Blog da Liz de Sá Cavalcante

Partindo de mim para o meu ser

Por mim, parti para o meu ser, não vou voltar. Não vou esmorecer na alma. Mas não vou passar por cima da alma. O que a alma questiona é inquestionável: o ser! O ser, rocha que se desfaz em alma. É preciso acreditar no meu ser para em mim existir. Não acredito que estou viva, que vou viver um dia. Sei apenas que de mim meu ser partiu como um sonho.

Aspirações (sonhos para realizar)

Não tenho sonhos, tenho realizações. Realizar-me não é um sonho, sou eu para mim, onde não existe sonhos, fugas, ausências, mas também não existe nós. Nós é o cuidado do nada com a vida. O infinito é a demora do amor. Sonhos para realizar sem viver: não depende de mim, não depende dos meus sonhos, depende do destino do meu não eu.

Necessidade

A necessidade de lembrar me fez esquecer a vida. A vida não é necessidade minha, e sim de Deus. Eu posso criar apenas poesias. A necessidade de morrer não vem de Deus, vem de mim. Deus necessita do sol como a lua necessita da noite. Tudo precisa de algo para viver, para não ser esquecida(o), me despedaço para ter a vida perto de mim. Aos pedaços, a vida não aceitou os meus pedaços. Pedaços são como o nascer do sol, no esplendor da ausência como sendo saudade. Não determino o sol no nascer do dia. O sol é o infinito prazer de existir em mim, como se visse o sol.

Renúncia do céu

O amor renuncia ao céu, as estrelas querem apenas amar. Olhar apagando o céu em cores infinitas. Sem renúncia não há céu, há o vazio de mim. O céu do olhar é o vazio do pensar. O céu do olhar é minha eternidade. O céu, o meu fim. Fim, onde não necessito de mim, quero apenas chorar o fim, como se eu o alcançasse. Como se eu pudesse senti-lo. Tento sentir o fim no começo de mim, na minha morte: sinto apenas a ausência do vazio como um abraço em espumas ao vento.

Mesmo morto, o infinito ainda é infinito

Esqueço a dor com a dor. O silêncio é a dor da alma. A vida não pode esperar pelo silêncio, pela dor que devora o silêncio com a vida. Vida, não pode ser o meu silêncio? Divida o silêncio comigo como divide com o sol, com as árvores, com a eternidade. O infinito morre na minha esperança, com a morte da esperança, nasci na perda da minha esperança, me fez ter fé em mim, como se eu fosse a poesia de um pássaro no céu, mas nunca serei poesia de eternidade. A poesia é o nada do meu amor. Tudo surge em mim por amor, até mesmo o esquecimento é o meu amor pela vida. Amo-a esquecendo-a. A vida enaltece a alma sem lembrar dela. O tempo ama por lembrar. Lembro de mim, ficando num tempo apenas meu. O que é melhor esquecer? O tempo, o ficar, ou sou eu teu esquecer? Quem é você que fez de mim o meu esquecer, que nunca será o teu esquecer? O sol é carente de ver, ele não sabe que é luz. Iluminar não é viver. Vivo o que não foi perdido em mim como perda. Como perdi a mim, se consigo não te sentir? Sentir é o sim da alma. A utilidade de amar é sentir o vento. O vento não escapa do meu amor.

Imprevisível

Sofrer enquanto posso. Compreendo minha dor ao sofrer. A inexatidão de sentir é o amor. A certeza do dizer é a ausência do ser. O ser fala na minha ausência para o meu eu. A fala é a exatidão do nada. A imprevisibilidade da fala, me faz compreender a vida. Preocupo-me com a vida do silêncio, como se fosse um ser, como se fosse a minha vida. A vida não é consciência do corpo, é consciência de transcendência, de alma. Ressuscito a transcendência sem corpo em mim. A transcendência se torna o corpo da alma. Não há alma para morrer.

Subentendido (que não foram expressas as intenções)

O diferente da alma é a alma. O que é verdade para o amor? Sofrer calada? A segurança do ser é morrer. Não há morte no pensar, por isso, não sou o que penso, sou no morrer este contentamento de nada ter sido nunca. Nunca mais não serei através de ti. Não sou através de mim. A realidade é a falta do ser, de nós. Consciência é solidão a desbravar o nada, torná-lo íntimo da sua indiferença, é desconhecer um abraço para ficar no vazio sem céu. O céu das minhas mãos são a poesia. A poesia é um tocar sem mãos. Nada posso ser para a poesia, então sou para mim o que devia ser para a poesia. Não consigo ser poesia na solidão. Nada é talvez, o talvez é a morte do hoje no amanhã. Essa é a sensatez do sol: esperar pela vida e pela morte. O amanhecer não é a vida que sonhei para mim. A vida é mais do que amanhecer.

Resíduo da alma (o que resta)

Tem algo dentro da alma, que não permanece na alma, e sim no ser. O ser é a permanência de tudo, menos de si mesmo. O resíduo da alma é a alma. A alma é feliz, sem nada lhe restar. Alma, vieste a um mundo sem alma. Alma não é um olhar, um amor. Alma é o que foi perdido, antes mesmo de existir, pois necessito perdê-la, mesmo sem ela existir.

A falta que me faz viver

Sem o ser, o ser quando morre encontra seu passado, como se visse um estranho. O pensamento sem o ser é a vida. O ser é mais essencial que a vida. A falta da ausência é a falta do céu, a explorar a alma, e tocá-la com o sangue do céu. Um céu de sangue a surgir do amor: um amor sem céu. Amar para viver, para o sol nascer desse meu imenso, supremo amor. O amor não tem alma. A alma tem amor. O silêncio abraça a alma, minha alma me vê, ninguém mais me vê. A alma se desfaz em lágrimas de amor, salva a vida, se sacrificando pela vida. Sem a vida, não há razão para existir alma. A alma é apenas um momento entre tantos momentos de vida. Não perco a alma entre tantos momentos, a perdi para a vida.

Corpo de cristal

Corpo de cristal, mais verdadeiro que o corpo da vida. O amor é o limite do ser, mas não é o limite da alma. Agir sem alma é descobrir a vida sem a vida. A alma é forte na morte, frágil na vida. A fragilidade da alma é minha vida. Almas de cristal na vida do corpo. O que acontecer com a morte não vai acontecer comigo. Mesmo assim, vou morrer um dia, mas estarei unida a mim para morrer. O corpo não vive como eu. O que pode ser morrer para a vida? Apenas um pouco mais de tempo no céu? O tempo é a morte. Morte que se vê no sol sem o tempo. Não é mais a morte do tempo, é a morte do ser, no sol de cada dia. Cada dia um sol novo, revigorado dentro de mim. Meu olhar entrego ao sol, mergulhado em mim.