Blog da Liz de Sá Cavalcante

Equilíbrio

O que está fora está dentro de mim. Exterior e interior é apenas uma maneira de ficar comigo, a sós com o mundo. Da alma, nasceu o tempo, nada a fazer no tempo, na alma menos ainda. O mundo sem tempo e sem alma é o mundo puro, que ninguém vê.

Onde o céu se esconde?

Não sei onde o céu se esconde, que não para no meu amor? Seu fugir sem ausências me faz amá-lo ainda mais. Se há céu na morte, como não há céu na vida? O que é o céu? O desejo de ser, de existir? Não existo para o céu? O céu é apenas minha morte? Olho para o céu, me sinto infinita, me sinto viva. Viver é o céu sem nuvens a cobrir o céu. Eu vivo o céu em mim, viva ou morta. Nada existe sem o céu. A lembrança é o céu todo para mim. Não há esquecimento no céu. É desesperador não ver o céu. Ver o céu é como ter alma.

A alma é o fim da alma

Não vejo alma, vejo o fim da alma. Preciso que algo falte para existir amor: não se pode ter tudo. A alma é esse tudo que nunca terei. Tudo pode me faltar, menos o amor. Não sei o que é o amor ao amá-lo? O que perdi por amor? A vida? A poesia? Como ainda me tem amor? Sei apenas sofrer. Confundo o sofrer com o amor. O sofrer não suporta o ser: se torna dor. Para conviver, até mesmo com o nada, é preciso não sofrer, pois o sofrer já sofre tanto. O sofrer é o fim da alma. E é a alma também. O amor é esse ainda. Não é possível que tenho que dizer sim. Um sim para o amor cessa o amor. Se o amor não existisse, eu o inventaria em cada vinda do sol. O amanhecer é a eternidade, se confunde com a eternidade, com a realidade. Depois da vida não há eternidade, há o meu ser e a morte. Me protege do frio de morrer. Quando perco a eternidade, ganho a vida. A vida não se sente morrer, morreu, pois é amor.

Um nada de flores

O nada feito de flores é minha alma, o meu ser. O ser da alma é o universo. O universo é sem flores. Meu interior é a vida em mim. Dentro da fala, a minha morte. Sem a vida não me despeço da vida. A falta do outro, a falta de ser é viver. Expandir o nada, apenas para me sentir, seria egoísmo? O nada é a eternidade sem eternidade, sem a vida. O corpo supera a alma, o corpo pode morrer na distância de si mesmo, a alma distante não morre, isso me faz sentir que meu corpo está perto. A proximidade do nada cessa meu corpo mais do que a morte.

A beleza do esquecimento

A beleza perene, eterna, do esquecimento não é feliz, apenas o amor pode ser e não ser eu, o resto é inexistência. O esquecer não é inexistente, é a certeza que um dia houve amor. Esse haver é a vida.

Adoração aos sonhos

O céu de uma estrela é o ser. Quantas estrelas precisam desaparecer para eu morrer? O céu de uma estrela é uma estrela caída no infinito de minhas lágrimas, a regar o céu com o infinito das minhas lágrimas, não deixa o sofrer sair de mim, fica encantado como o céu de uma estrela, é a essência da estrela. Escrevo com as estrelas, pela adoração dos meus sonhos.

Síncope (perda da consciência)

Às vezes, penso que perdi a consciência, mas é apenas a consciência sendo outro alguém. Se eu for ser o outro, perdi a consciência sem nada no meu amor. A carência do meu corpo é o meu amor, me queira carente, me queiram eu! Eu sendo a consciência do amor. Síncope do amor.

O que a morte não pode tocar

A morte me faz deixar de sonhar, amar, mas não pode me tocar. O silêncio penetra na alma, tocar o silêncio é não pertencer ao céu. Ver o meu sofrer pela dor do mundo, que me faz morrer numa morte sem asas. Eu fui da vida, enquanto a morte tinha asas. O abismo tem fim: a morte. O ser não percebe quando não é mais: não ser não é morrer. A distância de morrer é a morte, é morrer. O tempo não é certeza de morrer. Não se ensina a morrer. Se eu não sustentar a morte em mim, o sol não se reflete em ondas do mar, mas a vida quis assim, que a falta do sol fosse a minha vida a cantar em mim. O adeus da tua morte sou eu. Não há motivos, há apenas a vida desse instante, confunde-se com sonhos. O instante é o adeus na falta de um adeus. Nada me revela não sonhar, talvez sonhar seja morrer. Mesmo sem sonhos sonho, como se o azul do céu a se derramar em sonho, como sendo o amanhecer eterno. Nada pode ser na eternidade, é um deserto de poeira de amor, que varre o céu de tristeza e o torna tão feliz, mas não tão feliz quanto eu. Nada me prende, não preciso da alegria para viver, mas amor é alegria, continuação da vida. Nem precisa haver poesia, basta ser feliz, como se o olhar do céu fosse único para mim. E o olhar do céu se torna meus sonhos. Tudo vivi, falta ser feliz, como a eternidade do nada: poesia que permanece em mim. A morte não me tocou nunca, por isso, me ama, me deixa viver, não é a morte, é o passado do amor, que lembro apenas com a morte. A morte é apenas um esquecer triste, de luz, acolhimento. Escrevo, pois um dia irei morrer. Então não escreverei por escrever. Escreverei na alma de quem não pode morrer e necessita morrer, quem sabe assim eu possa te ver, vida, no meu amor.

O verdadeiro desaparecer

O desaparecer é existir. Quando o aparecer e o desaparecer se unem, surge a morte. Vida, onde está, se nem ao menos no aparecer ou desaparecer você está? Aparecer ou desaparecer é apenas o amor da alma em mim. O real não aparece nem desaparece, é abstrato. A vida é o concreto do abstrato. O nada morre sem o abstrato, sem o concreto, morre no seu aparecer, como se algo fosse aparecer do aparecer. Morre sonho, para que o real desapareça e eu possa te esquecer. Será um sonho esquecido, esse sonho de se viver. O verdadeiro desaparecer é o sonho. É o ser. É o nada. A lembrança é o aparecer na escuridão. É esquecer o nada pela escuridão. O aparecer é a paciência do desaparecer. Nada desaparece nem existe. Como eu consegui viver num aparecer que parece a morte? Aparece sem a morte. O desaparecer e é a presença de Deus em mim. O desaparecer quer apenas minha presença, o aparecer quer o meu corpo, minha alma. O verdadeiro é o desaparecer, sem imaginação, sem realidade, por isso, é verdadeiro. Tudo é como sinto, a vida é previsível. O amor é apenas amor, a vida é apenas vida. Eu sonhei o bastante para aparecer e desaparecer ao mesmo tempo no flagelo do sofrer. O sofrer se espanca. O sofrer agride o céu ao contemplá-lo. Sou uma aparência ausente, inexistente, nem a minha poesia me faz aparecer. Aparecer é o passado caindo no abismo do nada. Aparecer a vida pela transcendência sem alma. Não há o verdadeiro aparecer no desaparecer da alma, que esconde o infinito das palavras. Agora sei que morri, no desaparecer eterno, pela palavra não dita: amor, não sei se te amo, sei que apareço e desapareço em ti sem saudade, apenas o nada infinito dessa saudade me une a ti, nas minhas palavras solitárias. Me imagino sem ti, não me imagino sem palavras. Nós, é apenas eu, num suspiro de morte e dor. Enfim, o aparecer e o desaparecer existem para um amor morto. Viver a sofrer.

A aparência do espírito

O espírito pode ter qualquer aparência, é sempre espírito. O espírito da minha morte é sem poesias. O desaparecer da ausência é eterno na morte. Pode-se superar a morte, assim como os pássaros descobrem o céu no dissolver do espírito em mágoas, que são todos os meus desejos, que não se tornam espírito. Espírito é, ao menos, uma única vez, meu ser em mim. Não sei se o espírito toma conta de mim. Nas minhas ausências, toma conta de mim, como uma poesia que escrevo, ao sonhar com ela. O sonho torna-se realidade e eu preparo a minha poesia para o espírito, para as ausências, para a morte dela, da minha consciência. Da morte da falta de mim. Cubra minha morte com poesias, com vida, e as vidas continuarão, a poesia continuará, na saudade do sentir.