A morte é perfeita por não ceder a realidade do ser. É o que sou para a morte: a sua perfeição. Comunicar com a alma é o resto de mim que não foi perdido. A morte não cessa a alegria. Tudo é natural na morte, não na vida. A permanência contribui com a morte. Apenas Deus permanece o que é. Chorar para a vida não existir é nunca permanecer nem mesmo na tristeza. A morte é terminar o que comecei, sem precisar de mim para nada. A perfeição é o amor que eu sinto, que ninguém mais sente. Sentir é uma pausa no viver. A morte não adere ao meu amor. Meu amor é insignificante para a morte. Mas ao tocar a morte, algo morre dentro de mim. Esfria a morte total, agora é que a morte não acredita em mim, no meu amor. Como pode ser a morte perfeita, se não acredita no meu amor? Seu amor é tão imenso que a morte pode duvidar do meu amor. O que sou para a morte, a sua má-fé? A morte é puro espírito. Pela morte, não me abandonei. Ninguém é ninguém. Por isso, podemos morrer: nunca seremos alguém. Podemos, então, morrer desconhecidos pelo que somos. Adotei a vida, a minha morte vai cuidar dela. Vai cuidar como uma mãe. Morte é minha essência. E a essência é a minha ansiedade. A morte é universal, de todos, somos todos nós. Por isso um ser nunca chega ao outro ser. Por isso não sou só, mas necessito imaginar ser. Por dentro, sou nada.