Blog da Liz de Sá Cavalcante

Crueldade em morrer

Amizade são duas pessoas viverem a mesma solidão, solidão triste, mas, entre duas pessoas, há alegria para viver. Amar é fácil, difícil, traumatizante é conviver com o amor, com a sensação de perder algo precioso, incontornável. Onde termina o céu começam as estrelas. A estrela é o indefinido dos meus olhos, que se deitam no céu.

Perder o amor

Perder os espaços vazios é morrer. Salvo minha pele com a morte. Minha pele se transforma em mim. Cada vida uma história, um amor, não é diferente de existir. Viver é não precisar o céu ser azul. Os pássaros se perdem no azul do céu. Não sei se é o céu que voa até os pássaros ou os pássaros que vão até o céu.

O tempo da alma e o tempo da vida

O tempo da alma é o ser. O tempo da vida é a insegurança do tempo da alma. A falta do tempo é compreensão. Fazer do tempo alma é o meu fim, fim do amor. Quando o amor acabar, ficarei completamente em mim, no que me faz amar: a solidão. Ser só é um abraço eterno. A eternidade não tem a eternidade do meu abraço. A pele da eternidade em espasmos de vida. Proteger-me não é um espasmo, é um adeus. O sonho fortalece a vida. Quem existe no meu adeus? Meu adeus não é o teu adeus. O mundo existe para o adeus. O adeus do mundo é a percepção. Perceber é sem adeus, sem percepção. A vida se percebe em mim. Sou apenas o espelho da vida. Quando a vida se vê em mim, não se percebe em mim. Nada existe sem perceber a percepção. O existir é além do perceber. Perceber não é viver. Viver não e estar viva. Vivo sem a vida. Posso sair de mim sem a morte. A morte não me deixa sair de mim. O tempo me faz não gostar da vida, da morte, e amar o tempo, por ele ter partido. E, assim, o tempo permanece dividido, entre partir amando ou ficar.

A vida não é do ser

A vida não é do ser, é da alma. Derramando-me em vidas infinitas, descubro a saudade de ser. A inexistência nasce da existência, como um último sol, a se encantar com nuvens. Não dá para viver a ausência, é um desabafo da alma. Tive muitas almas, a única que amo é a alma da minha ausência. O nada desaparece para ser minha presença. A vida é mais que presença: a vida é o nada como ele é: sem presença. Nada satisfaz a realidade. Nada pode ser o que será. Será é sem o ser. O ser é o sentimento do mundo. Sofro o insofrível, como se nunca tivesse sofrido antes. A ideia de sofrer é a dor de sofrer. Sofrer em paz é morrer viva. A fé, sem o ser, é a vida.

Desfolhando-me em amor

A paz suspende o único sorrir da vida. É impossível dormir em mim, a alma se foi em um sonho de alma. Meu corpo, ao boiar na morte, salvou sua vida. Salvar são as duas metades da morte, na minha inteireza. Sinto a morte que não está em mim, me abraço à morte fictícia, mas ela não é morrer de verdade. Seu abraço de mentira me acalenta, me faz viver. Abraços de verdade me fazem ser eterna.

Essência do olhar

A essência é o olhar atravessado na alma. Nada vim fazer na alma. Plantei vidas com amor. A essência é o meu ventre de poesias. A essência do olhar: batalha sem trégua, mais querida que o próprio olhar. A essência é a certeza de ver o invencível e amá-lo. O amor se perdeu em ver: e, assim, descobre o infinito. O olhar se faz ver sem o meu fim.

Poesia do vento

O vazio precisa penetrar na alma para existir a respiração, penetra no vento, adere à realidade. Respirar não é um sonho. Um sopro de luz, no sonho, me faz parar de respirar, amortece a minha poesia, de respirar o nada, a favor do vento, uma poesia. O vento na minha voz tem o paladar de sonhos, escuta de amor. Nada funciona na alma, nem o amor. A alma inutilizada é um enfeite, uma decoração. Tudo continua lindo, sem a alma. A sucessão da morte retém o ser em si. Reter a consciência na morte sem o ser. Nada contém o ser no ser, por isso, o ser, são boas lembranças. Costuro-me em poesias de vento.

Pedaços de água

Pedaços de água nos meus pedaços, onde não posso me dissolver em mim. Apenas em pedaços de água, posso reviver o momento que perdi. Perdi como se tivesse ar de estrelas, pairando no céu. Mas é apenas o abandono de mim, se fazendo sol no sol. Meus pedaços de água, derretem o sol, para a vida aparecer, e saber qual é cada estrela. Cada estrela é um universo, onde posso sonhar sem poesia.

Pesando-me em flor

Pesando-me em flor sem matar-me por dentro de mim. O espelho do nada é a esperança da minha imagem. Imagem sem céu, puro olhar. Pesando-me em flor, meu olhar se eterniza. A realidade não é eterna, a realidade do olhar é eterna: é como nunca ter alegria, por ter eternidade: plenitude sem alegrias. Escrevo a eternidade inexistente em mim. O sonho é eternidade da alma. Pesando-me em flor, a alma nada precisa significar para mim. Precisa apenas sonhar meus sonhos. Nada se perde em flor: a saudade, o amor, a solidão de amar, não se perdem em flor. A suavidade do esquecer é uma flor sem ser em flor. Me esqueci da vida, no amor.

Criar

A vida não necessita de lembranças. Vou criando lembranças. A única lembrança que a vida tem é a de viver. A lembrança passa a ser realidade. Não há mais o que sonhar, sentir, tudo são apenas lembranças. O tempo não são horas, são minhas lembranças do tempo. O tempo reduz a realidade ao tempo. Pelo viver, a realidade diminui. O criar se expande na vida. Há muito o que criar na vida para ela viver. Criar é uma poesia que se transforma no olhar em ver, me vendo. Criei para mim o meu eu. Criar é ausência infinita de mim. Quero apenas essa ausência, criar, a vida é consequência, se não der para viver, vou criar ainda mais e melhor. Faço da perfeição da poesia a vida que não possuo. Enfim, não estou mais sozinha.