Blog da Liz de Sá Cavalcante

O amor se compreende amando

Sem essência, posso viver e morrer. Minha essência se foi com a poesia, com as lágrimas, é o que resta da poesia. Sinto nas lágrimas a única poesia que vale a pena escrever. São tantas poesias para ser amada: sou feliz. Nada destrói uma alegria verdadeira. O tempo é a incompreensão de tudo. Nada há para se compreender. O antes e depois do corpo é a morte. O corpo não morre, se decompõe. Se desfaz. A inconsistência da vida, do outro sem mim, é minha consistência. A inconsistência da memória é meu pensamento, onde não há o outro sem mim. Meu pensar é o outro, é um sentir, um amor, nunca é o que penso. Pensar é dizer ao outro o que ele é, por meio do pensamento. O pensamento se liberta do sentir, não é mais um pensamento, assim, compreendo o amor amando.

A vida é um sonho de presença

O tempo de cada um está escondido no renascer da saudade. Não há tempo na saudade, há este renascer sem ter para quem renascer. O céu, lembrança que o nada existe, por isso existe céu. O sonho faz nascer o tempo do amor. O sonho no amor percebe sua solidão como se fossem asas de liberdade, mas para quem ser livre? A liberdade tem que vir de dentro do outro para dentro de mim. Escrever ressuscita a alma, onde a escrita não nasce. A vida é um sonho de presença para a presença não acontecer. Mas a alma ainda é presença sem o ser. A alma é colocada à força em mim. Hoje, choramos até amanhecer em nós. Nunca amanhece em nós. A presença é o sonho de uma vida. A vida não é presença, ausência premeditada, com vontade, vontade de sofrer, amar, viver. Vontade é me despedaçar por meu despedaçar não ser a presença de outro alguém.

Escutar

Vida é canção que não se escuta, se escutasse não seria vida. Escutar é a irrealidade da alma. Eu escuto o infinito no irreal. Meus sonhos são reais como a irrealidade. Surpreenda-me com minha morte, onde escuto sem medo. Às vezes é reconfortante ouvir o nada sem morte, às vezes eu necessito ouvir a morte, é agonizante o silêncio da vida: é como se não houvesse perdas para a sonoridade do meu amor. Escuto o silêncio sem desmaiar. A vertigem é para não esquecer a vida. A vertigem é a vida. Não há vida no vazio. Espero não esperar: isso é sonho no sonhar. Escute minhas mãos na poesia e nunca mais vida necessitará de amor. As mãos deságuam em sons de eternidade, esvaziando o som do silêncio. Apenas minhas mãos podem romper o silêncio sem paz.

Presença em forma de canção

A canção mais perfeita é o silêncio, que canta como presença do amor, o amor construiu o mundo em silêncio. O insignificante está dentro do real como certeza de amar. A alma é amor. A aparência é consciência confusa, que dá voz ao silêncio para ele não cantar. O canto é a voz de Deus em mim. O canto é a realidade do ser, sem precisar de essência. A essência, fim de um sonho, que se tornou nada. Tudo parece ser vida, nada é vida. Não consigo me aprisionar no nada, dar um sentido às minhas palavras, ao meu amor. Repensar o nada, torná-lo vital para mim, assim sempre amo. É melhor esquecer do que sonhar. Tudo é possível na realidade, apenas para esquecer o nada, construir mundos de areias, muito mais seguro que este mundo que todos vivem. O silêncio ama. O silêncio encontra a realidade: torna-se ar que espalha o universo, como em um sonho para me recolher de mim perdendo meus pedaços. Tudo isso para deixar de amar o nada, não consegui. Seja apenas nos meus sonhos, e superarei a mim, com minha presença em forma de canção.

Probabilidade

A alma é a falta do tempo sem antes, o depois é alma. Tudo é alma no sonho. O externo não é a existência, é um sonho despertado no mar das ilusões.

O valor ausente

Acreditar seria a dor, o valor de viver? Ausente como uma brisa, emociona. Ser feliz é não me emocionar. A emoção é não aceitar o amor ausente como ausência, mas como uma solidão sagrada. Falta ser no ser, por isso, o ser é um ser, mesmo incomunicável de alegria, de paz. Dispersão me faz ver a vida numa distração flutuante de amor. Viver em mim é morrer. Meu coração bate a flutuar e, assim, me divido com a vida. Crescer é me transformar na vida que sonho. Mas não sei como sonhar com a vida. A vida tem sonhos não sonháveis. Mas ela acredita na falta de sonhos, que a falta de sonhos a faz feliz. Morrer é uma alegria sem realidade. Morrer é não me enclausurar no que sou, é não depender da vida para ser feliz. É ser o que a vida desejar que eu seja, serei, sou, mesmo depois de morta. Enclausurar o amanhecer no céu, me liberta de mim, numa morte que é apenas anoitecer.

A falta de amor do amor

A falta de amor do amor me faz viver! Vivo tão bem, não sinto falta do amor, sinto minha presença na falta de amor. A falta de amor é minha presença. Resta um pedaço de mim no nada.

A eternidade variando com o tempo

A escassez do tempo é a eternidade variando o tempo sem metade de mim. Metade de mim é tempo, metade ausência. O que me resta? Plenitude, uma eternidade feliz? E onde ficam minhas tristezas? No fim de nós que não existe? Nós, é apenas eu. Não sei sofrer, por isso escrevo para compensar a falta de tristezas. Minhas tristezas são nada comparadas à tua ausência em mim. A ausência é pior que ser triste. O começo da tristeza é uma mistura de náusea, com excitação e infinitude. Quero ser infinita não para a vida, para o amor. Esqueço a infinitude para ser amada mais do que a vida, do que o universo. Nada me surpreende. Quero o sacudir da natureza em mim. Não há natureza em ser. O vento carrega os medos, torna-os imensidão. A imensidão não é o infinito. A eternidade é o começo de mim. Não tem alma para a alma. Sorrir de solidão, escapar do nada como quem escapa da morte. Nada há na plenitude, por isso ela não é vazia.

Realismo inatingível

O que existe dentro de mim não existe no concreto. Isso torna o realismo inatingível, como se ele fizesse parte da minha subjetividade. A alma é o concreto, o ser, é a subjetividade. O ser e o nada equilibram o objetivo e o subjetivo para que tudo não seja apenas objetivo. A lembrança é apenas subjetiva. É o que senti sem conviver com o que sinto. Tem almas que veem a vida como se veem. Não dá para sonhar com a morte, se a amo. A alma é indestrutível. O sufocar da morte é a ausência do nada. A razão não é eterna, a morte da razão é eterna na morte. O olhar é o brilho da alma. Dedicação é morrer. O silêncio é o fim de morrer. Palavras são mortes que se criam da morte. Sonhar me faz morrer. Tem almas que retornam ao nada, como se nunca tivesse saído dele. Ser feliz é inocente, irreal, como se não houvesse sombra na minha ausência. Ausência é eternidade. Ausências são o significado de todas as palavras. As palavras são presença na fala. Ninguém fala sobre a fala, falam de si mesmos, é como se nada dissessem. O céu é sem lembranças, pode se tornar ao menos ausência para não cessar de existir. Cessar de existir é a ausência na lembrança. Lembranças por lembranças, prefiro a mim. A lembrança é um realismo transcendente. Se o real fosse apenas real, nada precisaria existir, nem mesmo o amor. O amor desapareceu na existência do existir e se fez existência para mim.

Transformei-me em mim mesma

Espalhar a morte para ela não desaparecer junto do sol. O nascer é um sol que não há. Eu não nasci por amor a mim. Em mim o sol é perfeito, sem cores, como o resplandecer da ausência, deixa a mansidão ser o sol, para a inquietude da alma. Não ser ter alma, por isso me entrego ao sol, numa alma de sol. O desaparecer é a ausência, falta de vida, onde o sol aparece, faz a vida nascer, nascer em mim a poesia, a vida que não tenho. Parecer-me comigo mais do que viver. Não há evidências do sol, mas há vida sem sol, não percebo a falta de sol. A vida é perfeita sem sol, engrandece a minha alma.