A vida tenta ser eu. Não consegue. Tudo se foi pela vida existir. O começar é o que a vida nunca terá. Esse começar é a falta de ser. Não necessito ser, mas a falta é essencial para mim. A falta me faz criar meu ser em mim. A essência é a falta querendo ser mais falta que a própria falta. O céu é a falta de Deus. O olhar é o céu sem o céu. O vazio do céu é a vida plena, perfeita. Tudo admiro, amo no vazio. O suplício do amor reveste meu corpo de vida. O céu se cobre com meu corpo, pra se sentir humano. O céu me torna humana sem ser humano. O vazio é humano, a tristeza, o infinito não são humanos. O amor não é humano, é divino. Reagir ao infinito não me faz viver. A vida não consegue se despedir do infinito: por isso existe sol. O sol substitui o infinito. O céu das lágrimas é o fim do sofrer. Sem sofrer, a eternidade das lágrimas pertence ao sofrer. Apenas a vida transforma a eternidade em várias eternidades. O que termina na vida não é a vida, é a eternidade. A vida continua sem a eternidade. A vida é mais do que eternidade, ela é real. A liberdade da vida, é o seu coma. A liberdade não é a vida. Se a poesia está bem, fico bem também. A permanência é uma voz que não se escuta no interior de mim. O interior é surdo, vê no escutar, é o nada. O nada, escuto na alma. Os sons se perdem ao escutar o nada. Escutar não me importa, importa para mim é o nada.
Suplício em viver |