Blog da Liz de Sá Cavalcante

Questionamento

O ser existe antes ou depois de ser? Por isso, o ser nunca é? Começar uma poesia é eternidade. O fim da poesia é o fim de tudo. Não me sinto alma sem poesia. Nada ficou entre mim e a poesia. Nós nos devoramos. Não sei como escrevo no sentir absoluto. O fim não é usado apenas como fim: a morte é poesia. A última poesia é a primeira da minha vida. Entre tantas poesias, nenhuma foi a primeira. O céu engana a poesia: diz ser a poesia eterna: não é. A poesia é o tempo de um abraço. O que diz a poesia sem poesia? Torna o céu material da matéria. Corpo é matéria. O sonho sai de dentro do corpo, não de mim. O céu dai de dentro do céu e se torna a liberdade de Deus. O nada faz morrer. Morrer no nada é o significado da morte sem o nada. Defendi a morte, me fiz vulnerável, como uma gota de água no oceano, raso de força, coragem, mesmo assim sou vulnerável, seca por dentro. Antes do ser, a vida era poesia. O ser escreve por não ser poesia. Poesia não precisa ser escrita, perde o valor, ela tem que ficar na alma, como restos de nós. A vida não pode esperar que a poesia se realize. Sou mais do que poesia: eu sou eu. Nada fiz da poesia. A poesia é feliz no nada que emociona. Tudo tem um motivo para existir, menos a poesia. A mudança da poesia para o ser é a alma. O desaparecer não é ser, não é morrer: é poesia. O tempo tem tanto a dizer, se cala como uma poesia de amor. A morte transcende em mim. A morte não é mais poesia: é a minha frieza por mim mesma. O que se vê do céu é o nada. Olhar o céu é morrer. Compartilhar a morte com o céu é vazio. Não me fiz eu para mim. Sou o outro em mim. O vazio domina a morte. Sentir é morrer por mim. Nada se torna morte. Ser minha alma e ser eu é me dividir entre mim e o mundo. Morrer é inocência da alma, em que o ser é contra a alma. Nada na alma é consciência. Mas não é inconsciência, é apenas inconsciente, como o florescer da alma em mim. Não existe nascer em nós, por nós. O abandono da alma não consegue nascer em mim.

Acabei com a vida com tanto amor

Acabei com a vida, com tanto amor, amor que deveria dar à morte que me criou. Amando a vida, sou uma coisa incriada. Minha alma é incriada, mas cria a morte. Sou uma coisa na criação de mim. Sou uma coisa incriada. Conheço o amor apenas pelo imaginário. Minha solidão não é triste, me acostumei a ela. Solidão é costurar meus remendos. A face busca o rosto no respirar. O rosto respira melhor do que eu.

Sensação no vazio de ser

O vazio de ser me faz ter a sensação de vida. É onde fui triste. Nada afasta a sensação de sentir. Quero apenas a sensação de sentir, como se eu estivesse viva. Estou viva nessa sensação. Me acostumo com a perda de sensação, é como sentir a brisa da morte lá fora. Estar escancarada, no ar que apenas respinga em mim, como o mar. Sonhos de mar me afogam. Afogar-me é me ter. Com o tempo, viver será comum. O túmulo da fala em flores de silêncio. O céu vive distante da vida. A vida sobrevive à dor. Chorar traz de volta o eu em mim. Não tenho a mim, mas tenho o nada. É como se tivesse a mim. A presença do não existir é eternidade na vida. Para o nada me captar, tenho que ser o nada. Não dá para ficar sempre no nada de mim. O nada não é importante para o nada: ele é essencial para mim. O nada é a gentileza da alma. Penso no nada sem voltar a mim. Percebo que sempre sou eu, não existe não eu. A realidade de não existir é a alma. Reconheço a lógica da ausência no amor. A consciência nunca foi vazia, necessita do vazio, como eu necessito de luz, de poesia. O olhar chora por mim. O tempo são cinzas sem Deus. O nada são as cinzas de Deus no renascer do adeus solitário. O ser não é só, pois existe adeus. O adeus é só dentro do ser. O adeus no adeus não é só. Nada existe sem adeus. O adeus é sempre. O nada acrescenta o adeus. O último adeus é meu ser de verdade em mim. O nada, almas que transcendem. O ser não tem alma. Ser é aparência do nada. Nada vê minha aparência, por ser aparência do possível no impossível sem ar. O ar se constrói sem o nada, no ar do nada, prefere ser do que viver. A consciência da imagem é o nada eterno. Tanta imagem e nenhum ser. O ser não é a sua imagem. A imagem é o esquecer sem o nada. No esquecer vejo a vida, não como nada. A vida é a origem do nada. A aflição do nada é um nada isento dele mesmo, noutro nada. O carisma e o amor do nada é meu contato com o mundo. O eterno se desfez num único nada. Vários nadas são o fim do nada. Alegria é o pertencer do nada sem mim. Nada tem mais valor que o nada. O nada morto é como Deus morrer de novo pela vida. Amor é regredir ao infinito. O infinito é o ar como concreto. Ar é sentimento, pode se tornar amor. Amor, sem ar, não é amor. A vida é apenas ar. Ar que prejudica respirar. A existência do ar é feita de vento. A existência do nada não é o nada: são minhas poesias me abraçando. Poesia é respirar sem respirar. O nada é a fala em respirar. Falar sem respirar é a angústia do nada, como minha dor. Dor que refaz a vida. Dependo da dor para viver. Na alma, o ser não existe. A indefinição é vida, ar, cor, alegria. Por isso, a alma não se define. A inexistência está tão longe, que a sinto mais íntima em mim do que eu mesma, do que a vida. Mas não há intimidade maior do que ver o que não existe: é morrer em ver o que existe. A inexistência é possível por existir amor. Inexistência não é morrer, é dar vida a uma estrela sem céu.

Perseverança

A perseverança é o sol do universo em palavras. O amor se desespera por aflição. O nada é o desespero infinito sem morte. O céu tem fim. O ser na morte é abstinência do nada. A morte é o único adeus interior. A alma, fala interior, muda como um espelho. O espelho fala mais que a alma: fala por imagens. O som é a imagem de Deus. Me consolar é morrer. A imagem condena o ser a sua imagem. O ser é separado da sua substância por um nada, que é o nada em Deus, que é Deus em sua imensidão. Deus se apaga em sua imensidão, por um pouco de vida. Vida, que Deus sabe que é necessária apenas para o fim do meu ser. Então por que sonho tanto com a vida? Não a alcanço, se eu a alcançasse, ela perderia seu significar. O mundo é o ver sem Deus. O silêncio de Deus é o ser Sem o ser, a fala de Deus é o universo. O universo é o silêncio abandonado sem solidão. Solidão é não ver Deus e me ver. Ver é o fim do silêncio. Não existe fim nem começo nas palavras: existe apenas eu! Nada te fará lembrar de mim, nem a vida, mas lembro de ti, minha tristeza, sem chorar. Deixo o nada a sangrar de amor pelo nada, como um único raio de sol a captar a imagem do meu amor, foi como se todo o sol estivesse em mim. A paz da água, do amor a deslizar no sol, num único amor. Me fascino com o desamor da vida, é quando a vida se acalma no meu colo e recita minhas poesias, que é todo seu pensar, sua força. Seu adeus. O seu adeus é o meu infinito. Meu interior é o adeus da vida, para que eu sonhe tanto e me confunda com meus sonhos. Faço do adeus da vida meu adeus. Percebo uma alegria que nunca senti antes: de morrer no meu adeus sem esse sempre de mim vazio. Eu morri, não deixei de ser eu.

O ser que não aparece é o aparecer

Refiz o nada na minha alma para não sofrer. Se a vida me separar de mim, estou comigo mais do que sempre. O sempre age no amor. Não há nada que eu queira mais do que a presença do nada em mim. Me escondo onde apareço. Aparecer é apenas uma sensação de morrer. Nada surge no aparecer. Por isso, não há solidão, há morte.

Pele é solidão

A pele faz da solidão um corpo sem o ser sem mim. Minha pele respira solidão. Não há pele no outro, nem em mim. Nós nos abraçamos sem pele, com o cheiro do nada em nós. Nada adere a pele, nem mesmo a morte. A descontinuidade é a continuidade do nada, onde o amanhecer se desfaz em eternidades. Pele é solidão até surgir o amanhecer, como pele universal. Ser uma pessoa é negar quem sou. Sou mais que uma pessoa: sou o que é feito de ser. O ser é mais essencial que ser uma pessoa. No ser se pode transcender, a pessoa não pode. Costurei a vida na pele. Sem pele: de todas as maneiras que há de amar. Sobressair a pele é morrer. Nada vai além da pele. Espírito é pele. Alma é pele. Minha pele é Deus, não a minha alma.

Improvável

Quem é que nunca escutou a solidão na sombra do silêncio? Melhor escutar a morte. A incerteza é o porvir. A alma altera a morte. Me desapego da alma, sendo eu, em não renovar a vida. A mesmice é a verdadeira vida, o fim do tédio é onde minha pele se encontra em mim, não no meu corpo, que é alma. Nasci de mim. Almas colidem no amor. Tudo pertence a alma, não é um despertencimento. Despertencimento é amar a alma. Enfrento a velhice e a morte com amor o que ficou da juventude não foi memórias, foi aprendizado. Na maturidade tenho todas as memórias, me desprendendo delas, tenho a memória absoluta: a de Deus.

Fragilidade essencial

Afasto meu corpo da alma numa união eterna com Deus. Tenho a imagem da morte em mim, posso morrer: me sinto eterna.

Naufrágio de mim

Elevar a solidão a uma morte objetiva, sem a concretude de morrer na minha alma viva. Faço-me o amor da alma. Na morte, a alma não é livre. Minha pele é minha morte, por isso não está impregnada em mim. O ser não vai encontrar legitimidade na vida, nem em si, vai encontrar no nada da consciência. A alma se adivinha. O fim da alma sou eu. A alma é a consciência viva. Apenas a consciência vive. Estamos todos mortos, na vida ou na morte. Vou desestabilizar a alma de sua onipotência. O sonho é a onipotência de Deus. Para algo existir, tenho que morrer num universo sem morte. Sendo eu um abismo, não posso ser morte. Morrer é não dizer adeus ao meu adeus interior. É manter vivo meu adeus. O adeus do meu corpo não sente meu adeus interior, por isso sou apenas ausência de uma morte, que se chama vida. Correndo em busca do meu amor, me aproximo da vida e meu adeus a mim tornou-se vida, amor. Nada no amor se faz amar, mas o amor em mim se faz amar, acima do céu do infinito do meu ser. Meu adeus é infinito, pois meu amor é infinito. A vida me deixa só com meu amor, fiz do meu amor a minha vida, onde sempre é sol. O sol é a luz do infinito. Me banho de infinito. Mesmo sem a realidade da vida, algo inexistente existe em mim. É mais do que a existência. Existimos apenas uma para a outra. Nada me fez viver tanto que a inexistência das coisas pessoas: elas existem no sempre da imaginação, onde não há o que esperar sofro nessa plenitude onde sou intocável de tanto amor, por isso, mesmo que não me abrace, me sinta.

O esquecer é a razão de tudo

A origem do nada é perceber sem ver. A origem do tudo é ver sem perceber. Ressecar a água da vida é dizer sim à vida. O ver é exterior a mim. Nada há entre o ser e o ser. O silêncio de morrer é a palavra, é o ser como universo. O ser é um fantasma solitário. Vagueia nos pensamentos a esmo. O pensar sofre de realidade. Ninguém é ninguém. Esse é o sofrimento de todo ser: ser alguém. E esse alguém é e não sou eu. Queria ser concreta como o sentir. O sentir sabe quem ele é. Amor só não é amor. A solidão essencial é separar o nada da morte, ser eu em mim ao me separar da vida. A solidão são minhas almas, me incluindo nas almas, que não minhas por amor ao nada. Inspiração é a perda de alma, não há perda sem inspiração para a perda ter vida. Vidas e perdas se misturam, nasce a eternidade com realidade: o ser. O ser não se mistura com sua eternidade, como se fosse os olhos da vida, o guardião da vida. Sua defesa me torna impenetrável em viver. Viver, sem o impenetrável, não é viver. Meu olhar penetra na cor dos objetos para não perceber suas vidas. Eu me percebo nos objetos. Não sinto falta de mim nos objetos. Quero morrer, me tornar objeto. Essa é a razão de tudo.