Blog da Liz de Sá Cavalcante

Abundância em viver

Quero viver de tudo, poupar-me é me matar, onde o vento estranha a fuga de mim para a morte, para haver vida. A abundância em viver me estanca, me estagna, parando o céu num sol exposto ao nada, ao vazio, que existia apenas no nascer da solidão do mundo, que não é a vida.

Inexistência existente

Chega de existir e a inexistência do amor? Permanece ausente da inexistência, mas não é uma existência, deixa o tempo no perdido de mim, como um universo que não se afastou de mim, nem pelo céu se afastou de mim. E eu, a espera de um depois, na mornidão da morte, onde a espera não é infinita. É infinita em mim!

A proximidade do nada

A semelhança com o nada é não afundar na profundidade de ser só. O amor é inacessível, resgata a vida, inacessivelmente, no nada, pássaro que voa no envelhecer, a rejuvenescer o céu, das entranhas de Deus, da ausência do ser. A ausência é só metade a percorrer na morte, como se tivesse o céu nos pés, vou andando no nada da eternidade, sem cansaço, apenas infinitamente só.

Vivo do meu interior

Não estou certa de estar viva. Meu interior me necessita viva. Mas a vida não é meu interior. Sinto o interior do interior em mim, sem o interior. É inabalável sofrer. As mãos leves da morte me fizeram sentir meu corpo, não a alma. A alma sentir apenas ao nascer. O corpo se levanta no céu, fazê-lo não mais transcender no céu é um ato de amor. Amor se perde em amá-lo. Contemplar o amor também é amor. Longe é como escutar o nada de perto e ver o nada sem silêncio, sem luz. A luz do nada era para ser o que perdi sem o nada, sem a vida, sem a morte: apenas escuto teu silêncio repartindo o nada com a solidão. Desaparecer é sem ausência aparecer é ausência que define o que sinto: solidão profunda de não conviver com o nada em mim. O nada pode ser uma presença sem o exterior. A ausência pode ser compartilhada com muitas pessoas. Ausência é minha intimidade comigo mesma me dar a minha ausência, me torna responsável por mim. O véu da ausência é sem sol. O amor da ausência é sem sol. A lembrança não é interior, não faz parte do mundo: a lembrança sou eu sem meu ser, é o que posso oferecer aos outros. A lembrança em mim não existe, mas tenho os outros, as lembranças dos outros. A lembrança abismal (do abismo) não me deixa morrer. Morrer é não acreditar nas lembranças, as tendo. Tenho mais que lembranças: tenho a morte, posso ainda morrer pela lembrança que não possuo.

Sombras em cores

Sombras em cores, abismo sem fundo, são a transparência do amor. As cores sem o objeto são como o ser sem alma. O objeto sem cor ainda é o objeto da cor. Cores sem pintam de céu.

Estou dentro de um abismo infinito

Estou dentro de um abismo infinito, não consigo morrer, como eu morria no mundo, na vida. A claridade do sol, é apenas uma maneira de ver, existem outras: o interior, a tristeza, a angústia, a solidão. A claridade e a escuridão são a mesma fé, amor pela vida. A claridade é superficial. Vejo pelo sentir que me resta, me sinto livre. Inspiração é trocar de alma. O cansaço da alma é o céu. Não dá para tirar a alma da alma. O amor é livre na alma. A alma é livre do amor. Quando não há estrelas, há sonhos. Corpo é morte, alma é vida. O passado é a alma nascendo para sempre, sem eu ter sido. O corpo não pode ser arrancado de mim, já perdi a alma para o meu corpo. Tudo ainda não aconteceu para a alma, aconteceu para mim. Solta no espaço vazio, não sei o que é vazio. Sei o que é morrer: colorir a vida com minha morte. Deixar o vazio da realidade da morte me encantar: é apenas um adeus, entre tanto adeus, por isso, não cabe no universo, devolvo ao ser.

Perdas são motivos para viver

O nada não é nada para a vida, por isso desafio a realidade no nada de ser. O ser não consegue ser o nada, pensa ser o nada: esse acreditar o faz viver. Divido minha morte com a morte, para haver vida, além do sol, do infinito, do amor.

A solidão do suspirar eterno

O som do nada é a compreensão da vida. A vida necessita do nada, da voz interior, que torna o som pensamento. O som é o essencial da vida, mesmo sem comunicação interior. Há silêncios sem pausas do som. O som é o intervalo de uma vida a outra. Morrer é me devolver ao mundo.

A alegria da eternidade é a alma do esquecer

Queria dar meu ser, a minha alma, para a alegria da eternidade da alma do esquecer. A eternidade está só, na minha alegria, no meu amor. A alegria desaparece, dá lugar a um tempo, parado de mim. Descreva-me no que sente, me empresto a você, não como vida, mas como oportunidade de sermos felizes, amar em paz, sem sofrer. Não tenho mais alma para sofrer. Eu amava amar, agora não sei. Sei que a poesia é permanência de mim, como um grito surdo de viver. Eu sonhava com a minha permanência, não sonho mais. Busco estrelas sem direção, expectativas, meu corpo se fez estrela, sem artifícios, cru, nu, verdadeiro, como se pudesse me fazer viver, me fez viver, me deu a vida que eu preciso. Movimento o corpo pelos movimentos da vida, pelo suspirar da vida.

Motivos

Alma é uma monotonia. A alma cessa sem o depois da alma, no depois da alma. O eterno é pouco para o amor e nada é para mim, se eu não for eterna. As almas, motivos para viver. Nada reflete a alma, apenas a morte reflete a alma, até morrer de alma. Que a morte seja boa, e a minha tristeza de morrer seja um jardim a florescer.