A alma da solidão não é só. Sem o tempo, a alma está perdida. Alma e tempo andam, vivem, juntos no que não existe em mim: eu os faço viver, mesmo sem existir. Não existo, dou vidas sem as ter, é como lembrar da minha inexistência, é como voar na alma da solidão, no desconhecido, onde estou viva. Tudo é bom no desconhecido, nada é ruim, até desatar o desconhecido não ser mais só nele. O desconhecido é a falta de solidão, numa solidão absoluta. Águas-vivas para o banho de vida ou de morte, depende da solidão do meu corpo, a tentar se fazer de alma. Nada e ninguém é o amor que sinto. O amor, para ser feliz, é só, tão só que o vento leva. Tudo é sol, mundo e mar. O silêncio é o eco do mar. Nada se compara ao silêncio de sofrer: é a morte no mar. Sofro pelo silêncio por roubar o ar do ar. Nada pode partir sem vida, sem adeus. Partindo na presença do nada, como sendo a vida que não tive. Sou a vida, agora que parti da vida. Não quero ser a vida. Eu quero apenas partir. O amor despedaça-me em ti, com fogo aceso. Despedaçar-me é a solução da minha vida. No despedaçar, não há tempo, alma, ser, há o abismo, que ergue o mundo, em um vazio infinito, para eu aprender a ser feliz com o vazio de esquecer, sem me esquecer. Não posso me esquecer sentindo-me vazia. Isso é recomeçar no amor que sempre senti, na perda de um abraço, de um suspiro, onde sou imortal, sem a sombra da minha ausência, que me faz amar amando.