Blog da Liz de Sá Cavalcante

Abreviar a vida

Não vivo o tempo, vivo sua falta. A vida é a falta do tempo. A falta do tempo no tempo, é o meu sentir. Sorrir é o sonho do tempo, mesmo sendo um sorrir sem alegria. Vou sonhar com o que vivo: a falta do tempo, que me preenche mais que o tempo. O fim é o inesquecível da vida. Esqueço a vida com a vida. Encantar-me com o nada é nunca sonhar. Ninguém tem a presença de um sonho. Sonhar é de verdade. Inspiro-me em sonhos nunca imaginados. O tempo foi um erro da vida. Existe tempo sem seu erro, que é a vida? Vida e tempo, dois erros que se completam. Flores expandem o céu. O céu se encolhe de flores. A vida são flores invisíveis, como um olhar que é vida. A vida escolheu o tempo em vez de mim. Meu único tempo é sem vida, é amor, é a escrita. A escrita não capta a vida, é melhor assim, alheia, isenta de tudo, como se eu não fosse minha escrita, meu ar. Minha presença na escrita é o sol. Nascer comigo é o fim de escrever. O céu se torna sol. Como reclamar do que me falta se o que tenho me falta? O tempo não volta, mas eu volto no tempo. E assim tudo continuou sem nunca ser.

Suportar a vida na morte

Preocupo-me com o sol a se pôr na morte. Duas solidões incompatíveis: a da vida e a da morte. Semear a vida na morte cessa a solidão. É natural eu querer a solidão: revivo quem sou pela solidão. Penso apenas na solidão das minhas entranhas, onde morre a poesia. A poesia morre no voar de um pássaro. Morre na minha liberdade. Antes que descubra que estou viva, vou morrer.

Paciência

A vida acontece, sem acontecer na paciência infinita de Deus. O amor é sem alma, por isso, adormeço. A morte nasce, sendo uma morte que ela não é a morte, é existir para mim. Existir é minha decepção com a morte. Tudo morre na minha decepção, não na morte, que rejeita minha decepção. Não vou sonhar por morrer. Para me render aos sonhos, preciso de vida: uma vida sem consciência é vida. Transcende a vontade de morrer. Escrever é um abismo que depende do tempo, do amor para existir. Existir deforma a vida em sua existência, que é sua morte. No existir, não há dúvidas de morrer. Morrer na seda, de tempos difíceis para morrer. O tempo deveria contribuir com a morte para os meus dias serem iluminados, sem alegrias.

Tempos difíceis

A morte não me define, define o ser perto de mim. Não vou me misturar com o meu ser, que é morte, quero me separar do que eu sou, se o que sou é apenas ser, e apenas morte. Morte que carrego em mim, para ela não nascer, está encubada em mim, não durará para sempre: será minha liberdade. Não posso viver a morte, posso amá-la.

Orgulho-me do amor sem amor

A coragem é uma forma de ter medo. Saí de mim rumo à morte, vi que o meu ser, o amor que sinto, é inessencial. Morri de uma vez, em êxtase. Vesti-me de morte para morrer. A morte é apenas o começo de mim, o fim da morte é o fim do amor, onde a vida enternece de sol para o sol nascer na morte. Quem verá o sol? A tristeza inexistente se verá no sol como se pudesse ser feliz como a morte. Tudo é uma realidade morta, na sombra da morte, no teu adeus. Esse adeus deu vida à realidade de morrer. Não estou só na morte, ainda tenho o seu adeus.

Suportar a vida na morte

Preocupo-me com o sol a se pôr na morte. Duas solidões incompatíveis: a da vida e a da morte. Semear a vida na morte, cessa a solidão. É natural eu querer a solidão: revivo quem sou pela solidão. Penso apenas na solidão das minhas entranhas, onde morre a poesia. A poesia morre no voar de um pássaro. Morre na minha liberdade. Antes que descubra que estou viva, vou morrer.

O céu à espera do céu

Fui boa para a morte. A morte não foi boa para mim. Não tenho as condições emocionais para esperar o céu à espera do céu. Tudo que sou me faz viver. Continuo a esperar a morte como um momento que foi recuperado sem eu morrer. Morrer enobrece a alma, que eu pensava não ter, mas tenho. Tenho na minha morte.

Desabando-me no nada

O corpo torna a alma vazia. A alma vazia é como se não existisse a morte e o céu, apenas um momento de luz, que se irradia, irradiando alma na alma. Que a alma se escute na minha solidão de uma poesia. O tempo é uma paisagem que não se encontra na alma. Tudo na alma é falta de uma paisagem. Ver a alma é ver o nada sem solidão. Minha alma é como ser eu. Eu, para a alma. Escutar é ausência de mim no nada. Em vez de me escutar, sou ausente de mim, sem as tuas lágrimas. Luz de respirar em vazios, pois o que amo permanece no vazio. A vida é incerteza de viver, como um último raio de sol, a acariciar a escuridão. Necessito morrer apenas por dentro de mim. A alma não quer que eu sinta o seu fim, que eu seja a sua presença em mim. Quando sofro, sonho sofrer foi o sonho mais lindo que tive: foi como me ver no sonho, na realidade, foi como sempre me ver. Ver é o espírito sem alma. Perco a alma, mas não perco o nada. Não posso criar a mim, criei o nada. O espírito renasce no nada. Pelo nada ainda posso amar.

Agir

Agindo, não vivo. A vida, esperança perdidas sem agir, ou agindo é a mesma esperança na morte. A liberdade é como deixar meu ar na superfície do nada, respirando a superfície para não cair em profundidade. A beleza desaparece por ser bela. Porque tudo na vida, parece ser triste, feio? Por isso, é poesia, é essencial à vida. Vou tomar a alma do meu corpo, torná-la poesias. Se eu me curar da alma, vou reagir vivendo. Vou deixar o corpo agir por mim, para descobrir o amor, a vida.

Como tratar a alma na consciência?

O desespero é onde existe vida no sol a nascer. Deixa o sol nascer, que minha alma está quieta, em uma consciência infinita.