Blog da Liz de Sá Cavalcante

Flores em vidas

A morte parece flores em vidas. Dentro de mim, as flores florescem minha alma, no desabrochar da poesia. Alma nova pela ausência que se resume em chorar como quem canta. O azul do céu declama o canto como se me visse e fosse meu canto em mim, que é como reaver o céu em poesias de flores, que são como o amanhecer. Flores em vida, é o que me resta da morte. Pior que morrer é não suspirar como quem respira.

Um momento para o nada

Coração aberto no nada para não amar: este é o momento do nada. Momentos são eternidades que ficam dentro de mim. A eternidade não me faz esquecer da vida, me faz esquecer de mim. A ausência é o único mundo que não foi esquecido. O céu é um mundo sem lembranças. Lembrar, esquecer, é a mesma vida em mim. Esquecer é amor? O amor para o esquecer é o vazio sendo lembrança. Superei a transcendência. Meu corpo é transcendência do nada. A falta do corpo é a realidade em vida. O céu repartido em mortes, em vidas, tem o respeito do amor. É importante ceder ao céu, o que foi dividido sem o ter dividido com esforço. O sentir não se diz, sem a presença do céu, razão de eu falar. Falar é culpa da morte. Um momento para o nada cessa a vida, me faz viver. Não existe um ser que fala: mas a fala existe pelo ser. No ser, a vida é vazia, como palavra preenchida pela convivência com a imaginação, como se eu pudesse libertar o amor de mim.

A alma da solidão

A alma da solidão não é só. Sem o tempo, a alma está perdida. Alma e tempo andam, vivem, juntos no que não existe em mim: eu os faço viver, mesmo sem existir. Não existo, dou vidas sem as ter, é como lembrar da minha inexistência, é como voar na alma da solidão, no desconhecido, onde estou viva. Tudo é bom no desconhecido, nada é ruim, até desatar o desconhecido não ser mais só nele. O desconhecido é a falta de solidão, numa solidão absoluta. Águas-vivas para o banho de vida ou de morte, depende da solidão do meu corpo, a tentar se fazer de alma. Nada e ninguém é o amor que sinto. O amor, para ser feliz, é só, tão só que o vento leva. Tudo é sol, mundo e mar. O silêncio é o eco do mar. Nada se compara ao silêncio de sofrer: é a morte no mar. Sofro pelo silêncio por roubar o ar do ar. Nada pode partir sem vida, sem adeus. Partindo na presença do nada, como sendo a vida que não tive. Sou a vida, agora que parti da vida. Não quero ser a vida. Eu quero apenas partir. O amor despedaça-me em ti, com fogo aceso. Despedaçar-me é a solução da minha vida. No despedaçar, não há tempo, alma, ser, há o abismo, que ergue o mundo, em um vazio infinito, para eu aprender a ser feliz com o vazio de esquecer, sem me esquecer. Não posso me esquecer sentindo-me vazia. Isso é recomeçar no amor que sempre senti, na perda de um abraço, de um suspiro, onde sou imortal, sem a sombra da minha ausência, que me faz amar amando.

Separo-me da solidão sendo só

Não há outro ser no ser, a solidão é mais essencial. A solidão cessa o ser sem morte. Não posso ser solidão. O que falta a vida para cessar a morte? Falta-lhe solidão. A ausência de morte é o vazio. Prefiro a morte? Ainda não sei. Sei que sonho e durmo no nada, como se eu estivesse nas nuvens. Essa alegria transcende, posso pegá-la, senti-la. É real, sonho com ela. O amor renasce como sol. Se eu esperar alma da alma, nunca terei alma. O amor é alma, não sobrevive ao ser. O sofrer do espírito é a alma. O nada sobrevive ao amor. A vida existe sem o nada. O mundo, lembrança infinita de mim. Nada é o agradável na lembrança. Não posso viver de lembranças. Lembranças não são pensamentos: é ausência de pensar: torna o pensamento presença de mim. A alma é a dúvida de existir céu além da alma.

Advertência

Terei um bom cuidado com a alma, ela já sofreu demais. Não há distância no som da morte. O som se aproxima da alma, como melodia. A morte escapa da alma. Estou tonta de amor. Posso voltar da alma sem o meu ser, sou um suspirar vazio. Suspirar tem que vir da alma. Alma é como uma paisagem no nada. A sensação anima a alma, é uma segunda alma, nunca ficarei sem alma. Tenho as sensações do mundo, como sendo o vazio da alma. De mundo em mundo, chegarei na alma nem que seja para eu me ver morrer. Sem a alma, tua ausência me desespera. Com a alma, tua ausência me ilumina. O amor é mais do que ele é, aparenta ser nada no nada com alma. O nada com alma é iluminado pelo sol. A certeza do nada me faz ter alma, me torna alma. Sem alma não há vida. Vida, foste minha alma. A impressão de morrer é pior do que morrer impressiona muito mais, sinto muito mais. Sinto perda como morte. Nada está perdido na morte. Nada previne de morrer. A morte não é apenas ausências. Mas posso sentir a morte como ausência da minha presença. A morte me sente, não sou ausente. Não posso ser ausente ao morrer. O amor não faz parte do mundo, é divino. Falta muito para amar, o que amar no amor? O excesso de morte? A vida tem a morte em suas mãos. A vida é insegurança. É triste ver que a vida existe na minha percepção, no meu silêncio ausente. A percepção não capta a ausência, e sim, o seu silêncio. O silêncio da percepção é poesia. Alma é consciência de vida. A consciência sem alma não existe. O silêncio envolve o amor. A poesia sem silêncio é o ressuscitar do nada. Me abri para o amor, ele partiu em céu aberto, ouço seus passos enormes como a vida. A vida suspensa no céu tem passos distantes, como se fossem a voz da escuridão, os passos da vida, a me fazer viver, sem tristeza. Tristeza não é alma, é a porta vida aberta para o amor. A morte é morte para mim, para outro pode não ser. Não ser é ansiedade da alma. A calma da alma é o ser.

Sensações

Sensações são o extremo de existir. O olhar não vê o seu fim, vê o seu interior, o seu amor por mim. Vejo o mundo e o olhar me vê, sou seu mundo. Minha alma se reflete no olhar. Não posso chamar o olhar de meu, o olhar é do mundo. É da vida. Sem o olhar, não há mundo, vida. A vida não determina o olhar. A sensação de viver, viver, precisa ser visto por mim, viver não precisa se ver. Tudo que é visto existe apenas em ver. Existir em nada ver é viver pelo olhar, é a eternidade.

Monólogo

Não sei como me sinto, por isso, converso comigo, o que não sei dizer: eu mesma. As palavras são as minhas atitudes. A realidade cria coisas inexistentes, como a poesia, que avança no mar da existência. Sonho com a vida. Nada aparece na vida. Converso como se me escutasse. Falar comigo me mantém viva. Nada pareço ser, por isso me pareço comigo. No aparecer não existe ser, no invisível a alma existe. Tudo se mostra para a realidade para a realidade ser luz da luz que cobre meu corpo de amor. Suspende a luz por dentro, dentro do meu corpo, para eu ser apenas corpo. O corpo não morre, torna-se fé. As palavras se soltam do meu respirar. São o pulmão do mundo. Falo e assim aprendo a viver. O nada não muda, se transforma como céu. O céu das lembranças são vidas na vida de Deus. Meu corpo não pode ser poesia. Fica comigo, morte, distante de tudo, que sou para você. Pense em nós duas: pense no que poderemos compartilhar sem a vida. Protegi a vida ao morrer. Morri no teu corpo: não há mais solidão.

Vida aleatória (não é determinada)

Realidade é separação, tudo se determina sem realidade. A realidade vem de dentro de mim para a vida, para a poesia. Alma infinita para o fim do amor. Apenas no fim há recomeço. O recomeço do fim é a morte. Morte sem o ser. O ser não é separável de si, mas é separado da morte, enquanto eu morrer.

Poesia em carne viva

Alma é metade canção do silêncio de nós, metade é ausência do nada. Espero um instante de poesia do amor. O vulto da saudade se fez imagem. A escuridão é o olhar na alma. A dificuldade não é o invisível, e sim o visível. A visibilidade de sentir é o nada. O olhar penetra sem alma dentro de mim. A escuridão faz a vida aparecer no transcender da alma. A alma é a vida dos sonhos. O céu sem alma é vida. O tempo do céu é sem eternidade: é o que existe dentro de mim. A pressa em viver são os sonhos. A calma de viver é o real. O motivo do sonho é o ser. Mas não há o ser no sonho. Viver arranca um pedaço de mim. Nem o céu pode separar o sol do sol.

A consciência do olhar

Ser o outro é minha liberdade. Há muito do vazio a atravessar a alma. O silêncio leva à morte. A morte se repete no que sou. O infinito, sem corpo, alma é a consciência do olhar. Não há olhar, consciência, para a alma. Refazer a vida pelo olhar. O outro desaparece com a consciência do olhar. Sou a existência de todos os olhares. Ser não é consciência de nada. Deixo-me levar na inconsciência, e assim ilumino a escuridão no sol do espaço vazio. O abismo é o fim da escuridão: é o desencontro do ser com o nada. É o absoluto sem o fim.