sentir para a palavra é nada. A ausência é apenas um arrepio. Para uma ausência sem arrepio, uma canção perdida pela presença da vida. Presença é a perda de ser alguém. Alguém é tão vago quanto ser. A obscuridade é acúmulo de luz. Lutas são vidas inesquecíveis. Espairecer o nada, com uma única gota de solidão, de onde tudo nasce e morre, sem se destruir.

Leveza solitária

Cessa a alma em mim, não no sempre mais. É inacreditável sonhar com a alma, com ela isenta de mim. Ninguém pode ser a minha morte. Não sou a morte de ninguém. Sou como o vento, que nada sopra. O tempo que estuda o ser são amores reprimidos do nada. Abraços demoram na presença absoluta de ter a vida em um desmaio de luz. A lua desmaia em estrelas que se refletem na luz de ser. Subir pela luz do ser para morrer é apenas ver estrelas. A alma não alcança estrelas, mas alcança o céu. A alma dança estrelas, que rodopiam no ar. Falta ar nas estrelas. Recuperar o ar das estrelas sem estrelas é como tocar o céu. Tocar o corpo no incorpóreo e o corpo se renovar, como se não soubesse o que é sofrer neste sofrer incorpóreo que domina o mundo, as pessoas. O incorpóreo da realidade é o céu. As palavras não são incorpóreas, seu corpo é sua alma. O que pode ser mais real para mim do que as estrelas, que perdi em mim, por sonhar?

Enlanquecer (perder as forças)

Perdi minhas forças, depois de tanta força, para que a vida seja poesia, e o céu, a ausência de pensar. O grito ganha forças de alegria, amor. Como posso ter uma emoção tão grande e apenas escrever? A poesia está viva, já posso viver! O mundo não vive sem poesias. A poesia me faz estar sempre a nascer. Nascer acaba com o porém de uma poesia. Poesia é quando tudo pode cessar, continuo em mim. É como se eu fosse a poesia de alguém. A poesia não liberta, mas sonha comigo como ninguém sonhou. A poesia conhece até meu respirar, minhas ausências de sonhos. Respiro quando sonho e quando, paro de sonhar. Mas é como se existisse algo além da poesia. Falta alma no universo, não lhe falta poesia. Não há vontade, nem pertencimento, que se compare com uma poesia. A solidão de comida é morrer sem poesia, sem a beleza da solidão. Solidão é não saber como existir poeticamente, não saber o que sente, então, não sou só. Saudade é me esquecer, é querer ser só sem poesias. Apenas a poesia arranca essa saudade do céu e a transforma em amor. Mas esse amor é mais do que poesia, é minha identidade. Quero que minhas poesias se tornem suas. Onde está a poesia ficando em mim? É aterrador não escrever. Escrevo porque o instante existe, e a vida está incompleta, como se fosse o sol molhado de chuva. Nada força o sol a não existir. A alma escreve por mim: assim, me imagino na poesia. A poesia não é descartável como o tempo. Tudo se vive sem o tempo na poesia. Conquiste o mundo para conquistar a poesia. Nada se perde em forças, se perde em imaginação.

A falta de um adeus é perda de vida

O ser não se relaciona com o outro, se relaciona com minha alma, num adeus de vida. Vida, se soubesse a falta que ela me faz. Morte são carícias na alma. A essência do nada é a vida. A essência da vida é o nada. O indefinido é a minha vida. Se minha vida se definisse em minha alma, não seria vida, seria apenas essência. Não há essência na essência. A essência é a alma. A alma, lua que se aflige, por ser só, no não ser só de si mesma. Alma, descanse em paz na minha vida. Que sua perda seja vida para mim. O infinito é uma forma de não se ver a vida. Se vejo a vida pelo seu fim, ela não é o fim. O mar envolve o fim de certezas, como se o pensar fosse retornar pelo fim. É tarde para o fim e cedo para mim.

Amanhecer é alma

Eu conheço a alma pela sua ausência, que sufoca o mundo, me sufocando também. O mundo me sufoca mais do que o meu sufocar. Sufocar dá prazer à alma. Tanta alma para o nada, nenhuma para mim. Sufocar são lembranças, sendo para mim o que nunca serei para elas: um sufocar desesperado. A agonia é sonho. A paz é uma vertigem. A paz sem destino. Não posso abstrair o nada, ele não existe como pensamento, como espírito. É uma ausência esperada, faz bem essa ausência do nada, me faz encontrar a paz, que pensei ter perdido para o meu ser, somente para o meu ser, posso perdê-la, como um amanhecer da alma, que não voltará à realidade de sonhar. Sonhar apenas para ser triste neste inconstante adeus da alma.

Não há como buscar a alma na alma

Pensar não se encontra no ser. A alma é a liberdade do pensar. Não busco a alma pela sua liberdade, mas por seu amor, pela sua essência, pela falta que lhe faz amar. Para salvar a alma, não sentir, para me salvar, matar a alma. O ser faz do amor uma coisa boa. A vida é mais do que sorrir, ficar dentro de mim. A vida é de todos nós, mas ninguém percebe. A espera é eternidade que vaza no nada. Olhar de eternidade, não fica, ama. Olhar a eternidade me impede de olhar o céu. A eternidade é o que tenho dentro de mim. Sonhar é exterior a mim. Tudo que vive pulsa, revira, respira dentro de mim. O céu é o interior do mundo. A saudade é triste, se eu a vir como se fosse alguém. Ninguém pode ser essa saudade, ela é a minha saudade, em busca de mim. Escutar o mundo lá fora, para não escutar dentro de mim. Fora do mundo, a morte ecoa em mim. A morte foge para dentro dos meus sentidos. O tempo é a vida que tenho. O tempo da vida é o tempo da morte. O sorrir encanta a vida. A vida é o silêncio de depois. A vida é feita de depois. O amor é sempre a perda de alguém. Como sobreviver ao amor? A verdade é o ser mesmo, saindo de si, tornando a verdade aterradora, por não ficar com ela. A verdade ensina, mesmo sem ser verdade. A verdade consola-me das mentiras, das ilusões de viver. O ser não tem a realidade da alma. O fim último é a alma, não é a morte, conservo o fim último, para quando eu necessitar dele. Não necessito ainda deste fim. Existe alma sem o fim? O que resta do fim sou eu. Eu, para um fim. O silêncio da alma são as minhas palavras, que calam o silêncio do silêncio. O absoluto se divide em ser. Olhos estranhos de sonhos e fugas, me empreste teus olhos para eu viver. Viver para olhar. Desconto a dor na alma. O silêncio é como se não houvesse saudade no ser. O vazio é o silêncio que penetra na morte. Caminho no vazio, como se fosse um jardim de amor. Não dá para parar de amar, sem o amor, deixo de ser eu. O esforço para existir é inútil. Existir, viver, não faz parte da natureza de nenhum ser. Os mortos não estão mortos, são a consciência de ser, viver. Não sei mais o que pensar por mim. Não existo ao pensar. Mesmo que esse pensar seja a existência, é inútil pensar. Não sei o que fazer com o que sei. O que penso nunca será eu.

O fim da vida é o ser?

Morrer não é nada para a vida, este é o fim da vida. Não dá para recomeçar sem o fim. Mar da vida, me mande notícias da vida, do amanhecer de mar. O sol, essência do mar, é o mar escondido da minha solidão. O mar escondido da minha solidão não chega até o sol da minha tristeza. O mar da solidão aparecerá como minha alegria. E a minha alegria se torna sol. A vida é um pedaço do céu. Meu corpo absorve a morte sem morrer, flutua entre a vida e eu: este é o fim que é eterno sem a alma, apenas a individualidade sem mim e sem o meu ser. Ter sido não é saudade, é necessidade de ainda ser. A morte é um ter sido que não morreu, tornou-se ausência por não morrer. Assim o ter sido de mim é, mas eu já não sou mais. Nem ter sido um dia consegui ser.

Vir a ser

Nada cessa no vir a ser. Nada é. Vir a ser é estranho, já sendo eu. Eu no vir a ser de mim mesma: é como se o céu tremesse nas minhas mãos de céu. Não é para a vida que a morte retorna, é para a sua alma. Sua alma ainda a quer. Deixo o querer ser apenas alma. Não existe alma sem a vontade. Nem mesmo a alma me faz ter vontade de algo. Mas o caderno é o transcender da alma. Cada palavra, uma expectativa de que a poesia mereça cada palavra escrita, cada proximidade de vida. Deixo-me levar em palavras de alma. Assim, a vida viverá em mim, como um sorriso. Sorrir para a alma que me falta e aproveitar a alma que possuo. Sinto falta da falta de sorrir, como se sorrir fosse um sonho. Quando sonho não sei se rio ou se choro. Desistir é sorrir para o nada, sendo feliz. Desistir é uma ilusão. Ou será desistir a realidade a me sorrir? Quanto falta da alma para ter realidade? A única realidade é o amor. Não consigo ser alma, apenas estou expandindo a minha imagem para o espelho, até o espelho me levar ao nada sem voz. A voz abafando o ar do espelho. Nuvens coloridas de céu, para os meus sonhos dormirem amor. Restam do sonho as lembranças, que vieram tão tarde que perderam sua existência em outro sonho. Sonhar se repete sem mim. Eu não repito sonhos, eles precisam ser únicos, como a saudade de te ter, vida. Não consigo ser presença de nada. Não posso reagir a minha presença, que é apenas a busca do outro. Deixo a vida me levar, senão eu me levo. Além do fim, o sol. Dormir é não ter reação.

O vento e a presença

Sinto a calma do vento como um descanso para a minha alma. A presença do vento não me deixa só, por isso, tenho medo, não sou acostumada com companhia. A minha presença diminui no vento. O vento se torna minha presença e minha presença, minha lembrança, minha vida, por isso, não posso ir com o vento, e percebo que nada é em vão para quem sonha.